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PIB: Investimento cai 3,5% e segue abaixo da média da América Latina

Brasil ainda investe menos que média da América Latina, e cenário para 2º semestre preocupa Imagem: Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

02/06/2022 09h50

O investimento na economia brasileira diminuiu 3,5% no primeiro trimestre, na comparação com o último trimestre de 2021. Com isso, passou a representar o equivalente a 18,7% do PIB (Produto Interno Bruto), abaixo dos 19,2% registrados em dezembro, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, os investimentos na economia brasileira recuaram 7,2%, após cinco trimestres seguidos de crescimento.

Com o resultado, o volume de investimentos na economia em relação ao tamanho do PIB piorou na comparação com a média verificada na América Latina e em países emergentes. É um sinal de que o Brasil precisa melhorar urgentemente esse indicador para voltar a acelerar o desenvolvimento econômico, dizem economistas.

No acumulado em quatro trimestres, o indicador conseguiu manter uma variação positiva, de 10,1%.

O problema, apontam analistas ouvidos pelo UOL, é que o país vai enfrentar um cenário econômico ainda mais adverso no restante deste ano para atração de investimentos.

O nível de investimentos no Brasil está muito aquém do necessário para viabilizar a sustentação do crescimento. Nosso nível é bem baixo para padrões internacionais. Não há como nos blindarmos totalmente dos fatores adversos advindos da economia internacional, mas podemos elaborar estratégias que nos tornem menos vulneráveis a elas.
Antonio Corrêa de Lacerda, coordenador da pós-graduação em Economia Política da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia

Importância dos investimentos na economia

O investimento na economia é medido pelo IBGE por meio do cálculo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reúne tudo que é investido para ampliar a capacidade de produção da economia. Isso vale para projetos de ampliação ou construção de novas fábricas, estradas, além de portos, aeroportos, minas ou plataformas de petróleo, por exemplo, promovidos tanto pela iniciativa privado quanto pelos governos.

É por meio desses investimentos realizados hoje que o país pode, no futuro, produzir mais, abrir novos empregos e, assim, gerar mais riquezas.

Participação no investimento no PIB, segundo o IBGE:

  • 2010: 20,5%
  • 2011: 20,6%
  • 2012: 20,7%
  • 2013: 20,9%
  • 2014: 19,9%
  • 2015: 17,8%
  • 2016: 15,5%
  • 2017: 14,6%
  • 2018: 15,1%
  • 2019: 15,5%
  • 2020: 16,6%
  • 2021: 19,2%
  • 2022: 18,7% (1º trimestre)

O que influenciou o investimento no primeiro trimestre

No primeiro trimestre, o investimento na economia foi afetado pela queda na produção interna e na importação de bens de capital. Segundo economistas, alguns fatores estão afetando o indicador:

Retomada mais fraca da economia: A reabertura da economia após os períodos de restrições por causa da pandemia ajudou o PIB a crescer 1% no primeiro trimestre, mas menos do que era esperado pelos economistas, que projetavam um avanço de 1,5%.

Projetos de infraestrutura: O andamento da agenda do programa de concessões públicas, com a realização de leilões de ferrovias, portos e aeroportos, ainda não está gerando investimentos fortes nesses setores, dizem economistas da indústria. Segundo o Ministério de Infraestrutura, desde 2019 foram leiloados 83 ativos e contratados aproximadamente R$ 100 bilhões em investimentos privados para os transportes, mas muitos desses aportes estão programados para o segundo semestre ou 2023.

Poupança interna: Para investir mais, um país precisa de capital externo, ou aumentar a poupança doméstica. O IBGE não divulgou a taxa de poupança neste primeiro trimestre, por falta de dados, que deveriam ser coletados pelo Banco Central. Mas a taxa de poupança no fim de 2021 estava em 17,4%, abaixo portanto da própria taxa de investimento.

O aumento da poupança doméstica no PIB brasileiro em 2021, de 16,6% para 17,4%, foi resultado dos juros, que começaram o ano em patamares de mínimas históricas. Mas a taxa básica começou a subir, afetando a capacidade dos agentes econômicos de poupar.

Isso afetou a migração de recursos, que estavam em títulos públicos, sem estimular a economia real, para a economia real, por meio de aplicações em ações de empresas na Bolsa, em fundos imobiliários e outros fundos de investimento que injetam capital em novos projetos.

