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Instabilidade em emergentes será longa, mas analistas afastam chance de crise

06/02/2014 06h57

A intensa volatilidade que se instalou nos mercados emergentes nas últimas semanas dificilmente deve evoluir para uma forte crise capaz de causar nova recessão global, mas a instabilidade não será passageira, afirmam analistas.

A recente fuga de capitais das economias emergentes vem sendo comparada à crise cambial do final dos anos 90, que atingiu o leste asiático, Rússia e Brasil, entre outros, mas economistas observam que hoje esses países estão mais bem preparados para sobreviver à turbulência.

A diferença primordial é que atualmente o câmbio desses países é flutuante, cabendo aos bancos centrais suavizar as mudanças de cotação das suas moedas em vez de defender a todo custo um patamar fixo, observa Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central (BC).

Isso permite movimentos de ajuste mais suaves do que a brusca desvalorização das moedas no final dos anos 90, quando as autoridades monetárias não conseguiram mais manter o câmbio fixo, diante da forte saída de recursos de seus países. Além disso, destaca o economista, hoje esses países possuem elevadas reservas internacionais e endividamento externo menor.

"Há um pouco de exagero (na reação dos mercados), mas isso sempre ocorre. Primeiro, é um 'barata voa', pois ninguém sabe onde vai parar. Mas alguns países não vão conseguir voltar (da instabilidade)".

Fragilidades

Schwartsman observa que outras fragilidades dessas economias têm alimentado a desconfiança dos investidores e provocado a recente saída de recursos. São problemas como inflação elevada e crescente déficit externo (saldo negativo na troca de bens, serviços e rendas com outros países) que vêm afetando países como Argentina, Índia, Indonésia, África do Sul, Brasil e Turquia.

Esses problemas não surgiram de uma hora para outra, mas acabam ficando "maiores" num contexto de desaceleração da China e redução dos estímulos econômicos nos EUA, devido à recuperação da economia americana. Com menos dinheiro sendo injetado no mundo pelo Fed (o banco central americano) e a perspectiva de elevação dos juros na maior economia do planeta, sobram menos recursos para os emergentes.

O diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, observa que há um processo de "reprecificação" na economia global: com a mudança da política monetária nos Estados Unidos e o consequente aumento do fluxo de recursos para lá, as taxas de câmbio dos emergentes se desvalorizam e as taxas de juros precisam ser elevadas para mitigar esse processo.

"Sempre que houver reprecificação, haverá volatilidade. O cenário econômico não mudou nas últimas 24 horas, mas uma junção de fatores uma hora aumenta a percepção de risco. Nesse novo contexto, o investidor não fica mais confortável de investir na Argentina, na Turquia", exemplifica Ramos.

Fatores

O resultado disso é que, no final de janeiro, o Banco Central turco quase dobrou sua taxa de juros numa reunião emergencial, enquanto a moeda argentina chegou a cair quase 10% ante o dólar, em um único dia. Para Ramos, essa volatilidade não deve causar uma crise, mas, no caso brasileiros, é mais um fator que "atrapalha" dentro de um cenário de crescimento baixo do PIB.

O ex-presidente do BC e atual diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Langoni, também considera pequena a probabilidade de crise recessiva, mas prevê dois anos difíceis à frente, já que o ciclo de elevação dos juros nos Estados Unidos só deve começar em 2015. Por hora, o Fed já começou a reduzir seu programa mensal de estímulo via compra de títulos, que era de US$ 85 bilhões por mês em dezembro e agora está em US$ 65 bilhões.

"O processo de reprecificação sempre tem exagero (na reação dos mercados). Será uma transição com tensão, mas não vejo risco de recaída, de nova retração global", afirma Langoni.

Mesmo tendo sido anunciada há meses, a mudança de atuação do Fed acaba gerando instabilidade "porque ninguém sabe qual será seu efeito no mundo e na recuperação da economia americana", observa Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da corretora japonesa Nomura.