Inverno quente adianta liquidações e ações de varejistas de moda caem
A forte frente fria que avança pelo Brasil nestes dias não vai ser suficiente para salvar o varejo de moda do fiasco de vendas que esse inverno de temperaturas acima da média provocou.
Com exceção de frentes frias esporádicas, em 2024, massas de ar seco sobre o continente dificultarão a chegada do ar polar frio. Por isso, as temperaturas ficaram alguns graus bem acima da média.
O que isso tem a ver com a Bolsa e as empresas?
As temperaturas voláteis representam um desafio para os varejistas de vestuário. Essa é a conclusão de um relatório para investidores divulgado pelo BTG esta semana. "O clima fora de época, incluindo chuvas torrenciais e ondas de calor, sempre impactou as vendas de vestuário. No entanto, com um clima cada vez mais imprevisível, estes os desafios tornaram-se mais pronunciados para os varejistas no Brasil (e no mundo), especialmente no que diz respeito às coleções de inverno com longos prazos de entrega (com um impacto significativo nas vendas trimestrais)."
Não é só o calor no Brasil que atrapalha. Temperaturas extremas e inundações podem fazer os quatro principais países asiáticos que mais produzem roupas perderem US$ 65 bilhões em receitas de exportação de vestuário. O cálculo foi feito pela Schroders, uma empresa multinacional britânica de gerenciamento de ativos em conjunto com a Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
Seis grandes varejistas de moda mundiais foram as mais atingidas, segundo o estudo. Isso porque elas importam do Bangladesh, Camboja, Paquistão e Vietnã - países que foram duramente impactados por inundações devastadoras em 2023. Isso poderia representar 5% dos lucros operacionais anuais de um desses grupos de moda. A Schroders não divulgou o nome das empresas. Mas o fato é que essa diminuição da produção na Ásia acaba encarecendo os produtos.
E no Brasil?
O BTG comparou as vendas das maiores varejistas de moda em invernos com temperatura normais com os atípicos. Entre 2010 e 2023, o banco detectou que existe uma correlação entre temperatura e vendas para a maioria dos varejistas. Quanto maiores as temperaturas no inverno, menores as vendas, mais estoques que não são desovados.
Também teve o problema das enchentes no Sul. Os impactos das tempestades devastadoras no Rio Grande do Sul em maio devem, segundo o BTG, levar "a um desempenho mais fraco no segundo trimestre para os varejistas de vestuário." Isso acontece principalmente para os que têm maior concentração de lojas na região, quanto para os que dependem de fabricantes situados no Sul do país.
As empresas mais atingidas na Bolsa brasileira são C&A (CEAB3), Riachuelo (GUAR3), Renner (LREN3) e Soma (SOMA3). Mas algumas sofrem mais que as outras, já que há as que conseguem mitigar esse fator de clima.
Confira quanto cada uma variou na Bolsa este ano:
- C&A (CEAB3) +19,28%
- Riachuelo (GUAR3) +8,21%
- Soma (SOMA3) -17,58%
- Lojas Renner (LREN3) -26,76%
- Arezzo (ARRZ3) -20,42%
Fonte: plataforma de dados Economatica, de 31 de dezembro de 2023 a 28 de junho de 2024
C&A é a que menos sofre porque ela funciona diferentemente das outras. "Enquanto a maior fonte de lucro da maior parte dessas empresas está no financeiro, ou seja, na venda pelo crediário, a C&A tem um modelo mais baseado em tecnologia e logistica", diz Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais.
O modelo da C&A é chamado de "push and pull". Ela lança produtos variados em pequenas quantidades e só aumenta a disponibilidade se houver demanda, nas lojas que tiverem mais vazão do produto.
Mesmo assim, pode haver perdas. Em encontro com analistas de mercado na terceira semana de junho, os executivos da C&A disseram que as temperaturas mais altas nos últimos três meses devem atingir os resultados do segundo trimestre (vendas e estoques). Porém, esses efeitos poderão ser mitigados por uma maior parcela de coleções mais leves, em contrapartida, com produtos de inverno mais pesados. E graças ao "push and pull".
As liquidações já estão chegando
Embora as coleções de inverno tenham estreado nas lojas em maio, as liquidações já começaram. Elas são normalmente adiantadas quando o clima não coopera com as vendas.
Isso é bom para o consumidor, mas ruim para as empresas. Estoque que não vende é dinheiro que se perde. "Estoque parado aumenta o endividamento das empresas. E fazer a liquidação diminui a margem de lucro", explica Ariane.
Outros setores também sofrem?
Sim. É o que diz Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. "Não é só o varejo de moda que é sazonal. Algumas outras várias indústrias também." Dentre elas, por exemplo, está a agroindústria.
O que fazer com as ações?
C&A tem recomendação de compra pela Genial e pela XP. O preço alvo da primeira é de R$ 15, sendo que na segunda-feira (01) estava cotada a R$ 9,36. O da XP é de R$ 12. Mas o BTG é neutro na ação. "Embora estejamos mais otimistas, permanecemos neutros e continuamos monitorando os riscos de a empresa aumentar sua plataforma de financiamento ao consumidor em um ritmo elevado no cenário de taxa de juros (e inadimplência) altos, com concorrência mais acirrada", publicou o banco.
Já Riachuelo é uma ação que é melhor não vender, nem comprar, segundo a Genial e a XP. O preço do papel na segunda (01) era de R$ 6,51.
Lojas Renner (LREN3) estava valendo no mesmo dia R$ 12,46. Para o Pagbank e o Goldman Sachs ela é uma boa compra. O GS acredita que em 12 meses o valor pode chegar a R$ 20.
Soma (SOMA3) estava valendo na mesma data R$ 6,02. É uma boa compra, segundo a XP. A corretora estipula preço alvo de R$ 11 em 12 meses. Segundo a Investing.com, de nove avaliações da ação, oito indicam compra. Em fevereiro, a empresa anunciou uma fusão com a Arezzo.
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