Conheça Vaca Muerta, reserva de gás argentina que pode abastecer o Brasil
Bárbara Muniz Vieira
Colaboração para o UOL de Ottawa (Canadá
20/11/2024 05h30
A reserva de Vaca Muerta, localizada na província de Neuquén, na Patagônia argentina, foi descoberta em 2010 e estima-se que possua a segunda maior jazida de gás de xisto global e a quarta de petróleo não convencional. Esse recurso energético tornou-se central na estratégia econômica da Argentina, especialmente após a construção do gasoduto Néstor Kirchner, que visa levar gás ao mercado interno e, futuramente, ao Brasil.
A exportação de gás de Vaca Muerta para o Brasil promete fortalecer a integração energética entre os países, mas levanta questões sobre os benefícios econômicos, até porque ela exige altos investimentos, impactos ambientais e desafios sociais dessa parceria.
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Por que essa parceria é importante?
A parceria entre Brasil e Argentina pode ser estratégica. Para o Brasil, o gás de Vaca Muerta ajuda a diversificar a matriz energética e reduzir a dependência do gás boliviano, cuja produção está em declínio. O gás natural é essencial tanto para a indústria quanto para a geração de eletricidade.
Além disso, a iniciativa representa um impulso econômico para a indústria brasileira. Entre os bilhões que precisarão ser investidos na reserva, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pode financiar a fabricação de tubos do gasoduto por empresas do Brasil, reforçando a cooperação econômica entre os dois países. O valor ainda não foi acertado, mas especula-se algo em torno de US$ 820 milhões.
Para a Argentina, o projeto é vital para ampliar os mercados consumidores, reduzir o déficit comercial e gerar receitas. Atualmente, a produção de gás de Vaca Muerta já abastece o mercado interno e exporta para o Chile. Com o Brasil, a Argentina poderia alcançar um mercado maior e consolidar sua posição como exportador de gás.
O que é o gasoduto Néstor Kirchner?
O gasoduto Néstor Kirchner é uma infraestrutura de 600 km projetada para transportar o gás de Vaca Muerta aos centros consumidores argentinos e, futuramente, ao Brasil. A primeira fase já está operacional, conectando a área produtora à província de Buenos Aires. A segunda fase visa expandir o duto até a fronteira com o Brasil, na cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Esse gasoduto é essencial para viabilizar o potencial energético de Vaca Muerta, que utiliza o fraturamento hidráulico (fracking) para extração. Essa técnica envolve a perfuração em profundidade e a injeção de água, areia e produtos químicos para liberar o gás e o petróleo contidos nas rochas.
Os impactos ambientais de Vaca Muerta
O uso de fracking em Vaca Muerta gera preocupações ambientais e sociais. A prática é associada à contaminação de água, solo e ar, além de emitir gases de efeito estufa. Estudos apontam que o fracking pode causar problemas de saúde, como câncer e doenças neurológicas, para as comunidades locais.
Além disso, o processo provoca tremores de terra. Desde 2015, mais de 400 sismos foram registrados em Neuquén, afetando residências e prejudicando moradores. Países como Alemanha e França já baniram o fracking devido a esses riscos.
Outro impacto significativo é nas emissões de metano, um gás de efeito estufa com capacidade 27 vezes maior que o CO? de reter calor. As chamadas emissões fugitivas ocorrem durante a injeção de fluidos no fraturamento e quando os gases retornam à superfície.
Vale a pena?
Embora o projeto ofereça benefícios econômicos e energéticos, há o risco de que o Brasil contribua para agravar os problemas ambientais e sociais enfrentados em Vaca Muerta. A expansão do gasoduto reacende o debate sobre o papel do Brasil na promoção de um modelo energético mais sustentável e responsável, considerando os desafios ambientais associados ao fracking.