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Brasil: Preferência de usinas de cana-de-açúcar por etanol é a maior em sete anos

Isis Almeida

10/07/2015 13h31

(Bloomberg) - Os donos de usinas de açúcar na principal região produtora do Brasil vão empregar a maior quantidade de cana-de-açúcar para fabricar etanol em sete anos depois da depressão mais prolongada no preço do açúcar em mais de meio século, segundo a Datagro Ltd.

Os produtores da região Centro-Sul utilizarão 59,5% da safra deste ano para produzir o biocombustível, a maior proporção desde a temporada 2008-2009, disse Plínio Nastari, presidente da consultoria com sede em Barueri, São Paulo. Os futuros do açúcar bruto negociados na bolsa ICE Futures U.S. em Nova York caíram durante os últimos quatro anos, a maior depressão desde pelo menos 1962.

A produção mundial de açúcar excedeu a demanda nas últimas cinco temporadas, com um superávit de 3,88 milhões de toneladas previsto para os doze meses que finalizam em setembro, estima a Datagro. A depressão dos preços acarreta que o etanol hidratado, o tipo utilizado pelos carros flex, venha sendo negociado a valores superiores aos do açúcar desde novembro, disse Nastari.

"O mercado está deprimido por causa dos estoques elevados", disse ele em entrevista de Londres, antes da cúpula Brazil Day da consultoria. "Qual a resposta dos produtores brasileiros a essa situação, considerando as dificuldades que o setor enfrenta? Produzir mais etanol".

Os donos de usinas na região Centro-Sul do Brasil, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, colherão 591 milhões de toneladas de cana na temporada 2015-2016, iniciada em abril, e produzirão 27,87 bilhões de litros de etanol, prevê a Datagro. A região responde por cerca de 90% da safra do país. Os motoristas brasileiros podem abastecer os carros com etanol ou com uma mistura de gasolina e biocombustível.

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O excesso de chuvas no começo da colheita reduziu o conteúdo de açúcar da cana, o que favoreceu a maior utilização da safra para o biocombustível, disse Nastari. O conteúdo de sacarose cairá 1,6%, para 134,45 quilos por tonelada neste ano, estima a Datagro. A ocorrência do padrão climático El Niño também poderia levar os produtores a preferirem o etanol.

"O pico do El Niño ocorrerá no período de outubro a dezembro, e isso implicará um final úmido para a colheita", disse Nastari. "Isso vai fazer que a produção seja redirecionada para mais etanol".

O florescimento da safra, ervas daninhas e pestes também reduzirão o potencial da safra deste ano, disse ele. A produção de açúcar na região será de 30,7 milhões de toneladas, 4,7% aquém do previsto em maio, estima a Datagro. A associação do setor, a Unica, a consultoria Green Pool Commodity Specialists e a trader ED&F Man Holdings Ltd. também diminuíram as previsões de produção.

O foco dos donos de usinas no etanol está incrementando a disponibilidade do combustível e impulsionando as vendas de etanol hidratado para níveis similares àqueles observados na segunda metade de 2009, quando o consumo mensal chegou a 1,5 bilhão de litros, disse Nastari. Donos de usinas em apertos financeiros também estão fabricando mais etanol para o mercado doméstico, já que normalmente eles recebem o pagamento mais rapidamente do que quando exportam açúcar, acrescentou.

Para os 12 meses que começam em outubro, a Datagro prevê um déficit de açúcar de 1,43 milhão de toneladas, a primeira escassez em seis anos.