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Mundo tem óleo de palma sustentável de sobra, mas ninguém compra

Anuradha Raghu

14/01/2019 11h31

(Bloomberg) -- Os maiores produtores de óleo de palma do mundo afirmam que estão intensificando os esforços para produzir essa polêmica commodity de forma mais sustentável, mas que os consumidores não estão dispostos a gastar mais no produto ecologicamente correto.

A produção de óleo de palma sustentável atingiu um recorde de 13,6 milhões de toneladas por ano, cerca de 20 por cento da produção global, segundo a entidade do setor que certifica a commodity. Mas apenas metade é vendida como óleo sustentável. O motivo é que a produção é mais cara, mas ninguém está disposto a pagar a diferença, afirma a Sime Darby Plantation, a maior produtora por área plantada.

"Os compradores não querem pagar por isso", disse Simon Lord, diretor de sustentabilidade da Sime Darby, de Kuala Lumpur. "Há um crescente ressentimento entre os produtores pelo fato de os demais atores da cadeia de abastecimento não estarem fazendo sua parte."

O óleo de palma está se tornando cada vez mais controverso, especialmente nos países ocidentais, porque as imagens do desmatamento e da morte de orangotangos estão colocando a opinião popular contra esse produto onipresente. Mas as produtoras estão contra-atacando, afirmando que os consumidores não estão dispostos a gastar para transformar o discurso em realidade.

O óleo certificado normalmente é vendido com uma diferença de cerca de US$ 30 por tonelada em relação ao tipo não certificado, mas isso pode variar significativamente dependendo dos volumes e da negociação entre compradores e vendedores. A obtenção da certificação custa aos produtores pelo menos US$ 8 a US$ 12 por tonelada e há outras despesas como taxas de auditoria, logística e avaliações ambientais, afirma a Sime Darby, a maior produtora de óleo de palma certificado e sustentável (CSPO, na sigla em inglês). Os futuros de referência caíram 1,7 por cento, maior recuo em seis semanas, para 2,134 ringgits (US$ 520) por tonelada em Kuala Lumpur nesta segunda-feira.

Óleo indesejado

A Sime Darby afirma que só consegue vender cerca de 50 por cento de sua variedade certificada com valor mais caro e que o restante é somado a um conjunto de óleo não certificado sem obter nenhum valor agregado. As empresas estão tendo que vender seu CSPO abaixo do custo e preferem fazer isso a estocá-lo, diz Oscar Tjakra, analista sênior de grãos e oleaginosas do Rabobank International.

Mas quem não está comprando? Segundo o World Wildlife Fund, a demanda por CSPO em grandes consumidores como Índia, China, Malásia e Indonésia continua baixa. Algumas empresas da Europa também não adotaram "compromissos ambiciosos com prazo definido para obter 100 por cento de CSPO", embora a utilização da UE seja a mais alta, disse Elizabeth Clarke, líder mundial do WWF para o óleo de palma.

Para o Greenpeace, a produção responsável realmente custa mais e as empresas de bens de consumo devem pagar a diferença para incentivar uma mudança no setor.

"A solução é que as grandes marcas só comprem óleo de palma de produtores responsáveis que protegem as florestas tropicais", disse Diana Ruiz, ativista sênior do Greenpeace para o óleo de palma nos EUA. "E há [óleo] disponível."