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Quanta diferença faz para a carreira estudar em uma universidade de elite?

Richard Reeves e Katherine Guyot

Instituto Brookings

08/05/2019 14h22Atualizada em 08/05/2019 19h35

O escândalo da compra de vagas em universidades nos EUA levou dezenas de pessoas a serem indiciadas depois que pais abastados pagaram propina para colocar os filhos em instituições de ensino de elite. Mas até que ponto a universidade que você frequenta realmente faz diferença?

Quase nada, de acordo com uma pesquisa --e tudo indica que importa menos para aqueles de origem mais privilegiada.

Muitos pais ricos podem gastar uma enorme quantidade de tempo, dinheiro e energia para garantir aos filhos vagas em universidades dignas de adesivos de carros, com poucos resultados concretos, sugere a pesquisa.

Por outro lado, os estudantes de origem mais desfavorecida são os que mais têm a ganhar. No entanto, têm menos condições de ter acesso a essas vagas.

Ganhos futuros

É verdade, sem dúvida, que os profissionais formados em instituições de elite ganham mais do que aqueles que cursaram universidades de menor prestígio. Mas isso é quase inevitável, uma vez que os alunos com notas mais altas são mais propensos a serem admitidos em instituições seletivas em primeiro lugar.

Aqueles que frequentaram uma universidade de prestígio ganham mais do que os graduados em instituições que não são de elite quando estão na faixa dos 30 anos, incluindo aqueles de origem mais pobre, sugerem os dados.

Por exemplo, os estudantes de famílias com renda média que frequentam as instituições que formam a Ivy League (grupo formado por oito das universidades mais prestigiadas dos EUA) apresentam ganhos anuais de mais de US$ 100 mil (cerca de R$ 393 mil) quando chegam aos 34 anos, indica a pesquisa.

Estas instituições --incluindo Harvard, Princeton e Yale-- custam, em média, aproximadamente US$ 55 mil (R$ 216 mil) e admitem cerca de 1 em cada 20 candidatos. Isso comparado aos rendimentos de cerca de US$ 40 mil (R$ 157 mil) daqueles que frequentaram instituições de ensino minimamente seletivas.

O impacto sobre os ganhos de cursar uma universidade de elite é grande para estudantes de famílias com rendas altas e baixas.

A maioria das universidades mencionadas no escândalo (Yale e Stanford à parte) faz parte de outra categoria de "elite", em que o incremento na renda é menor.

No entanto, talvez não seja surpreendente que muitos pais se sintam tentados a fazer de tudo para garantir uma vaga para o filho em uma universidade de alto nível. Mas, como seus filhos vão aprender nas aulas de estatística, a correlação não equivale a causalidade.

A questão é se as próprias universidades de elite estimulam os ganhos futuros, ou se elas simplesmente selecionam estudantes altamente qualificados que teriam sucesso de qualquer maneira. A maioria das evidências sugere que é sobretudo a última opção.

Alunos inteligentes e motivados que frequentam uma universidade de elite, sugerem as pesquisas, ganham o mesmo que pessoas igualmente inteligentes e motivadas que optam por uma instituição de ensino um pouco menos seletiva.

Estudos indicam que os estudantes admitidos em uma faculdade mais seletiva que depois decidem se matricular em uma instituição com uma classificação pior não ganham menos mais à frente.

Nem todos os pesquisadores chegam à mesma conclusão, mas a maioria dos estudos que sugerem qualquer efeito causal sobre cursar uma universidade mais seletiva mostram, no máximo, uma diferença modesta.

Em muitos casos, a escolha da faculdade pode ter um impacto tão grande quanto a própria universidade. Por exemplo, um estudo indica que o caráter seletivo é importante para os cursos de negócios, mas não para aqueles da área de ciências.

O escândalo da compra de vagas em universidades

- O FBI, a polícia federal americana, suspeita que ao menos US$ 25 milhões tenham sido pagos em propina para garantir vagas em universidades dos EUA.

- Os pais são acusados de pagar para falsificar as notas das provas dos filhos ou para conseguir uma vaga na equipe de atletas de ponta da universidade.

