Queda de Petrobras pressiona Ibovespa, que cai 1,16%, aos 130,1 mil pontos
São Paulo, 28
28/02/2024 18h39
Com forte pressão nas ações de Petrobras, que chegaram a ceder mais de 6% no pior momento, o Ibovespa acentuou perdas à tarde e devolveu a linha de 130 mil pontos, na mínima do dia aos 129.770,76 pontos, mas não no fechamento, aos 130.155,43, em baixa de 1,16%. Assim, distanciou-se da máxima da sessão a 131.684.56 pontos, correspondente à abertura. Na semana, o índice ainda avança 0,57% com alta nas duas sessões anteriores e, no mês, ganha 1,88%, limitando as perdas do ano a 3,00%. O giro financeiro desta quarta-feira ficou em R$ 24,0 bilhões.
O dia foi de ajuste discreto, negativo, nas cotações do petróleo Brent e WTI, com a referência global permanecendo em torno de US$ 83 por barril. Com os preços da commodity relativamente acomodados na sessão, o que causou a depreciação do ativo foi o sinal sobre distribuição de dividendos extraordinários, possibilidade que o mercado esperava que viesse a se confirmar no começo de março.
Mas, de acordo com relato à Bloomberg, a estatal deve ser cautelosa em relação à distribuição de dividendos à medida que busca se tornar uma potência em energia renovável, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Após ser questionado sobre eventual pagamento extraordinário de dividendos, ele disse que "precisamos ser cautelosos". "Os acionistas vão entender. Eu seria mais conservador do que agressivo. Estamos no meio dessa grande decisão de nos tornarmos uma empresa de petróleo em transição", acrescentou.
No fim da tarde, contudo, a Petrobras negou que tenha sido tomada qualquer decisão com relação aos dividendos ainda não declarados, conforme comunicado da empresa divulgado por meio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As decisões da administração sobre o tema, incluindo a proposta de destinação do resultado a ser submetida à aprovação da Assembleia Geral Ordinária marcada para 25 de abril, serão tomadas com base na nova Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada pelo seu conselho de administração em julho de 2023, reporta a jornalista Amélia Alves, do Broadcast.
Mesmo assim, no fechamento, Petrobras ON e PN ainda mostravam, respectivamente, mergulho de 5,39% e 5,16%, puxando a fila negativa do Ibovespa na sessão, ao lado de IRB (-5,45%) e Assaí (-4,76%). No lado oposto, Pão de Açúcar (+11,93%), Embraer (+2,09%) e São Martinho (+1,60%). Entre as ações de maior peso, além de Petrobras, o dia foi ruim para Vale (ON -1,10%) e misto para os grandes bancos, com leve alta para Banco do Brasil (ON +0,20%), Santander (Unit +0,07%) e Itaú (PN +0,06%).
"Repercutiu mal a fala do presidente da Petrobras sobre ser mais conservador no pagamento de proventos extraordinários. Foi negativa, uma vez que seu mandato envolve trabalhar para escolher projetos com taxas de retorno positivas aos acionistas, e não demandar paciência destes, que, naturalmente, irão reagir a qualquer movimento ou fala dessa natureza", observa em nota a equipe de Research da Ativa Investimentos.
"Petrobras fechou o 3T23 com mais de US$ 17 bi em caixa e, sob uma ótica do caixa ótimo do setor ser de cerca de US$ 8 bi, diversas casas passaram a estimar que a companhia distribuiria grande parte deste hiato em proventos extraordinários a serem anunciados junto ao balanço do 4T23", acrescenta a Ativa que, feita a ressalva, continua a avaliar que a Petrobras continuará sendo uma boa opção para dividendos ao longo de 2024.
"Prates comentou que a empresa deve ser mais cautelosa em relação à distribuição de dividendos, já que a companhia busca a mudança para a energia verde e está negociando com a gestora de recursos de Abu Dhabi Mubadala sobre a refinaria de Mataripe. A fala não agradou. Historicamente, a Petrobras não possui bom 'track record' de aquisições de unidades ou empresas - vide Braskem, refinaria de Pasadena. E a eventual mudança na política de dividendos apresenta um risco adicional - nos últimos anos foi uma das maiores pagadoras de dividendos do mundo", diz Leandro Petrokas, diretor de Research da Quantzed.
"O mercado não gostou nada, nem pelo lado dos investimentos, quando Prates falou em transformar a empresa em uma 'potência em energia renovável', nem pela questão dos dividendos, de pagar menos quando se esperava distribuição extraordinária. E Vale, com a maior participação individual no Ibovespa, segue pressionada pela indecisão sobre a sucessão do atual CEO, em dia de avanço do minério de pouco mais de 1%, em Dalian, China", diz Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria.
No quadro mais amplo, o mercado vem de sequência melhor de ganhos, retomando o patamar do início do ano, diz Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, mencionando fatores macro que têm contribuído para o fechamento da curva de juros doméstica, como o IPCA-15 referente a fevereiro, abaixo do esperado, divulgado ontem.
Ainda assim, acrescenta Moura, a Bolsa brasileira tem permanecido, há cerca de três meses, praticamente na mesma região em que se encontra hoje. "Com a entrada de novos balanços trimestrais, muitos investidores voltarão a apostar mais no micro, especialmente em empresas mais atreladas ao ciclo de juros, que pode sustentar esse movimento de alta do mercado."