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BC europeu lança pacote para estimular economia; entenda

22/01/2015 18h24

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira (22) um pacote de estímulos para a economia da zona do euro. O objetivo é evitar a deflação e a recessão do bloco.

Ao contrário dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, o BCE vinha resistindo até agora a colocar em prática um programa de compra de títulos públicos. Esse processo é conhecido como "quantitative easing", ou "afrouxamento quantitativo".

O que é o afrouxamento quantitativo?

Governos e bancos centrais de todo o mundo buscam o crescimento da economia de seus respectivos países. Mas isso tem de ser equilibrado, ou como dizem os economistas, "sustentável".

O país não pode crescer de forma desordenada a ponto de gerar inflação, com uma subida generalizada de preços, ou crescer muito pouco a ponto a ponto de gerar deflação, ou uma queda generalizada de preços. O objetivo é alcançar o padrão "Economia Cachinhos Dourados", ou seja, uma economia nem muito "quente" nem muito "fria".

Uma das principais ferramentas que governos e autoridades monetárias têm para controlar o crescimento é subir ou baixar juros. Quando eles estão baixos, incentivam pessoas e empresas a gastar dinheiro, em vez de poupá-lo.

Isso porque o crédito fica mais barato, facilitando a tomada de empréstimo, e, por consequência, a maior circulação de dinheiro na economia.

Mas, quando os juros estão muito baixos, próximos a zero, sem uma contrapartida no consumo, os bancos centrais precisam adotar táticas diferentes para estimular a economia – como injetar dinheiro diretamente no sistema.

Esse processo é conhecido como quantitative easing (QE) ou afrouxamento quantitativo.

Por esse mecanismo, o banco central compra ativos, normalmente títulos públicos, com o dinheiro que a própria autoridade monetária emitiu.

O banco central usa, então, esse "novo" dinheiro para comprar os títulos de investidores como bancos ou fundos de pensão, o que aumenta a liquidez do sistema financeiro, encorajando instituições financeiras a emprestar mais para empresas e indivíduos.

O objetivo é que, com mais dinheiro no bolso, empresas e indivíduos invistam e gastem mais, acelerando o crescimento da economia.

Por que a decisão do BCE só aconteceu agora?

O crescimento nos 19 países que formam atualmente a zona do euro perdeu força nos últimos meses, enquanto muitos deles já se encontram em recessão (quando há dois trimestres consecutivos de queda).

Além disso, a Europa está enfrentando o espectro da deflação – quando os preços caem – depois da inflação chegar perto de zero em dezembro.

Assim como a inflação, a deflação preocupa os economistas, porque pode se tornar rapidamente uma espiral difícil de ser domada.

O problema da deflação ocorre quando os consumidores acabam adiando as compras na esperança de que os preços continuem a cair, o que freia ainda mais o crescimento.

No início deste mês, o Banco Mundial alertou que a zona do euro corria o risco de cair em uma estagnação permanente.

A autoridade monetária vinha sendo pressionada já há algum tempo para tomar medidas, mas enfrentava resistência política intensa, da Alemanha em particular.

No entanto, o sentimento geral é de que uma ação do BCE não poderia mais ser adiada.

Outros bancos centrais já recorreram ao QE?

Tanto o Banco da Inglaterra quanto o o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), já recorreram ao afrouxamento quantitativo para estimular a economia logo após a crise financeira de 2008.

O mecanismo foi implementado pela primeira vez pelo banco central japonês para tentar encerrar um período de deflação após uma turbulência financeira de 1990.

Não existe consenso se a iniciativa teve o efeito esperado de estimular a economia japonesa.

O afrouxamento quantitativo já funcionou em outro lugar?

O Banco da Inglaterra calcula que os estimados 200 bilhões de libras (R$ 770 bilhões, em valores atuais) em títulos que comprou entre março e novembro de 2009 ajudaram a elevar o crescimento econômico anual do Reino Unido em 1,5% a 2%.

Segundo a autoridade monetária, os efeitos do programa foram "economicamente significativos".

Nos Estados Unidos, quando o mecanismo foi implementado em 2008, o Fed comprou títulos públicos e privados no valor de US$ 3,7 trilhões (R$ 9,5 trilhões), aumentando em oito vezes o tamanho desses investimentos em seu portfólio.

O banco central americano informou em novembro que encerraria o programa de compra de ativos, porque suas metas de inflação e de redução da taxa de desemprego estavam em vias de ser alcançadas.

No entanto, persistem preocupações sobre o impacto a longo prazo da taxa de inflação americana, que está em níveis historicamente baixos.

Como o mecanismo funcionará na zona do euro?

Ninguém ainda sabe, mas o efeito mais significativo da ação do BCE será trazer confiança aos mercados.

Com as eleições gregas no domingo, o programa de compra de títulos do banco central europeu elevará a confiança nos integrantes mais problemáticos do bloco e amortizará o impacto sobre outros países de uma possível derrocada da Grécia.

Depois de cinco anos de austeridade fiscal, muitos institutos de pesquisa dizem que os gregos devem rejeitar o corte de custos imposto pela União Europeia e votar no partido Coligação de Esquerda Radical, conhecido como Syriza, que se opõe ao pacote de contenção de despesas.

A ideia é de que se o BCE está comprando títulos de países como a Itália - assim como de outros membros mais fortes do bloco, como a Alemanha, por exemplo - investidores têm poucos motivos para se apressar a vender os títulos que detêm, mesmo se a situação econômica da Grécia piorar.

Quem sai perdendo?

O afrouxamento quantitativo eleva o valor dos títulos públicos e reduz a remuneração paga aos investidores.

Em outras palavras: os investidores terão de pagar mais dinheiro para obter o mesmo rendimento.