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Estudei muito e me mandavam trabalhar como empregada, diz refugiada

A venezuelana Leidy, 38, está há um ano desempregada Imagem: Acervo pessoal/ Leidy Bejarano

Do UOL, em São Paulo

05/11/2023 05h00Atualizada em 06/11/2023 13h03

A musicista Leidy Johanna Renteria Bejaran, 38, é venezuelana e veio ao Brasil em busca de uma vida melhor. Mas, como tantos outros refugiados, ela está com dificuldade de encontrar um emprego no país. De acordo com uma pesquisa Colettivo, pilar de Diversidade, Equidade e Inclusão da Vagas, em parceria com o Fórum Empresas com Refugiados, mais da metade dos refugiados que estão no Brasil estão desempregados.

'Me mandavam trabalhar como empregada'

Leidy chegou ao Brasil há quatro anos. Ela entrou no país por Boa Vista (RR) e seguiu para o Rio de Janeiro, onde pôde começar sua vida. A musicista decidiu sair da Venezuela por conta da crise que castiga o país em busca de uma vida melhor no Brasil e por sempre ter gostado daqui — pelo Carnaval e pelo que via nas novelas brasileiras.

Ao chegar ao país atuou como secretária em uma ONG que ajudava pessoas refugiadas. Depois deste emprego, teve duas gestações e não conseguiu mais voltar ao mercado de trabalho — está há um ano desempregada.

Formada como musicista, sabe tocar violão, guitarra, baixo e bateria. Seu objetivo é trabalhar em algum emprego relacionado a sua área de experiência, mas está buscando qualquer vaga como secretária ou como hostess.

Hoje a rotina de Leidy se baseia em cuidar dos três filhos e estudar idiomas. Estuda francês e alemão pela internet — além de falar inglês e português. Ela começou a faculdade de administração, não concluiu, e se formou como musicista.

Quando chegou ao Brasil, diz que sentiu algum preconceito, principalmente por ser uma mulher negra.

Quando eu cheguei, por eu ser uma mulher preta, me mandavam para trabalhar como empregada. Eu não acho que é um trabalho que desonre nem nada, mas eu estudei muito, queria algo melhor.
Leidy Bejarano, refugiada

Desafios para conseguir um emprego

Leidy não é a única. Dados da Acnur mostram que havia 65.840 pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Brasil em 2022. O número cresceu 10% em comparação a 2021, quando eram 60.011 pessoas nesta condição. A maioria são venezuelanos (77,9%).

Entrada de refugiados no mercado de trabalho é mais difícil por diversos motivos, como o idioma e revalidação de diplomas. Outros pontos apontados por uma pesquisa da Acnur são falta de acesso a oportunidades e discriminação. Mesmo quem tem um emprego tem dificuldade de trabalhar em sua área de formação ou experiência.

Quatro em cada dez refugiados dizem acreditar que a discriminação é um problema durante os processos seletivos. 43,9% das pessoas refugiadas diz que a discriminação é um problema significativo no mercado de trabalho, outros 40,8% afirmaram que não e 15,2% disseram não ter certeza.

Do total, 55,7% dos entrevistados estão desempregados. Entre o grupo empregado, 16,3% trabalham na informalidade, 14,9% trabalham com carteira assinada e 10,7% não estão trabalhando e nem procurando emprego. A pesquisa foi realizada por meio de um formulário digital. Foram duas formas: envio da pesquisa diretamente para as pessoas por e-mail e entrevista presencial.

Foram ouvidas 289 pessoas refugiadas. As pessoas que responderam ao questionário são da Venezuela, República Dominicana, Colômbia, El Salvador, Cuba, Haiti, Angola, Nigéria, Moçambique, Marrocos e Afeganistão. O estudo foi realizado pelo Colettivo, pilar de Diversidade, Equidade e Inclusão da Vagas, em parceria com o Fórum Empresas com Refugiados, iniciativa da Acnur (Agência da ONU para Refugiados) e do Pacto Global da ONU no Brasil. Também participam do estudo a ONG Visão Mundial e a empresa Belgo Arames.

Como refugiado pode conseguir emprego?

Empresas precisam gerar mais programas que facilitem a inserção destas pessoas no mercado de trabalho. A orientação é buscar ajudar em ONGs, como a Caritas, e vagas afirmativas. O Acnur possui o Fórum Empresas com Refugiados, que reúne uma série de instituições que possuem programas de inclusão de pessoas refugiadas.

As empresas que quiserem participar podem se inscrever pelo site. Ao se cadastrar, a vaga é enviada a todas as ONGs parceiras daquele estado. São aceitas apenas vagas formais para divulgação no site.

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