80% da população diz que teria mais dívidas sem o parcelado sem juros
Gabriela Bulhões
Colaboração para o UOL, em São Paulo
28/09/2023 07h00
A maior parte da população diz que teria mais dívidas com o fim do parcelamento sem juros no cartão e depende dessa forma de pagamento na hora de resolver emergências, mostra nova pesquisa do Instituto Locomotiva. O estudo mapeou as consequências de um eventual fim do parcelamento e mediu a importância do cartão de crédito para os brasileiros.
O que diz a pesquisa
80% dos entrevistados disseram que acumulariam mais dívidas se o parcelado sem juros deixasse de existir. Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, no longo prazo, as pessoas deixariam de comprar ou pagariam mais caro, já que não possuem dinheiro para pagar à vista. "O problema está nos juros e não no parcelamento. Se for assim [parcelado só com juros], quem é mais rico vai pagar mais barato", diz.
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78% dos brasileiros comprariam menos se não pudessem parcelar sem juros. As categorias mais prejudicadas seriam eletrodomésticos, eletroeletrônicos, passagens aéreas, hospedagem, educação e cursos. A pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva entrevistou mil pessoas com mais de 18 anos em todo o país, no período de 30 de agosto a 11 de setembro de 2023.
67% da população é contra o fim do parcelamento sem juros no cartão de crédito. Já entre os brasileiros que possuem cartão e parcelam compras sem juros, 77% são contra o fim dessa modalidade de pagamento.
O dinheiro é pouco e é importante entender a diferença de classe. As pessoas de baixa renda usam o cartão como uma extensão do salário, é uma forma de fazer o dinheiro chegar até o final do mês.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva
Opção mais usada em emergências
O cartão de crédito é o principal meio de pagamento em imprevistos. Segundo a pesquisa, o equivalente a 51,8 milhões de brasileiros teriam que parcelar no cartão de crédito hoje em caso de necessidade de pagar uma despesa de emergência no valor de R$ 500.
Ao todo, 46% utilizariam o cartão para resolver uma emergência. Esse público se divide entre parcelar (34%) e pagar à vista para cair na fatura do próximo mês (12%). Apenas 23% teriam dinheiro para pagar na hora. Outros 31% responderam que escolheriam outra forma de pagamento.
Imprevistos acontecem e o parcelamento é um meio de equilibrar o orçamento. Se pagassem à vista, não teriam condições de arcar com todo o valor de uma vez, diz Meirelles.
Parcelamento permite compras mais caras
A maioria dos brasileiros concorda que o pagamento sem juros é o que possibilita a compra de bens materiais. Segundo a pesquisa, 75% dos entrevistados afirmaram que, sem essa modalidade, consumiria menos. Somente 11% discordam que o cartão de crédito faça diferença no planejamento financeiro, e o restante não concorda e nem discorda.
Modalidade de pagamento está mais presente em categorias como eletrodomésticos, viagens e eletrônicos. Nos últimos doze meses, 76% dos que compraram eletrodomésticos, como geladeira, fogão e micro-ondas, parcelaram suas compras sem juros. Essa fatia é de 71% entre quem comprou eletrônicos como televisão e computador.
Parcelamento permite realizar e antecipar sonhos. Sem a opção de parcelar sem juros no cartão de crédito, 74% afirmaram que não teriam como tirar um plano do papel.
Governo e Congresso buscam reduzir os juros do cartão e a inadimplência. Um projeto em tramitação no Congresso estipula prazo de 90 dias para que os bancos definam um patamar de juros para o rotativo. O texto não aborda o parcelamento de compras sem juros. Recentemente, presidente do BC falou em "disciplinar" o parcelamento. Roberto Campos Neto levantou a possibilidade de se criar uma tarifa para desincentivar o parcelamento sem juros. A continuidade ou não das compras parceladas sem juros abriu uma briga entre grandes bancos, varejo e fintechs.