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Obsessão com câmbio esconde desafio à indústria brasileira, diz 'FT'

14/03/2012 07h14

A retórica do governo brasileiro sobre a chamada "guerra cambial" e as recentes medidas para tentar conter a valorização do real escondem a necessidade de se repensar a indústria nacional, segundo afirma artigo publicado nesta quarta-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.

O artigo, assinado pelo correspondente do jornal em São Paulo, Joe Leahy, afirma que as dificuldades enfrentadas pela indústria nacional com um real forte não significam necessariamente o fim do crescimento econômico, mas o aparecimento de "um novo paradigma no Brasil - de crescimento sem indústria".

"Para além da retórica da presidente Dilma Rousseff e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão as tendências estruturais de longo prazo que exigirão do Brasil fazer mais do que manipular a taxa de câmbio para garantir a sobrevivência da indústria no longo prazo", afirma o jornal.

O artigo observa que a demanda chinesa por commodities e a expectativa do aumento das exportações de petróleo com a produção do pré-sal devem manter a pressão pela valorização do real, exigindo que a indústria brasileira melhore sua competitividade para poder sobreviver.

Transição dolorosa

"O Brasil não é o primeiro país a enfrentar esses desafios. Outros países ricos em commodities, como a Austrália, tiveram que abandonar indústrias não competitivas e se mover para economias mais baseadas em serviços", afirma o FT.

O artigo observa, porém, que uma transição desse tipo será dolorosa. "Como um país em desenvolvimento e a sexta maior economia do mundo, o Brasil precisa de indústrias competitivas para dar trabalho para milhões de trabalhadores com pouca ou nenhuma qualificação", diz.

Para o jornal, a dificuldade política de uma decisão nesse sentido leva o governo a optar pelo protecionismo, principalmente no setor automotivo, no qual vem aumentando as tarifas para importações.

"Mas apesar de essa transformação ser difícil, é o que o Brasil terá que fazer. O país terá que enfrentar seus velhos demônios - um setor público inchado e pouco produtivo, baixos investimentos e poupança e sistemas de educação fracos", afirma o artigo.

"A retórica em Brasília não deveria ser tanto sobre a guerra cambial, mas sobre as guerras de produtividade. Somente por meio de uma melhor eficiência que o Brasil poderá realizar seu sonho de ser uma potência industrial", conclui o jornal.