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Estímulos de EUA e Japão causarão "guerra cambial", diz Mantega

Do UOL, em São Paulo

21/09/2012 08h12

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira (21) que a última rodada de impressão de dinheiro pelos Estados Unidos e Japão vai exacerbar as guerras cambiais globais ao induzir outros países a embarcarem em políticas similares.

"A guerra cambial está sendo usada por países que são importantes e o quantitative easing (QE, programa de compra de ativos) que foi feito pelo Fed (banco central dos EUA) tem estimulado esse tipo de guerra cambial. A resposta imediata ao QE dos EUA é o QE japonês, uma vez que o Japão já reagiu e adotará medidas para desvalorizar o iene", disse Mantega em conferência organizada pela revista "Economist" em Londres.

O Banco Central do Japão anunciou na última quarta-feira (19) que vai injetar 10 trilhões de ienes (US$ 127 bilhões) na economia do país. O objetivo do governo japonês com as compras de títulos é tentar amenizar os efeitos da crise econômica e as tensões com a China que, segundo analistas, afetam as chances de uma recuperação no curto prazo. Nos EUA, o Fed lançou um programa agressivo de estímulo na quinta-feira (13), dizendo que irá comprar US$ 40 bilhões em dívida hipotecária por mês e que continuará adquirindo ativos até que as perspectivas de emprego melhorem.

"Eles estarão estimulando guerras cambiais e isso levará todos os países também a buscarem essas guerras... É natural que outros países se defendam dessas atitudes", afirmou o ministro sobre as medidas. 

Medidas contra a valorização do real

Segundo o ministro, o Brasil está preparado para adotar todas as medidas necessárias, incluindo as que já foram usadas no passado, para conter o fluxo de capital e impedir que o real se valorize excessivamente.

"Vamos adotar todas as medidas necessárias. O Banco Central comprará mais reservas, já temos um nível bastante alto de reservas e vamos comprar mais se houver uma forte oferta de dólares na economia brasileira", disse ele durante a conferência, nesta sexta-feira (21).

"Vamos fazer mais swaps reversos (operação que equivale a compra de dólares), vamos adotar mais medidas como as que adotamos no passado", completou ele. "Não vamos permitir que nossa economia perca competitividade."

País ainda tem espaço para redução de juros

Mantega afirmou ainda que Brasil ainda tem espaço para reduzir a taxa básica de juros, atualmente na mínima histórica de 7,5%.

"No Brasil temos visto uma redução da Selic. Mas ainda temos espaço para uma redução ainda maior dos juros", disse.

"O Brasil tem espaço para buscar uma política monetária que seja expansionista em contraste com muitos outros países." O Banco Central já reduziu a Selic nove vezes desde agosto de 2011.

Protecionismo

O ministro rebateu nesta sexta-feira críticas dos EUA ao protecionismo brasileiro. "É um absurdo os Estados Unidos chamarem o Brasil de protecionista". Segundo Mantega, os EUA são muito mais protecionistas que o Brasil, especialmente porque tomaram não apenas medidas claras nesse sentido, mas também porque suas rodadas de afrouxamento quantitativo desvalorizam o dólar e beneficiam as exportações americanas.

As declarações do ministro ocorrem depois dos EUA terem enviado uma carta de seu representante comercial, Ron Kirk, com severas críticas à política comercial brasileira. A carta foi considerada "inaceitável" pelo ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, relata a edição do "Valor" desta sexta-feira.

Na carta, Kirk fala da "preocupação" do governo dos EUA com o aumento de tarifas de importação no Brasil e no Mercosul. Ele cobra a revisão do aumento de tarifas de cem produtos anunciado pelo Brasil na semana passada e o cancelamento da planejada elevação das tarifas para mais cem mercadorias, em outubro.

(Com informações de Reuters e Valor)