- Mais de 50 pessoas, incluindo 33 pais de alunos e vários treinadores esportivos, foram indiciadas.

- A atriz Lori Loughlin, do seriado Full House, teria pagado US$ 500 mil para as filhas entrarem para a equipe de remo da Universidade do Sul da Califórnia. Ela se declarou inocente à Justiça.

- Já a atriz Felicity Huffman, da série Desperate Housewives, é acusada de pagar US$ 15 mil para corrigirem as respostas da filha na prova. Ela deve fechar um acordo com autoridades.

- O empresário Rick Singer, acusado de gerenciar o esquema, se apresentava como especialista em processo de admissão em universidades e se declarou culpado de extorsão.

Escolas secundárias

Resultados semelhantes podem ser observados em escolas de ensino médio seletivas -nas quais, mais uma vez, muitos pais estão ansiosos para colocar os filhos.

Os estudantes que perdem por pouco uma vaga em escolas secundárias competitivas em Boston e Nova York, por exemplo, continuam a ter um desempenho tão bom quanto aqueles que superaram por pouco o obstáculo, de acordo com a pesquisa --há pouca diferença em termos de seus resultados subsequentes no SAT (o equivalente dos EUA ao Enem), frequência escolar, seletividade universitária e graduação.

Tal como acontece com as universidades, parece que não são as escolas que impulsionam os resultados impressionantes: são os alunos que eles deixam entrar.

Para ser claro, nada disso significa que não importa nem um pouco que universidade você vai cursar --apenas que diferenças modestas em torno da seletividade não parecem fazer muita diferença.

No entanto, se um aluno recusar Yale em troca de uma vaga em uma universidade comunitária local completamente não seletiva, é possível que ele não se saia muito bem. Isso é especialmente esperado se a instituição não dispuser de recursos para ajudar os estudantes a concluir a graduação.

A maioria dos estudos usa os rendimentos como a principal medida de sucesso. E, é claro, dinheiro não é tudo, o que serve de consolo para muitos graduados em liberal arts (ou artes liberais).

Alunos de universidades de elite podem ter mais sorte em profissões de prestígio - como cargos em empresas de advocacia ou financeiras. Eles também são capazes de aprender certas habilidades e fazer as conexões necessárias para obter esse tipo de emprego durante o tempo em que estão em sua torre de marfim.

Por outro lado, os recém-formados que frequentaram universidades mais seletivas relatam, na verdade, uma satisfação menor no trabalho e são mais suscetíveis a se sentirem mal remunerados, sugere a pesquisa.

Mas se a ideia geral é que o status de uma universidade parece importar muito menos do que as características dos estudantes, há uma exceção fundamental a esta regra.

Aqueles que são os primeiros na família a cursarem uma faculdade, ou que sejam provenientes de uma minoria, parecem ser os únicos grupos que se beneficiam de frequentar universidades de elite.

Estudantes de primeira geração, por exemplo, ganham um salário cerca de 5% maior se cursarem uma faculdade mais seletiva, sugere a pesquisa.

Uma possível explicação para isso é que essas instituições de ensino oferecem aos alunos desfavorecidos acesso a redes de estudantes mais abastados por causa dos pais.

Parece, então, que os estudantes com menos acesso a instituições que ocupam as primeiras posições do ranking talvez sejam os que mais têm a ganhar. Mas menos de 1 em cada 50 jovens de famílias com renda mais baixa frequenta de fato universidades de elite, em comparação com cerca de 40% dos que estão no topo de 0,1%, de acordo com a pesquisa.

A ironia é que os alunos privilegiados cujos pais estão dispostos a tudo para colocá-los em universidades de elite parecem ganhar pouco como resultado. E podem ser os que ocupam as vagas dos candidatos de baixa renda que têm mais a se beneficiar.

Sobre este artigo

Esta análise foi encomendada pela BBC a especialistas que trabalham para uma organização externa.

Richard Reeves é pesquisador sênior em assuntos econômicos do Instituto Brookings. Katherine Guyot é assistente de pesquisa na mesma instituição.

O Instituto Brookings é uma organização de políticas públicas sem fins lucrativos, que realiza pesquisas que levam a novas ideias para a solução de problemas enfrentados pela sociedade.