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Nubank deixa de ser o banco mais valioso da América Latina após queda na Bolsa

A fintech terminou a sexta-feira, 14, avaliada em US$ 37,4 bilhões - Divulgação
A fintech terminou a sexta-feira, 14, avaliada em US$ 37,4 bilhões Imagem: Divulgação

Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior

Em São Paulo

15/01/2022 14h30

A expectativa de um aumento dos juros mais intenso nos Estados Unidos teve impacto extra nas novas empresas de tecnologia e fez o valor de mercado do Nubank cair abaixo do valor do Itaú. Assim, o Nubank perdeu o posto de banco mais valioso da América Latina. A fintech terminou a sexta-feira, 14, avaliada em US$ 37,4 bilhões, enquanto o maior banco privado do Brasil valia US$ 39,5 bilhões. Quando abriu capital, em dezembro, o Nubank foi avaliado em US$ 42 bilhões.

Neste começo de 2022, o banco digital, que fez uma das maiores aberturas de capital nos Estados Unidos no ano passado, vê sua ação cair 13,4%. Comparativamente, os papéis do Itaú negociados na mesma Bolsa de Nova York sobem 13,3% no período. Os do Bradesco (que tem valor de mercado de US$ 32,9 bilhões), têm alta 10,2%.

Entre as fintechs, empresas de pagamentos e de tecnologia nos EUA, a corretora digital Robinhood cede 15%, a Toast perde 25% e a Affirm tem queda de 31%.

O movimento é geral. O índice de empresas de tecnologia Nasdaq já cai quase 5% este ano, enquanto os bancos como Goldman Sachs, JPMorgan, Citi e Morgan Stanley passaram a prever elevação de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já em março, seguida de mais três altas até dezembro. De zero, o juro dos EUA deve ir para 2% ou 2,5%, tornando mais caro o custo de capital para as empresas. E as de tecnologia são as que mais precisam de dinheiro.

A economista para Estados Unidos do Citi, Veronica Clark, avalia que o discurso do Fed passou a ficar mais contracionista, na medida em que a inflação americana não dá trégua. Se antes o banco previa a primeira alta de juros nos EUA em junho, agora vê o aumento ocorrendo em março. Clark não descarta que ocorra um aumento mais intenso neste começo de 2022, de 0,50 ponto porcentual. Esse movimento tende a reduzir a liquidez (disponibilidade de dinheiro) no mercado financeiro.

Além da questão do Fed, o executivo de uma empresa brasileira que abriu o capital recentemente nos Estados Unidos, conta que companhias brasileiras estão sendo ainda mais penalizadas na onda de reprecificação das ações do setor de tecnologia. O temor com o risco fiscal, a perspectiva até de uma recessão este ano e a incerteza eleitoral estão contribuindo para a queda mais intensa das ações quando comparadas aos pares internacionais, diz ele.

Esse movimento, no entanto, é desigual. Enquanto Nubank, PagSeguro, Stone e XP recuam ou estão no zero a zero, as ações de algumas das mais tradicionais empresas brasileiras sobem em Nova York. Além dos bancos, os papéis da Petrobras acumulam alta de 13%, e os da Vale, de 10%. Até as aéreas Azul e Gol operam no positivo, apesar do revés trazido ao setor de viagens com a variante Ômicron do coronavírus.

É natural que, diante de um ciclo de alta de juros, os investidores prefiram papéis de empresas com modelo de negócio já estabelecido e lucro estável. Produtoras e exportadoras de commodities, Petrobras e Vale são fortes pagadoras de dividendos. Assim como os bancos brasileiros, que estão entre os mais rentáveis do mundo. O Nubank, assim como muitas fintechs, ainda opera no vermelho - teve prejuízo de R$ 528,4 milhões nos nove primeiros meses do ano passado.

Uma pista está no movimento dos investidores estrangeiros na B3. Neste mês, eles aportam R$ 6,8 bilhões no mercado local, e segundo fontes, o maior interesse é em produtoras de commodities, em especial diante da aceleração da inflação no mundo todo, que tende a expandir os preços dos produtos dessas empresas.

Otimismo

O movimento de mercado que tirou do Nubank o posto de banco mais valioso da América Latina contrasta com as expectativas de analistas para os resultados da fintech. Após o IPO, bancos de investimento começaram a cobrir a ação com estimativas otimistas para o futuro, com previsões de lucros bilionários a partir de meados desta década.

Em relatório divulgado na quinta-feira, o UBS BB previu que o Nubank deve chegar a 52 milhões de clientes nos resultados do quarto trimestre de 2021, que ainda serão divulgados. A operação ainda dará prejuízo, mas os analistas destacaram que, pelo critério ajustado, ficará próxima do zero a zero, com perda de US$ 15 milhões.

"O ARPAC (sigla em inglês para receita média por cliente ativo) deve se expandir um pouco mais, e acreditamos que este é o principal indicador a se monitorar", escreveram os profissionais. A carteira de crédito do Nubank deve saltar 81%, estimam, para US$ 6 bilhões.

Por outro lado, há um contraste em relação aos números esperados pelo próprio UBS BB para o Itaú. O maior banco brasileiro deve apresentar lucro trimestral de R$ 7 bilhões, afirma a casa, com uma carteira de crédito próxima de R$ 800 bilhões e margens de R$ 20,1 bilhões.