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Desemprego cai, mas aumento da informalidade preocupa, dizem especialistas

Movimentação de entregadores de comida por aplicativo, durante fase emergencial, em frente ao shopping Center 3, na avenida Paulista, em São Paulo Imagem: Mathilde Missioneiro/Folhapress
Henrique Santiago, Do UOL e em São Paulo

31/01/2024 09h53

O Brasil teve 100,7 milhões de pessoas ocupadas em 2023, segundo divulgado pelo IBGE nesta quarta-feira (31). Embora o país tenha superado a marca pela primeira vez, especialistas apontam que o aumento da informalidade traz uma falsa sensação de empregos em abundância.

O que significam os números

Em novembro de 2023, o país ultrapassou a marca pela primeira vez: 100,2 milhões, segundo a Pnad Contínua. Na pesquisa de dezembro, novo recorde de 100,5 milhões. A taxa de desemprego é de 7,8%, a menor anual desde 2014. O IBGE entende que a população ocupada compreende tanto trabalhadores remunerados quanto não remunerada.

A informalidade é realidade para 39 milhões de pessoas. A estimativa anual de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado foi de 13,4 milhões (+5,9%) e aqueles que atuam por conta própria, de 25,6 milhões (+0,9%). Vale destacar, porém, que 37,7 milhões (+5,6%) trabalham no setor privado com carteira assinada, a média mais alta da série iniciada em 2012, aponta o IBGE. No ano passado, o rendimento real habitual foi de R$ 2.979.

Porém, a qualidade do emprego tem deixado a desejar, segundo especialistas. O diretor do escritório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para o Brasil, Vinícius Pinheiro, afirma que a informalidade hoje tem se mostrado mais dinâmica do que no início do século. Os trabalhadores por aplicativo, a nova face desse modelo, se somam ao grupo formado por empregadas domésticas e camelôs, que estruturalmente são desprovidos de direitos trabalhistas.

Economias com alta informalidade são menos produtivas. No Brasil, produtividade e informalidade andam juntas por décadas. Quanto mais se investe na formalização da melhoria dos processos de trabalho, melhor as possibilidades de aumentar a produtividade.
Vinícius Pinheiro, diretor da OIT

Mais empregos, menos qualidade

Em 2023, o Brasil deu passos para sair da instabilidade no emprego. O professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Vitor Hugo Miro, diz que o cenário atual é melhor quando comparado há dez anos, época de recessão econômica seguida da pandemia de covid-19. Nos governos Dilma, Temer e Bolsonaro, o trabalhador não escapou da piora na atividade econômica do país.

Mas a mão de obra informal tem puxado a retomada no terceiro mandato de Lula. De acordo com Miro, contratações na área de serviços e construção reforçam a oferta de oportunidades que pagam mal e exigem pouca qualificação dos profissionais. Por outro lado, o setor de tecnologia oferece vagas mais qualificadas.

O setor de serviços está entre os que mais empregam depois da pandemia. [São] muitos empregos que exigem pouca qualificação e que remuneram pior. Isso não necessariamente representa uma melhora qualitativa.
Vitor Hugo Miro, professor da UFC

A precarização do trabalho também atinge profissionais com a carteira assinada. O pesquisador em sociologia do trabalho da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Iuri Tonelo, declara que a terceirização da mão de obra traz prejuízos ao trabalhador, com salários abaixo do mercado e carga horária elevada.

Ele cita o caso de trabalho análogo à escravidão o Rio Grande do Sul como exemplo. Em março de 2023, uma operação resgatou 207 trabalhadores em vinícolas das empresas Aurora, Garibaldi e Salton na cidade de Bento Gonçalves. Eles trabalhavam para uma terceirizada, que inicialmente recusou um acordo de indenização.

As empresas já têm um mecanismo de se furtar das responsabilidades, que é falar que eram empresas terceirizadas que exploravam a força de trabalho de maneira análoga à escravidão. Aqui no Brasil tem sido essa realidade.
Iuri Tonelo, professor da UFPE

Este ano deve ser marcado pela estabilidade para o emprego, prevê especialista. O CEO da Mais Diversidade, Ricardo Sales, afirma que 2024 pode trazer menos resultados significativos devido a uma previsão menor de crescimento do PIB, em torno de 1,6%. Ele declara que as eleições municipais terão influência nas discussões sobre reforma tributária e equilíbrio fiscal, uma vez que "deputados estão muito ligados a prefeitos."

O diretor da OIT diz que 2024 pode ser marcado por medidas positivas relacionadas ao emprego. Vinícius Pinheiro considera essencial que o governo regulamente o trabalho por aplicativo, uma medida prometida por Lula na campanha presidencial e que está parada em Brasília.

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