Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Primeiros sinais

André Perfeito*

20/01/2011 12h21

O governo de Dilma Rousseff ainda mal começou e o mercado está com sérias dúvidas em alguns tópicos sensíveis na condução da política econômica. São basicamente dois pontos de tensão, e todos estes – como tudo em economia --estão interligados intimamente.

O primeiro foco é o que ficou convencionado de chamar de “guerra cambial”. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, se mostrou bastante sensível a este tópico e vem fazendo de tudo, desde o final do governo Lula, para dar ânimo ao cambaleante dólar.

Até aí sem grandes novidades; apesar de o Brasil não ter meta oficial para o câmbio é evidente que o dólar neste patamar constrange parte dos industriais brasileiros, nem tanto pela ponta das exportações, mas antes de tudo com a concorrência importada deslealmente da China que combina mão de obra barata e câmbio na camisa de força.

O câmbio está nesse patamar por uma série de fatores, a maioria deles fora do controle da política econômica brasileira e das decisões de Brasília. Sou da opinião de que não é o real que está forte, mas, antes de tudo, o dólar que está fraco. Logo temos pouco para fazer.

No entanto, o ministro Mantega acredita que a questão do câmbio é função direta da taxa de juros e ele vem trabalhando arduamente para alterar este estado de coisas.

Mas cada vez que ele insiste neste tópico fica uma incômoda sensação de que a política monetária está refém dos objetivos cambiais do governo, e isto é potencialmente perigoso uma vez que atrapalha – e muito – a criação de projeções razoáveis.

Ontem o BC optou por patrocinar uma alta de 0,5 ponto percentual na taxa Selic num movimento que deve ser seguido por outras altas num horizonte curto. A nota à imprensa foi sucinta e poderosa: em poucas palavras sintetizou os principais fundamentos do sistema de metas de inflação.

Um primeiro sinal bastante contundente e que agradou muito os economistas de mercado. Porém, temos que ter em mente, que o conflito sutil e constante entre a Fazenda e o BC existe e que é papel da presidente Dilma mediar esta tensão. Acreditamos que ela tem toda a capacidade de construir um discurso coerente no plano econômico; afinal ela está administrando um ótimo problema: crescimento econômico.

*André Perfeito é economista-chefe da Gradual Investimentos