Selic e incertezas no cenário minam queda de juro bancário
Jéssica Alves
São Paulo
18/06/2018 13h16
Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast com 49 analistas do mercado financeiro mostra que todas as estimativas apontam para manutenção da Selic em 6,50% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. A Selic não é o único componente que os bancos analisam para baixar as taxas. Mas, quando ela está em queda, é um indicativo da autoridade monetária de que o ambiente está favorável a possíveis reduções.
O rotativo do cartão de crédito, que é a taxa que mais pesa no bolso do consumidor, caiu graças, principalmente, à intervenção do BC, mas já aponta para uma certa estabilidade, assim como o crédito pessoal. A taxa do cheque especial, que caiu muito pouco, é a única que ainda pode ter reduções.
A partir de julho, os clientes que utilizarem 15% do limite da conta por 30 dias devem ser direcionados para uma opção mais barata, segundo regras do próprio mercado.
"Agora não dá para falar em queda de juros. O cenário mudou, o mundo mudou e as fragilidades do País estão cada vez mais evidentes: o risco Brasil e os juros do mercado futuro subiram e mostram que as taxas que vemos devem continuar assim", diz Margarida Gutierrez, professora da UFRJ.
Além da manutenção da Selic, outro fator que dificulta as instituições a mexer em seus créditos é a disparada das taxas futuras de juros, que, grosso modo, refletem o valor do dinheiro lá na frente. Essas taxas são uma das referências analisadas para se chegar ao spread - diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao captar o recurso) e o quanto ele cobra do consumidor ao emprestar.
O spread, segundo o próprio BC, é composto majoritariamente pela inadimplência, seguida por despesas administrativas e tributos. Com a recuperação econômica ainda tímida e a queda do desemprego amparado pelo aumento de vagas informais, Gutierrez explica que a inadimplência deve continuar pesando no crédito. Uma medida que, segundo ela, poderia contribuir para reduzir o custo do crédito seria a aprovação do cadastro positivo, que aguarda análise da Câmara dos Deputados. O cadastro deixaria disponível para os bancos o histórico de bons pagadores.
Outro fator que não deixa as instituições confortáveis é a incerteza política, aponta a economista chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto. "Estamos a quatro meses das eleições e não temos candidatos. Toda essa incerteza dificulta qualquer perspectiva", explica.
O cenário agora é de espera também para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Segundo ele, os agentes do mercado estão observando a extensão da normalização das taxas de juros nos Estados Unidos e Europa e a percepção de risco no Brasil, que aumentou principalmente no último mês com a greve dos caminhoneiros. "Todo mundo quer entender os efeitos dessa crise externa e interna", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.