Avião cai em Vinhedo: área do voo tinha alerta 'severo' de formação de gelo
Manuela Rached Pereira
Do UOL, em São Paulo
09/08/2024 18h30Atualizada em 12/08/2024 09h52
Na área onde sobrevoava o avião comercial de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, havia um alerta para "formação severa de gelo", segundo informou o site sueco Flightradar24, que rastreia voos internacionais. Segundo especialista ouvido pelo UOL, a aeronave pode ter sofrido uma "perda súbita de sustentação da aeronave", chamada de estol. 61 pessoas morreram na queda (veja a lista).
Na área onde o 2Z2283 [número do voo] caiu, há um alerta ativo para formação de gelo severo entre 12 mil pés e 21 mil. O avião voava a 17 mil pés pouco antes do acidente.
Flightradar24, no X
Para Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST (Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral), a hipótese da queda ter sido causada pela formação de gelo nas asas da aeronave ATR-72, da Voepass Linhas Aéreas, é "plausível". "Existiam características de formação de gelo naquele momento em que o avião estava passando. Então, [a hipótese] é coerente. Olhando, à primeira vista, é bastante provável, inclusive", afirmou ele, ao UOL.
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"Entretanto, existem casos de acidentes aéreos que, na hora que você vai investigar, se encontra um fator totalmente fora da curva, que ninguém imaginou que seria aquilo, mas era. Então, só a investigação pode confirmar [a causa da queda]", disse Marinho.
Formação de gelo e queda em espiral
O presidente do BGAST explica que a formação de gelo sobre as asas de uma aeronave é causada por uma condição atmosférica em que a água fica abaixo de 0ºC e, quando o líquido se choca com a asa, forma-se uma camada de gelo.
"O acúmulo de camadas de gelo sobre as asas, pode mudar a curvatura das asas, que são justamente o que possibilita a sustentação da aeronave", segue o piloto. "Se muda demais essa curvatura, a aeronave perde a sustentação e, nesses casos, "é como se ele deixasse de ser um avião e passasse a ser uma como uma pedra, que foi o que vimos hoje", completa.
O que explica a queda do avião em espiral é justamente isso, a aeronave perde a sustentação e para de voar. Tanto é que ele não tinha nenhuma velocidade horizontal, só vertical. Por isso, ele ficou rodando no próprio eixo, até chegar no chão. Quando entra em 'parafuso chato' [quando o avião cai sem nenhuma ou quase nenhuma velocidade horizontal], é praticamente impossível de sair dele. Raul Marinho, piloto e presidente do Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral (BGAST)
Marinho explica ainda que a "perda súbita de sustentação da aeronave" é chamada de estol, situação que pode ter ocorrido antes do avião ter entrado em "parafuso chato".
Questionado se as aeronaves não deveriam estar preparadas para evitar a formação de gelo em suas asas, Marinho afirma que todo o avião comercial é preparado para enfrentar a situação.
"Esse é um tipo de problema muito comum, até trivial, eu diria. Então, todo o avião de transporte de passageiros tem esse tipo de mecanismo para lidar com formação de gelo, inclusive o ATR 72".
Sobre uma possível falha no mecanismo da aeronave da Voepass, ele conclui: "É uma possibilidade, mas também pode ter sido falha da tripulação, ou ocorrido outra coisa que a gente nem imagina".
O que aconteceu
Entre os 61 ocupantes do avião estavam 57 passageiros e quatro tripulantes, informou a Voepass, responsável pelo voo. A aeronave tinha capacidade para 68 pessoas.
Todos os ocupantes da aeronave morreram. A informação foi confirmada pelo governador Tarcísio de Freitas e pela prefeitura de Vinhedo, que auxiliou na operação de assistência ao acidente aéreo.
Aeronave saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP). A decolagem da aeronave ocorreu às 11h50 e a previsão de aterrissagem era às 13h45.