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Inflação de 138%, falta de dólares e pobreza: entenda a crise na Argentina

Supermercado saqueado em Buenos Aires Imagem: Juan MABROMATA / AFP

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL, em Santo André (SP)

21/10/2023 04h00

A Argentina se prepara para o primeiro turno de suas eleições presidenciais neste domingo (22). Os candidatos disputam a presidência em meio à crise econômica, com inflação nas alturas, diversos câmbios diferentes e parte da população na pobreza. Mas como a Argentina chegou a essa situação?

Como está a situação do país vizinho

A crise argentina vive um capítulo dramático de sua história econômica. Os hermanos enfrentam uma situação complexa devido à desvalorização do peso e à alta inflação. "Quem vencer terá um dos maiores desafios econômicos da história da Argentina, isso porque a inflação está em um patamar muito alto, o que assusta os argentinos que possuem na memória a hiperinflação vivida pelo país em 1989", afirma o mestre em educação matemática Marco Cordeiro.

O país lida com uma inflação descontrolada. O aumento de preços é de 138% nos últimos 12 meses. Essa crise de custo de vida deixou 40% da população na pobreza. Com a disparada da inflação às vésperas da eleição, supermercados foram alvo de saques em algumas cidades argentinas em agosto.

A forte dependência do dólar no país afeta o câmbio e a inflação. O país depende de importações para sua indústria, e as exportações de commodities agrícolas fornecem dólares. Quando as exportações vão bem, há entrada de dólares no país; quando vão mal, o mercado cambial enfrenta pressões. A Argentina mantém dezenas de taxas de câmbio, visando controlar a saída de dólares do país, e ter opções mais baratas para comprar a moeda.

O governo enfrenta pressão do FMI para unificar as taxas de câmbio, mas teme o impacto adicional sobre a inflação. A questão cambial é um tema central na corrida presidencial. A escolha entre a estabilidade monetária, o equilíbrio fiscal e até mesmo uma eventual dolarização da economia é um dilema para o futuro da Argentina.

Como a Argentina chegou a esse ponto

Governos peronistas, com políticas populistas, fizeram os gastos públicos aumentar. Isso levou ao aumento da inflação e à perda de competitividade. Juan Domingo Perón assumiu em 1946 e teve dois mandatos presidenciais, interrompidos por uma ditadura militar. Também promoveu benefícios aos trabalhadores.

Argentina tentou dolarizar a economia. Na década de 1990, o país adotou uma "quase" dolarização. A fixou uma taxa de câmbio de 1 peso argentino para 1 dólar norte-americano. Isso moldou a cultura econômica do país, que possui uma tradição de usar o dólar em transações corriqueiras. Mas essa paridade deu lugar a uma crise no início dos anos 2000.

País passou por diferentes tipos de dólar ao longo dos anos, com múltiplas cotações, devido à falta de confiança na economia. "A maneira tradicional de poupar foi sempre 'dólar no colchão', muitas vezes, literalmente, e envio de dinheiro, por meios não bancários, para o Uruguai, conhecida como a Suíça sul-americana. Nesse cenário, o nível de reservas internacionais oficiais não poderia ser brilhante e de fato nunca foi", declara Ricardo Rodil, especialista em investimentos. "Grande parte desses costumes estão assentados numa informalidade que também contribui para erodir as contas dos governo", diz o especialista.

Dívida externa e sucessivas moratórias

País está endividado. O governo era incapaz de sustentar o déficit externo. Ou seja, saía muito mais dólar do país do que entrava, e a dívida do país só aumentava.

Já está na oitava moratória. E pode estar a caminho da nona. A primeira vez que o país suspendeu o pagamento de sua dívida foi em 1890. Em 2001, a Argentina pediu a maior moratória de todos os tempos, com uma dívida de US$ 95 bilhões. Não conseguiu sair da situação e, em 2014, pediu outra. Sem contar os defaults, que são equivalentes à inadimplência, e são o descumprimento de obrigações e condições impostas em qualquer tipo de empréstimo, diz Rodil.

A crise também está ligada aos sucessivos calotes nas dívidas externas. Com esse risco, investidores e credores externos acabam se afastando do país, o que limita ainda mais a entrada de dólares no país. Atualmente, a Argentina enfrenta uma dívida externa significativa e reservas limitadas.

O que os candidatos propõem

A maioria dos candidatos, excluindo Myriam Bregman da Frente de Esquerda, busca reduzir o gasto público. É parte da proposta de Patrícia Bullrich da coalizão de direita, Javier Milei da coalizão de extrema direita e até mesmo Juan Schiaretti da coalizão de esquerda.

Milei propõe dolarizar a economia. A ideia seria deixar de usar o peso e passar a adotar o dólar nas transações. Além disso, prevê o fim do BC argentino.

Candidato do governo busca negociar a dívida. Por outro lado, Sergio Massa, apoiado pelo presidente Alberto Fernandéz, propõe acordos e negociações com credores como uma estratégia para evitar uma possível crise econômica, diz Saulo Abouchedid, economista.

Saiba quem são os principais candidatos à presidência na Argentina.

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