Mulheres influencers mostram novas perspectivas do agronegócio

As mulheres, seja por sucessão familiar ou formação especializada, estão ocupando cada vez mais espaços no mundo do agronegócio, com destaque particular para a divulgação do setor nas redes sociais. Com conteúdos curiosos sobre a rotina dos animais e da vida na roça até informações práticas e educativas, elas vêm conquistando uma audiência interessada e que inclui desde quem nunca teve contato com o tema até profissionais e empresários da área.

O lado bom do campo

A influencer Thais Diniz Andrade (26), que trabalha com a família no ramo de pecuária leiteira há três gerações, começou postando apenas fotos dos bichos e das paisagens do campo.

O intuito foi buscar reconhecimento para fazenda, para minha família que trabalha nela, trazendo mais crédito, mostrando que a pecuária leiteira tem esse lado bom, tem cuidado, carinho e como é incrível o desenvolvimento de uma bezerra até se tornar vaca.
Thais Diniz Andrade, influencer

Hoje com 210 mil seguidores no Instagram, Andrade interage mais com o público e divide seu conteúdo entre a prática da pecuária e sua rotina pessoal, falando também sobre maternidade e o amor pelos bichos. "Atualmente estou com bebê pequeno, mas sempre ajudei a criar as bezerras, cuidar delas nos primeiros dias de vida até o desmame. Ver nascer é gratificante, emocionante. O que eu mostro no meu perfil é o que eu vivo", afirma.

Para Andrade, o trabalho de influencers mulheres ajuda a reduzir ideias equivocadas sobre o agro e traz uma perspectiva diferenciada sobre a produção. "As mulheres são mais cuidadosas, zelosas, trazem uma visão diferente. E é interessante ver que elas correm atrás dos seus sonhos, que trabalham com suas famílias para isso", avalia a influencer.

Filha, neta e sobrinha de produtores rurais, ela conta que pretende passar o legado à filha, Jade, que acaba de chegar. "Quero que ela cresça reconhecendo essa força e a lida do campo. Tenho muito orgulho da minha raiz da agropecuária, da produção de leite, já vi meu pai pensar em desistir, mas prevalecer", relata.

Segundo Andrade, na pecuária leiteira só persiste quem não se importa de estar na lida a qualquer hora, sabe fazer as contas e cuidar bem dos bichos.

"Estamos buscando o bem-estar. Afinal, trabalhamos cuidando deles. Na nossa fazenda, cada vaca tem seu nome e chamamos de patroa", brinca a influencer.

Do urbano para o rural

A estudante de agronomia Lorena Macedo Bernardino (21) era uma garota da cidade, mas queria acessar a experiência e atuar no campo. "Meus pais não são produtores rurais, mas passei as férias na infância em um sítio no interior de São Paulo com a minha avó e primos. Foi ali que a paixão começou e decidi fazer vestibular para agronomia", lembra.

Quando a pandemia veio, ela decidiu inspirar outras pessoas a quebrarem o estereótipo de que é preciso ter propriedade rural para atuar com agro e agradou —atualmente são 81,4 mil seguidores no Instagram.

Entrei na faculdade e queria participar de aulas práticas, mas tudo estava acontecendo de forma virtual. Ao procurar perfis, percebi que muitos focavam em conteúdo técnico e decidi compartilhar minha própria jornada no agro, com o objetivo de ajudar outros estudantes e profissionais da área.
Lorena Macedo Bernardino, infliencer

Para ela, redes sociais representam usar linguagem técnica, mas sem deixar de ser acessível. "A comunicação tende a ser direcionada quando para um público específico, mas pode atingir também quem não consome esse conteúdo diariamente com o intuito de conscientizar sobre o setor", afirma.

Quanto ao papel das mulheres nessa difusão, Bernardino considera fundamental. "Elas mostram que o agro não é apenas um campo masculino, mas um espaço onde a colaboração e a inclusão são essenciais para o progresso. Esse movimento é importante, inspira outras mulheres a se envolverem, quebra estereótipos e promove um ambiente mais equilibrado e inovador", defende.

Tradição e empreendedorismo se unem

A influencer, engenheira agrônoma e empresária Flávia Januário Steckert (28) tem 46,4 mil seguidores no Instagram e uma marca de produtos de beleza, a Lavrà Beauty, integrada com a produção agrícola da família.

Filha e neta de produtores rurais, ela é a mais nova de três irmãs e todas estão envolvidas com os negócios focados no cultivo de arroz. O uso das redes sociais, porém, foi um divisor de águas e trouxe visibilidade para as inovações.

Além de mostrar rotinas do plantio, Steckert percebeu que as redes sociais permitiam abordar com mais humor e leveza outros temas do dia a dia no campo, como a sucessão familiar ou a integração de marcas, sem perder a propriedade e responsabilidade com o assunto.

O público amplo da internet quer consumir algo leve, para rir e compartilhar com amigos e familiares. O segmento do agro também quer isso muitas vezes, mas de uma maneira mais específica, para quem trabalha nele e se identifica.
Flávia Januário Steckert, influencer

Atuante há seis anos na fazenda em sucessão rural, ela diz que a chave é saber que o "o agro está em tudo." "Criei junto com minhas irmãs nossa marca de cosméticos, que unem agricultura e beleza. Parecem universos tão distintos, mas, na verdade, possuem grande conexão", destaca.

O propósito do projeto é enaltecer "os nossos grãos e a força da mulher do campo" e a representatividade feminina, pois o setor é "imenso" e precisa quebrar o estigma "de que não existe lugar para mulher." "Decidi estudar agronomia para estar no campo junto do meu pai, que cultivava arroz. Hoje eu sou formada e vejo cada vez mais mulheres indo para esse setor. Fico muito feliz quando alguém diz que, de alguma forma, a motivei a estar seguindo passos parecidos", afirma.