Até mesmo amantes da arte estão cansados de acompanhar feiras
Katya Kazakina
05/10/2016 14h48
(Bloomberg) -- Há uma feira de arte por dia neste mês -- para os colecionadores com energia suficiente para viajar de Seul a Santiago, de Budapeste a Buenos Aires, de Moscou a Manila.
As feiras de arte vêm se multiplicando pelo planeta, somando 269 em 2015, em comparação com 105 uma década antes, segundo relatório do The Art Newspaper e da Momart. A ArtBinder, que produz um aplicativo usado pelas galerias, está monitorando 52 feiras apenas em outubro.
Algumas das maiores feiras estão sendo abertas em meio à contração do mercado, o que força colecionadores e negociantes a avaliarem como alocar tempo e dinheiro.
"Não dá nem para recuperar o fôlego -- nem para as galerias, nem para os colecionadores, nem para os artistas", disse a assessora de arte Abigail Asher, de Nova York. "As pessoas estão reclamando do peso de ter tantas feiras por ano."
Grande teste
O primeiro grande teste será nesta semana, em Londres, na Frieze Week, maior concentração de eventos de arte da Europa, que incluirá nove feiras. A seguir vem Paris, com um conjunto de feiras centradas no evento principal, conhecido como FIAC.
A Fundação Europeia de Belas Artes (Tefaf, na sigla em inglês), que opera uma feira prestigiosa na Holanda, está realizando sua primeira edição em Nova York, que vai se sobrepor a uma parte da FIAC.
Há muito em jogo. Assim como o mercado de arte como um todo, as vendas nas feiras se expandiram -- cerca de 50 por cento desde 2010 --, mas caíram ligeiramente em relação ao pico registrado em 2014, para US$ 12,7 bilhões no ano passado, segundo relatório anual da Tefaf.
As vendas nas feiras respondem por 20 por cento do comércio global de arte. Para muitas galerias, essas exposições representam pelo menos 40 por cento das vendas.
Semana de maratona
"Minha semana está parecendo uma maratona", disse o colecionador e banqueiro de investimento independente Alain Servais, de Bruxelas, que viaja para cerca de 20 eventos de arte por ano. "A Frieze está preenchendo todos os meus dias e noites."
As feiras de arte desbancaram as galerias como o ponto de partida para os novos colecionadores e oferecem oportunidades de fazer contatos para os frequentadores assíduos.
Os organizadores das feiras costumam oferecer benefícios para quem gasta grandes quantias, como voos gratuitos, hospedagem em hotéis e refeições generosas. Conectar-se com novos clientes é o desafio mais citado pelas galerias, de acordo com o relatório da Tefaf, então as feiras se tornaram um terreno de caça.
Alguns colecionadores estão deixando esse frenesi completamente de lado. O colecionador Larry Wasser, de Toronto, que é também membro do conselho do Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, programou sua última viagem a Nova York para um momento em que havia uma feira de arte em Chicago.
Ele disse que viu obras de arte de qualidade superior nas galerias e que teve uma interação mais pessoal com os negociantes do que em viagens anteriores a feiras e leilões.
"Minha esposa e eu nos olhamos e dissemos 'esses foram os melhores quatro dias que passamos em Nova York em muito tempo'", contou.