Investimento ainda menor que média mundial

Os investimentos na economia brasileira estavam em recuperação desde 2017, quando esse indicador atingiu uma mínima histórica, de 14,6%. Mas o Brasil seguiu abaixo da média registrada no mundo, entre países emergentes e mesmo dentro da América Latina, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Uma situação que se agravou após o primeiro trimestre de 2022.

Média de investimento em relação ao PIB:

  • Mundo: 27,3%
  • Países industrializados: 22,9%
  • Países emergentes: 33,2%
  • América Latina/Caribe: 20,5%
  • Brasil: 18,7%

Segundo economistas, o período de recessão econômica, entre 2014 e 2017, impactou a poupança doméstica e tirou a competitividade do país para atrair recursos externos.

A partir de 2017, a aprovação do teto de gastos e o melhor controle das contas públicas ajudaram a reduzir a inflação, abrindo espaço para queda dos juros, que recuaram de 14,25% para 6,5% até 2019.

Veio então a pandemia, que afetou a atividade econômica. O nível de investimentos até aumentou em 2020 e 2021. Mas isso ocorreu porque foi o PIB que diminuiu -e não porque os investimentos aumentaram.

Empresas que sobreviveram à crise ficaram mais fortes para investir. O cenário de juros baixos levou o setor privado a investir mais. O teto de gastos segurou as despesas do setor público na economia e abriu espaço para o setor privado. Aí veio a pandemia, que interrompeu esse movimento.
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management

Desafios pela frente

A retomada do aumento da participação dos investimentos no PIB é fundamental para que o país possa sustentar um ritmo de crescimento econômico por mais trimestres, dizem economistas. O problema, apontam especialistas ouvidos pelo UOL, é que o ambiente econômico será mais difícil no segundo semestre.

E, por isso, tanto o PIB como o volume de investimentos devem estagnar nos atuais patamares. Os principais motivos para essa expectativa pessimista são:

Juros em alta: Inflação crescente provocada pelo encarecimento do petróleo e das commodities levou os bancos centrais no mundo a elevarem juros. No Brasil, a taxa básica Selic já atingiu o maior patamar em meia década.

Esse aumento de juros no Brasil vai começar a ter efeito mais forte sobre a atividade econômica no segundo semestre, afetando o consumo das famílias e a capacidade das empresas em investirem em novos projetos.
Felipe Sichel, economista-chefe do banco Modal

Eleições: As eleições trazem incertezas com relação à política econômica do próximo governo, seja uma reeleição, seja a posse de um novo presidente.

Incerteza não é boa para investimentos. Então não vejo um cenário positivo para crescimento de investimentos no segundo semestre.
Christiano Arrigoni, professor e economista do Ibmec

Quanto o Brasil precisa de investimentos para crescer

Segundo estudos da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), a economia brasileira teria que investir, só em infraestrutura, o equivalente a 4,3% do PIB, mas aplica atualmente 1,7% do PIB.

Sem aumento de investimentos em infraestrutura, os investimentos totais não deverão crescer muito acima dos 20% do PIB, dizem economistas.

Se o crescimento da demanda doméstica, aqui representado pelo consumo das famílias, não é acompanhado de investimentos produtivos, a capacidade da produção nacional atender a demanda nacional fica comprometida.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

E a taxa de investimento ante o PIB precisa estar pelo menos ao redor de 20% para que o crescimento potencial não caia tanto.
Christiano Arrigoni, professor e economista do Ibmec

O Brasil precisa estar em melhores condições que aqueles países que competem conosco por investimentos globais. E, nesse grupo, temos Rússia, México, África do Sul, alguns países do leste europeu, como Polônia, e algumas economias da Ásia, tirando China.
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management

O que motiva os investimentos são dois fatores: expectativa de crescimento da demanda; e expectativa de retorno, ou lucro, o que nós economistas chamamos de rentabilidade marginal do capital. Assim, os maiores empecilhos são justamente a falta de perspectiva quanto a ambos os fatores citados, além da ausência clareza de projeto de desenvolvimento.
Antonio Corrêa de Lacerda, Coordenador do Programa de Pós-graduação em Economia Política da PUCSP e presidente do Conselho Federal de Economia

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