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'Se não cuidar da inflação, os mais pobres pagam a conta', diz Campos Neto

Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo (SP)

13/08/2024 11h31

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça-feira (13) a atuação da autoridade monetária e afirmou que as decisões sobre a taxa Selic buscam direcionar a inflação para o intervalo da meta e tirar o peso do bolso da população mais pobre. A declaração foi realizada na Câmara dos Deputados, após convocação conjunta das Comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação.

O que aconteceu

Campos Neto defendeu a taxa de juros mais alta para conter os preços. O presidente do BC reconhece que o nível elevado da taxa Selic afeta o crescimento econômico, mas avalia que a manutenção da taxa nas últimas duas reuniões combate a inflação e beneficia a população de baixa renda.

É obvio que a taxa de juros alta freia a economia, mas o crescimento tem surpreendido para a melhor. Se todos nós pagamos as contas das taxas de juros, se a gente não cuidar da inflação quem vai pagar de verdade a conta é a população mais pobre.
Roberto Campos Neto, presidente do BC

Chefe da autoridade monetária apresentou o cenário de inflação no Brasil. Campos Neto levou à Câmara dos Deputados dados para ilustrar que o Brasil atravessa desde 2019 a menor inflação do período e a menor taxa de juros. "Não é possível afirmar que a gente tem uma taxa de juros exorbitante, apesar de ter uma inflação muito baixa", declarou.

A gente tem hoje uma taxa Selic menor do que a média e uma inflação menor do que a média, mesmo passado por um período de inflação global muito grande.
Roberto Campos Neto, presidente do BC

Ele reconhece que as taxas não refletem um cenário confortável. Apesar de indicar que as taxas de juros real e nominal são as mais baixas para um intervalo de cinco anos desde 1999, Campos Neto classifica as taxas ainda como "absurdamente altas".

O presidente do BC defende a busca pela "taxa de juros neutra". Campos Neto afirma que a política monetária condizida pela autoridade monetária tem como foco um limite dos juros "que não gera inflação e nem desinflação". "Quanto mais baixa essa taxa de juros neutra, melhor, porque você pode trabalhar com uma taxa mais baixa, sem gerar inflação", explica.

Convocação de Campos Neto atende a requerimento de dois parlamentares. O comparecimento de Campos Neto à Câmara dos Deputados foi realizado devido a pedidos apresentados pelos deputados Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) e Mário Negromonte Jr. (PP-BA), integrantes das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação, respectivamente.

Deputados questionam a manutenção da Selic em 10,5% ao ano. A avaliação considera que as últimas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) contrariam os interesses de empresários, consumidores e membros do governo. "O elevado nível de taxa de juros mantém o cenário de diminuição da concessão doméstica de crédito, acarretando a continuidade da desaceleração econômica no país", destacou Mendonça no requerimento.

Há de se considerar diversos aspectos que convergem para o início da queda da taxa Selic, como a queda de índices de inflação ao consumidor apurada nos últimos meses e a tramitação, em fase final no Congresso Nacional, do novo arcabouço fiscal, que trará as regras para garantir a estabilidade econômica e para o controle da trajetória da dívida pública.
Deputado Félix Mendonça Júnior (PDT/BA), em requerimento

Campos Neto explicou o tripê utilizado para definir a taxa Selic. Segundo o presidente da autoridade monetária, as análises do Copom (Comitê de Política Monetária) consideram as expectativas para inflação, a capacidade de crescimento do Brasil sem aumentar os preços e a inflação corrente.

Quando o Banco Central toma uma medida hoje, ela leva entre 12 e 18 meses para fazer efeito. Quando as pessoas têm uma expectativa de inflação alta, ela se reverbera na antecipação dos aumentos, o que afeta a inflação corrente.
Roberto Campos Neto, presidente do BC

BC mira o cumprimento da meta de inflação no longo prazo. As recentes movimentações são atribuídas à necessidade de manter o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no intervalo estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). "O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação", diz a última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada há uma semana.

Autoridade monetária admite elevar a Selic nos próximos meses. No documento da semana passada, o Copom destaca também que "não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado". Para isso, os diretores consideram as projeções em um "cenário alternativo" que mostra a evolução dos preços acima da meta.

Banco Central avalia que ambiente externo é "adverso". Ao justificar a interrupção do ciclo de cortes da taxa Selic e a manutenção dos juros no patamar atual nas últimas duas reuniões, o BC destaca existir "incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países".

Alvo de Lula

O presidente do BC é o principal foco das recentes críticas de Lula. Nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Roberto Campos Neto é centro dos recentes ataques do presidente da República. Lula avalia que a política monetária conduzida por Campos Neto "tem viés político".

Mandato de Campos Neto no Banco Central termina em dezembro. A partir de janeiro, a autoridade monetária será comandada por um nome indicado por Lula. Com a nomeação, o Copom terá a maioria de seus membros escolhidos pelo presidente. Atualmente, Lula conta com quatro nomes no colegiado: Gabriel Galípolo, Ailton Aquino, Rodrigo Teixeira e Paulo Picchetti.

Campos Neto garante que todos os diretores estão alinhados. "Temos quatro membros da diretoria indicados pelo governo e estamos em consonância total. Tenho certeza de que, quando eu sair, o trabalho vai continuar sendo feito de maneira técnica, porque existem pessoas e quadros técnicos que levam para que isso aconteça", disse ele.

Gabriel Galípolo é o favorito para o cargo de Campos Neto. Primeiro nomeado por Lula para integrar a diretoria do BC em seu atual mandato, o diretor de política monetária desconversa sobre a indicação dada como certa. "Meu mandato vai até 2027", declarou Galípolo nesta segunda-feira (12) ao ser questionado durante evento da Warren Investimentos.

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