Bandeja com gás carbônico mantém carne fresca por até um mês
Priscila Tieppo
Do UOL, em São Paulo
15/08/2013 06h00
Uma bandeja que conserva as carnes frescas por até um mês, fazendo-as manter a aparência e o sabor, é a aposta de uma empresa alemã para o comércio de carnes no país.
A embalagem é semelhante à que estamos acostumados a ver em supermercados e açougues, mas em seu interior há uma mistura de gases que fazem o alimento durar até 15 vezes mais do que em embalagens convencionais.
Tecnocarne expõe novidades tecnológicas
A técnica consiste em ocupar a embalagem com uma combinação de gás carbônico e oxigênio, que inibe a ação de bactérias e conserva o alimento fresco por até 30 dias.
Atualmente, as bandejas mais utilizadas no comércio para a venda de carnes mantêm o alimento bom para o consumo por no máximo dois dias. A embalagem à vácuo, utilizada geralmente em carnes mais nobres, preserva os alimentos próprios para o consumo por até nove dias.
Segundo a empresa Multivac, que produz a embalagem com atmosfera modificada, os gases que ela contém não alteram o cheiro nem o sabor do alimento.
Este produto foi apresentado na feira Tecnocarne, que acontece em São Paulo até esta quinta (15) e é voltada para empresários do setor.
Carne marrom pode estar boa, diz Dr. Bactéria
A aparência da carne na embalagem é o primeiro ponto que deve ser analisado pelo consumidor no momento de efetuar a compra, segundo o biomédico Roberto Figueiredo, conhecido como Dr. Bactéria.
“Quando você retira [a carne] do recipiente, é preciso manter refrigerada ou congelar. Ela pode ficar um pouco amarronzada, mas deve voltar à cor normal em dois ou três minutos depois que a embalagem foi retirada. Só não pode ser consumida se estiver esverdeada”, alerta.
Ainda de acordo com o especialista, a carne bovina se mantém boa para o consumo por até três dias na geladeira e por até seis meses no congelador.
Embalagem modificada já é popular nos EUA e Europa
"O Brasil está muito atrasado" na adoção de métodos mais eficientes para a conservação de alimentos, segundo o diretor da Multivac, Michael Teschner.
A embalagem com atmosfera modificada já é popular nos Estados Unidos e na Europa desde a década de 1970.
“[A embalagem] Ainda é pouco utilizada no país, mas acreditamos que, assim como em outros países, se tornará mais comum em cinco anos, pelo menos”, afirma.
Algumas empresas já utilizam o produto no país, como o grupo Pão de Açúcar, a Sadia e a rede de supermercados Angeloni.
Todas as embalagens para armazenagem de alimentos no Brasil são vistoriadas pelo Ministério da Agricultura e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ao comprar um alimento, o consumidor deve observar se há os selos destes órgãos.
Diminuir o desperdício de alimentos
A bandeja com atmosfera modificada pode ajudar a combater o desperdício de alimentos.
Não há estatísticas sobre a quantidade de carne jogada fora por apodrecer nas prateleiras, mas o Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Preço ainda é barreira
A embalagem com atmosfera modificada pode custar o dobro da tradicional, variando entre R$ 0,15 e R$ 0,20 cada unidade, enquanto a embalagem mais simples custa cerca de R$ 0,10.
Uma máquina de embalar com essa tecnologia, de médio porte, custa entre R$ 250 mil e R$ 500 mil. De acordo com a empresa, porém, os custos menores com mão de obra e desperdício fazem o investimento valer a pena.
A Multivac, que atua no Brasil desde 2009, não quis divulgar o faturamento. Outras empresas do setor utilizam a tecnologia no país.