Brasil tem risco menor que EUA pela 1ª vez, mas mercado vê situação pontual
Pela primeira vez, o risco de investir no Brasil ficou menor do que nos Estados Unidos. O fato ocorreu ontem (terça-feira), quando o "Credit Default Swap" (CDS, um seguro contra inadimplência do emissor) brasileiro com prazo de um ano fechou em 39,974 pontos, abaixo dos 40,349 pontos do norte-americano. Quanto menor o valor, menor o risco.
Esse é um indicador diferente do que normalmente se usava para medir o risco-país. Até a crise financeira internacional (agravada em 2008), a medida mais usada para cálculo de risco soberano era o Embi+ ((Emerging Markets Bond Index Plus), ou Índice de Bonds de Países Emergentes, criado pelo banco JP Morgan. Ele ainda é usado, mas o mercado tem preferido o CDS.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o bom posicionamento do Brasil. "Pela primeira vez na história, o risco Brasil é menor que o risco dos Estados Unidos", afirmou Mantega.
Entenda o que é o risco-país
O chamado risco-país reflete a percepção de segurança que os investidores externos têm em relação a um país.
Os governos recorrem ao mercado internacional para lançar títulos. Com esses papéis, tomam dinheiro emprestado de investidores a uma determinada taxa.
Um país que tenha um histórico de pagamentos em dia capta dinheiro a uma taxa muito inferior do que outros com problemas recentes de crédito.
- LEIA EXPLICAÇÃO COMPLETA"Pela primeira vez na história, o risco Brasil é menor que o risco dos Estados Unidos", afirmou Mantega.
O dado mostra que, na prática, investidores acreditam haver mais risco de calote dos Estados Unidos que do Brasil. Esse calote acontece, por exemplo, quando investidores compram um título do país, que, por algum motivo, decide não pagar.
Nesta quarta-feira, porém, a situação já se invertia. Às 13h10, o mesmo papel brasileiro tinha 40,701 pontos, enquanto o dos EUA apontava 40,481 pontos.
No mesmo horário, os CDS com prazo de cinco anos, que têm mais liquidez, apontavam para um risco maior do Brasil que dos Estados Unidos. O papel norte-americano negociava a 52,7 pontos, enquanto o brasileiro operava a 112 pontos.
Os títulos de um ano têm baixa liquidez e, por isso, podem enfrentar variações mais fortes.
Os títulos do Brasil e dos Estados Unidos têm algumas diferenças que afetam o cálculo do seguro, como o fato de que alguns papéis brasileiros pagam cupom semestral.
Queda nos EUA
Segundo profissionais do mercado, o aumento do custo dos CDS dos Estados Unidos está relacionado ao temor de investidores de que o Congresso do país não eleve o teto de endividamento.
Ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, disse que, caso o limite da dívida pública americana não seja elevado, os Estados Unidos deixarão de cumprir suas obrigações, o que provocaria distúrbios nos mercados financeiros.
"Fracassar em aumentar o limite da dívida iria exigir que o governo federal atrase ou descumpra pagamentos de obrigações já contratadas", disse Bernanke, em uma palestra em Washington. Diante disso, o custo do seguro de dívida dos EUA de um ano mantinha-se no nível mais elevado em mais de dois anos.
Mercado brasileiro vê situação pontual
"Tecnicamente, o ministro (Mantega) está certo [sobre o risco Brasil ser menor do que o dos Estados Unidos]", disse José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a agência de notícias Reuters.
"O discurso do Bernanke ontem foi uma coisa muito grave, não sei se as pessoas se deram conta."
"Agora, não consigo enxergar essa situação se mantendo. E o problema é que, se os Estados Unidos quebram, o CDS do Brasil não vai resistir. Se você passar por uma mudança da moeda mundial, todos os CDS perdem sentido", completou.
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, também afirmou que "rebaixar os Estados Unidos quer dizer rebaixar todo mundo ao mesmo tempo". Ele lembrou ainda que os CDS "não são uma medida perfeita" de risco.
*(Com informações da Reuters)
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