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Meirelles diz que Lula já está falando as 'coisas certas' na economia

Apesar de opiniões contrárias em relação ao teto de gastos, Meirelles acha que Lula está bem assessorado sobre as reformas administrativa e tributária - André Ribeiro/Futura Press/Estadão Conteúdo
Apesar de opiniões contrárias em relação ao teto de gastos, Meirelles acha que Lula está bem assessorado sobre as reformas administrativa e tributária Imagem: André Ribeiro/Futura Press/Estadão Conteúdo

Adriana Fernandes

Estadão

21/09/2022 08h01Atualizada em 21/09/2022 10h31

Ministro da Fazenda no governo Michel Temer e presidente do Banco Central nos oito anos do governo Lula, Henrique Meirelles manifestou apoio à candidatura do petista na reta final das eleições.

Ao Estadão, Meirelles diz que Lula já está falando as "coisas certas", como a intenção de fazer as reformas administrativa e tributária, e que a responsabilidade fiscal vai prevalecer caso Lula ocupe novamente a Presidência da República. "Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora", disse ele, que insiste na necessidade de manutenção do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação, criada por ele e sua equipe no Ministério da Fazenda.

Meirelles não descarta integrar a equipe de Lula, se convidado, mas diz que agora não é o momento de discutir isso. "Como eu disse e já dizia desde aquela época, eu não perco tempo decidindo sobre hipóteses. Se ele ganhar a eleição e quiser conversar comigo, aí vamos conversar", afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão depois da declaração de apoio de Meirelles à campanha de Lula.

Estadão - Por que o sr. decidiu apoiar o ex-presidente Lula e o que vislumbra pela frente?

Meirelles - Eu me baseei na minha experiência concreta, trabalhando com ele durante os oito anos no primeiro e no segundo mandatos dele. Em primeiro lugar, fizemos um acordo na época de independência e autonomia do Banco Central. Ele cumpriu o acordo. Os resultados foram extremamente positivos. Durante esses oito anos, o Brasil cresceu uma média de 4% ao ano. O País criou quase 11 milhões de empregos. Mais de 40 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza. Quando assumimos, encontrei um acordo com o Fundo Monetário Internacional. O Brasil dependia da aprovação do fundo para adotar uma série de medidas, que o FMI determinava, em última análise, a política fiscal do País. Compreensível, porque o Brasil era devedor. Chegamos a sacar toda a linha [de empréstimo] para pagar compromissos. As reservas internacionais, que eram de US$ 37 bilhões quando assumi, pagando todos os compromissos, chegaram a US$ 15 bilhões. E começamos a fazer todo o trabalho. Foi tudo muito bem-sucedido.

Há poucos dias, o sr. alertou que flexibilizar o teto de gastos seria abrir uma porta para o descontrole. O ex-presidente Lula já disse que vai revogar o teto. Não é contraditório?

O que eu disse, e fui muito claro lá, foi que uma das razões era exatamente o fato de que ele [Lula] no primeiro mandato teve austeridade fiscal, entregou superávits primários etc. E a minha suposição é de que essa responsabilidade fiscal vai prevalecer.

Mas o ex-presidente fala abertamente em acabar com o teto, que o sr. criou...

Exatamente. Eu acho que é uma declaração equivocada. Já disse que ele está sendo mal assessorado nesse aspecto.

E o ex-presidente falou o que para o senhor?

Ele não fez comentários. Nós não chegamos a ter uma discussão direta para discutir política econômica. Não é o momento. Inclusive, eu não gosto de ficar muito discutindo hipóteses. Em 2002, eu recebi emissários e tal que me diziam para eu me preservar e não me candidatar na época. Eu tinha saído da presidência mundial do BankBoston e era candidato aqui para deputado federal. Eu disse a mesma coisa, que não trabalho sobre hipóteses. Fiz a minha campanha, me elegi como deputado federal pelo PSDB. Em dezembro de 2002, ele me convidou para ser presidente do BC. Nós acertamos as condições e aceitei. Nós evidentemente vamos conversar no devido tempo. Agora, eu resolvi fazer um movimento em que acredito que a responsabilidade e a realidade vão prevalecer.

O sr. vai participar de um eventual governo Lula?

Como eu disse e já dizia desde aquela época, eu não perco tempo decidindo sobre hipóteses. Se ele ganhar a eleição e quiser conversar comigo, aí vamos conversar. Se não, tudo bem. Ou ele não ganhar ou ele não me convidar. O que eu quero dizer é o seguinte: frente uma coisa concreta eu vou parar para pensar e conversar.

O que é central na política econômica?

Ele [Lula] falou essa questão do teto, mas, por outro lado, falou coisas muito certas, de fazer a reforma administrativa e de fazer a reforma tributária. Ele está bem assessorado aí. É apenas uma questão de discutir isso com maior profundidade. Com uma reforma administrativa bem-feita, a tributária pode respeitar o teto e fazer programas sociais, investimentos em infraestrutura, e o País crescer muito ao mesmo tempo. Aliás, como fiz aqui em São Paulo.

O sr. vai precisar de um trabalho de convencimento do presidente Lula?

Ele já está falando coisas certas. Da reforma administrativa, da reforma tributária. Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora.

O sr. sempre enfrentou resistência dos economistas do PT no governo Lula.

É normal. Isso aconteceu quando eu estava no Banco Central. É normal. Como já dizia Nelson Rodrigues, muito expressivo, toda unanimidade é burra.

Como vê a proposta de waiver [licença para gastar] que o PT e o governo Bolsonaro falam para financiar o Auxílio Brasil?

Eu não sei do que se trata. É uma coisa muito genérica e aberta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.