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BC dos EUA reavalia papel das expectativas inflacionárias

Christopher Condon

15/03/2019 16h04

(Bloomberg) -- Durante quatro décadas, a possibilidade de inflação elevada assombrou o banco central dos EUA. Agora, o Federal Reserve enfrenta o fantasma de perfil inverso.

"Precisamos garantir que a inflação não continue se aproximando de zero porque o banco central realmente teria menos e menos capacidade para reagir a situações de deterioração'', afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, durante uma sessão de perguntas e respostas na Universidade Stanford em 8 de março.

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Há muito tempo, representantes do Fed se referem à meta de inflação de 2 por cento como "simétrica", mas agora querem convencer o público de que estão falando sério. A preocupação é tamanha que as autoridades estudam estratégias criativas e arriscadas para elevar os índices de inflação no longo prazo.

Essas estratégias dependem do intrigante conceito de expectativas inflacionárias ? e do poder que, segundo economistas, essas expectativas têm para determinar preços no futuro. A liderança do Fed tem fé no conceito, mas os economistas não compreendem totalmente como funciona. Muita gente que define preços no mundo real duvida dessa teoria.

'Fator mais importante'

Em poucas palavras, muitos economistas creem que o desfecho da inflação é definido pela inflação esperada pelas pessoas comum. Em depoimento ao Congresso em 26 de fevereiro, Powell declarou que as expectativas inflacionárias são "o fator mais importante para determinar a inflação de fato".

Teoricamente, isso se concretiza por dois canais: consumo e definição de preços. Se milhões de pessoas esperam que a inflação suba muito e prejudique seu poder de compra, são tomadas decisões pertinentes de consumo e investimento pelas empresas. Trabalhadores exigem salários maiores e empresas elevam preços. Demanda, salários e preços maiores ajudam a produzir a inflação prevista.

O conceito está por trás dos enormes esforços das autoridades monetárias nas décadas de 1970 e 1980 para estabelecer sua credibilidade no controle da inflação. Quando o público confia nesse compromisso, as expectativas de inflação não reagem tanto a choques (como um salto dos preços de energia ou uma queda acentuada do desemprego), o que ajuda a ancorar a inflação de fato em níveis menores.

Nos EUA, os dados de inflação aparentemente validam a teoria. Desde 1993, o índice preferido do Fed para o núcleo da inflação ficou em apenas 1,8 por cento ao ano, na média.

"Certamente após o declínio persistente da inflação, após o início da década de 1980, as expectativas recuaram e permaneceram baixas desde então", disse Olivier Coibion, professor de economia da Universidade do Texas em Austin.

Dá para afirmar que o Fed teve sucesso demais. O vice-presidente da instituição, Richard Clarida, comentou recentemente que as expectativas estão"no intervalo inferior do que eu considero consistente com nosso objetivo de estabilidade de preços de 2 por cento''.

Sendo assim, o Fed vem considerando adotar uma estratégia que empurraria ainflação para acima da meta quando estiver muito abaixo dela, com o propósito de elevar as expectativas. Mas a crença nas expectativas inflacionárias não é universal. Há dificuldade para demonstrar como funcionam no nível microeconômico.

Para início de conversa, o público precisaria entender algo sobre inflação para as expectativas funcionarem. Pesquisas mostram que, em países onde há muito tempo a inflação está baixa e estável, caso dos EUA, as pessoas prestam pouca atenção nisso. A maioria não tem ideia do nível em que a inflação se encontra ou para onde vai.

Segundo o Goldman Sachs, apenas 20 por cento dos americanos sabem que o Fed tem uma meta de inflação de 2 por cento.

Quando existe maior conhecimento, pesquisas mostram que o consumo das famílias reage a variações nas expectativas de inflação. No entanto, outros experimentos mostram que as demandas salariais e decisões de preços quase não reagem a mudanças nas expectativas.

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