'Não temos a opção de não comprar': mães reclamam de reajuste nos remédios
Juliana Moraes
Colaboração para o UOL, de São Paulo
09/04/2024 04h00
Talita Viana, de 29 anos, foi pega de surpresa na última sexta-feira (5) quando foi à farmácia de sempre fazer as compras de remédios do mês para o filho, que tem três anos e uma cardiopatia grave. Ela pagou cerca de R$ 6 a mais que o mês anterior em cada caixa do genérico de sildenafila. No total, precisa de 20 caixas por mês.
O que aconteceu
Preços dos remédios tiveram aumento. A moradora de Uberlândia (MG) pagou mais caro neste mês porque a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), em 31 de março, uma resolução legal da autorizou o reajuste de até 4,5% no preço máximo que pode ser cobrado dos consumidores.
Reajuste evita aumento muito acima da inflação. Segundo o órgão, o controle de preços visa proteger os interesses dos consumidores de medicamentos, evitando reajustes muito acima da inflação (medida pelo IPCA). O aumento de 4,5% é um teto que vale para todos os medicamentos.
'Gastos de vida'
Sem alternativa. Apesar de reclamar do aumento, Talita diz que seguirá comprando o medicamento.
Esse é o remédio que mais pesa no orçamento. Já deixei de pagar conta para comprar os remédios várias vezes. Quando a gente fala desse tipo de gasto, pensa como 'gasto de saúde', geralmente. Mas com ele não é isso. Aqui falamos em 'gasto de vida'. A vida dele depende disso
Talita Viana
Cardiopatia grave. Henri, o pequeno, nasceu com hipoplasia do ventrículo esquerdo, ou seja, as cavidades de um lado do coração são pequenas demais. Por isso, ele precisa tomar pelo menos quatro remédios por dia que, na última compra, somou a cifra de R$ 638.
Situação financeira apertada. Até que o filho passe pela última cirurgia de correção, Talita não consegue trabalhar fora, para cuidar dele. A família vive apenas com o salário do pai, técnico de ar-condicionado, que ainda é diluído pelo alto valor do convênio do filho, no valor de R$ 1.900 por mês.
Acaba que a gente prioriza a saúde dele do que uma conta de cartão de crédito, que parcela em 12 vezes e, quando chegar, parcela de novo até conseguir pagar
Talita Viana
Grande fatia do orçamento
Mãe não pode trabalhar fora para cuidar do filho. Assim como Talita, a neuropsicopedagoga Cinthia da Silva, de 43 anos, também não trabalha fora para cuidar do filho, que tem transtorno do espectro autista em nível moderado.
Família vive com benefício. Solteira, sua única renda é o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/LOAS), no valor mensal de R$ 1.412. Por mês, ela gasta em torno de R$ 300 com sertralina, para o filho.
Além dos remédios, Cinthia ainda precisa dar conta de todas as outras despesas da casa e da família com um salário mínimo. "O preço alto dos remédios faz toda a diferença na hora de fazer mercado", conta.
Malabarismo com o orçamento doméstico. Ela economiza como pode para fazer o dinheiro render, como realizar as terapias que o filho precisa em casa, com a sua formação na área. E teve de cortar o óleo de canabidiol, que estava custando em torno de R$ 1.400.
Preocupada com os preços dos remédios. Cinthia diz que está preocupada com a próxima compra da leva de medicamentos, que deve acontecer em maio. "Como a gente vai fazer? Não tenho a opção de não comprar. Sem, meu filho não pode ficar. A gente se vê encurralado e pressionado com esses reajustes", diz.