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HSBC se junta a Citigroup e SocGen no grupo de bancos estrangeiros que recuaram no Brasil

Francisco Marcelino

11/06/2015 12h35

(Bloomberg) -- O HSBC Holdings Plc se tornou esta semana o terceiro banco de varejo estrangeiro a abandonar ou reduzir suas operações no Brasil nos últimos dois anos. Com isso, apenas dois bancos de fora do país vão manter negócios de varejo por aqui.

O Citigroup Inc. vendeu sua financeira e operadora de cartões de crédito há dois anos. Já o Société Générale SA decidiu encerrar a operação de varejo em fevereiro. Nas duas últimas décadas, também desistiram do varejo no país o Bank of America Corp., dos EUA, o espanhol Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA, o italiano Intesa Sanpaolo SA e o francês Crédit Lyonnais SA.

O Brasil, o quinto país do mundo em extensão geográfica, é um mercado difícil para os bancos de varejo que tentam entrar ou se expandir aqui. Eles têm que enfrentar a concorrência do maior banco da América Latina em valor de mercado, o Itaú Unibanco Holding SA, e o maior da região em ativos, o Banco do Brasil SA. Ao mesmo tempo que nos últimos anos perdeu oportunidades para comprar rivais menores no país, lá fora o HSBC ainda enfrentou as novas exigências de capital adotadas depois da crise financeira global de 2008.

"Para se manter em uma economia com a nossa, com as dimensões que temos, tem que ter crescimento geográfico", disse Henrique Kleine, analista-chefe de ações da corretora Magliano SA em São Paulo, em entrevista por telefone, na terça-feira. "O HSBC perdeu a oportunidade de ganhar uma escala maior. O HSBC não tem mais condições de crescer aqui".

HSBC preferiu não comentar a decisão sobre a venda da operação no Brasil.

Restam dois

O Brasil contava com pelo menos oito bancos estrangeiros atuando no varejo no fim de 2002. Com a venda do HSBC, haverá dois: o Banco Santander Brasil SA, uma unidade do maior banco da Espanha, e o Citigroup, de Nova York, que manteve sua unidade Citibank no país após vender a Credicard.

A maior parte das empresas deixou o país após uma onda de aquisições que somou US$ 91,3 bilhões desde dezembro de 2002, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Itaú, o Banco Bradesco SA e o Banco do Brasil foram os compradores mais ativos no período, respondendo por cerca de metade das transações.

O HSBC investiu US$ 951 milhões no período, incluindo a aquisição por US$ 815 milhões da financeira do Lloyds TSB Group Plc, a Losango, em 2003. O banco chegou a contratar o JPMorgan Chase Co. em 2011 para vender a Losango, mas não encontrou um comprador.

O investimento do HSBC contrasta com os US$ 27,9 bilhões que o Itaú gastou no período. Só a compra da União de Bancos Brasileiros SA, ou Unibanco, custou US$ 12,5 bilhões em 2008.

Regras de capital

Enquanto os bancos brasileiros cresciam, os estrangeiros foram atingidos pela crise financeira global e por exigências regulatórias e de capital mais rígidas, disse Alexandre Nobre, fundador da RCB Investimentos, uma firma com sede em São Paulo especializada na compra de carteiras de crédito. A participação dos bancos estrangeiros no mercado de crédito de R$ 3,1 trilhões do Brasil caiu para 14,5% em abril, contra 22% em março de 2007, segundo dados do Banco Central.

"É preciso ter escala para estar no Brasil, comendo todas as eficiências que poderia ter a partir das aquisições,'' disse Nobre em uma entrevista por telefone na terça. "O nível de regulação, o nível de exigência regulamentar dos bancos tornou mais dificil operar de forma global''.

O HSBC disse esta semana que tentará vender a divisão de varejo no Brasil após ser multado por manipulação do mercado de câmbio e se envolver em um escândalo de lavagem de dinheiro ligado a contas na Suíça. O banco também planeja vender a operação na Turquia e eliminar até 25.000 empregos.

Clientes corporativos

Apesar de ter colocado à venda a unidade brasileira, que teve um prejuízo líquido de R$ 549,1 milhões no ano passado, o banco disse que manterá presença no país para atender clientes corporativos de grande porte.

O Bradesco provavelmente comprará a unidade do HSBC por US$ 3,2 bilhões a US$ 4 bilhões, disseram fontes com conhecimento direto do assunto esta semana. O Bradesco e o HSBC não quiseram comentar o assunto.

O Banco Bilbao Vizcaya Argentaria também está interessado em comprar as unidades do HSBC no Brasil e na Turquia, informou o jornal El Financiero, da Cidade do México, na quarta-feira.