Para onde vão os juros no Brasil agora?

O BC (Banco Central) divulgou na última terça-feira (6) a ata com as motivações para a manutenção da taxa básica de juros em 10,5% ao ano. O documento evidencia preocupações com a economia global, a trajetória da inflação e a valorização do dólar. Diante do cenário, a autoridade monetária não descarta a possibilidade de elevar a Selic pela primeira vez desde agosto de 2022. Na avaliação do mercado financeiro, a taxa deve permanecer estável até meados de 2025.

O que aconteceu

Ata do Copom (Comitê de Política Monetária) traz preocupações. O documento destaca temores relacionados à economia global, à trajetória da inflação e à valorização do dólar para a evolução da taxa básica de juros. "O cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes", avalia.

Projeções sobre a trajetória da inflação são observadas com cautela. Com a missão de manter o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no intervalo da meta, o BC reconhece que os preços sobem em ritmo menor. Ainda assim, o Copom destaca que "continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação".

O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.
Ata do Copom

Futuro dos juros

Diante do cenário, o BC admite possibilidade de subir a Selic. "O Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", destacam o documento ao considerar um cenário alternativo que mostra as expectativas para o IPCA acima do centro da meta.

Última alta da taxa básica de juros aconteceu há dois anos. O mês de agosto de 2022 marca a última elevação da Selic. Na ocasião, os juros básicos aumentaram 0,5 ponto percentual, de 13,25% ao ano para 13,75% ao ano. A decisão encerrou o ciclo de alta de 11,75 pontos percentuais em um ano e meio. A trajetória foi iniciada quando a taxa ocupava o menor patamar da história, de 2% ao ano.

Trajetória de quedas da taxa Selic foi interrompida em junho. Após uma série de sete cortes consecutivos, que derrubaram a taxa básica de 13,75% ao ano para 10,5% ao ano, o Copom decidiu pela manutenção da taxa na reunião de junho. O veredito dividiu os diretores do BC exigiu o voto de minerva de Roberto Campos Neto. Na ocasião, os nomeados pelo presidente Lula defenderam um corte de 0,25 ponto percentual da Selic.

Mercado prevê novo corte da taxa básica em junho de 2025. Conforme as estimativas mais recentes apresentadas por analistas no Sistema de Expectativas do BC, os juros devem permanecer estáveis até a quarta reunião do próximo ano. A previsão é de que a Selic recue 0,25 ponto percentual no encontro, dos atuais 10,5% ao ano para 10,25% ao ano.

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Projeção da taxa básica ao fim do próximo ano volta a subir. Nas últimas duas edições do Relatório Focus, divulgado semanalmente pelo BC, o mercado financeiro elevou suas previsões para a taxa Selic em dezembro de 2025. O movimento alterou as perspectivas de 9,5% ao ano para 9,75% ao ano. Na semana passada, a mediana das apostas era de 9,625% ao ano.

Expectativa não representa unanimidade entre os analistas. Para João Maurício Rosal, da Terra Investimentos, as previsões devem ser revistas. "Acreditamos que uma eventual elevação da Selic seja o caminho mais provável", afirma ele. A percepção considera as expectativas para o IPCA e baixa chance de "trégua" da inflação de serviços.

Dólar preocupa

Moeda norte-americana saltou 18,3% ante o real neste ano. A variação até o fechamento da última segunda-feira (5), o Copom destaca que a atual cotação do dólar, na casa dos R$ 5,70, aparece acima das previsões de R$ 5,55 para o final de 2024. Para os diretores do BC, a variação reflete um "cenário mais desafiador" para as economias emergentes, como o Brasil.

Os movimentos recentes de alguns dos condicionantes para a dinâmica da inflação, tais como as expectativas de inflação e a taxa de câmbio, foram amplamente debatidos. Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados.
Ata do Copom

Valorização do dólar puxa a inflação brasileira para cima. A preocupação é justificada pelo "efeito cascata" criado com o encarecimento dos importados. Com a manutenção do câmbio em um patamar elevado, o preço dos importados é reajustado e atinge, inicialmente, as matérias-primas, como o trigo e a farinha, utilizados na produção de açúcar e macarrão,

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Juros nos EUA

A política monetária norte-americana é vista com atenção. O Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, também optou pela manutenção da taxa de juros na semana passada. Fixada no intervalo entre 5,25% ao ano e 5,5% ao ano, a taxa opera no maior nível da história da economia norte-americana.

Previsões apontam queda dos juros dos EUA em setembro. Para o mercado financeiro norte-americano, a redução local dos juros no próximo mês é vista como unanimidade. As divergências envolvem o nível do corte. Enquanto 72.5% estima um corte de 0,5 ponto perceptual dos juros, os demais 27.5% é favorável a uma queda de 0,25 ponto percentual.

Ritmo das reduções pode determinar futuro da taxa Selic. "Para 2025, as expectativas no Focus podem se ajustar caso o Fed reduza os juros de maneira mais agressiva, o que poderia criar espaço para cortes na Selic, possibilitando patamares mais baixos do que os atualmente projetados", estima Hayson Silva, analista da Nova Futura.

Se os Estados Unidos realmente vier a derrubar os juros de maneira mais acelerada, isso pode favorecer o câmbio localmente, o que beneficia também a questão da inflação.
Renato Nobile, sócio da Buena Vista Capital.

Financiamentos

Ao reduzir a taxa de juros, o BC eleva o poder de compra. Principal ferramenta monetária para controlar a inflação, a Selic é a mais baixa praticada na economia e determina as taxas de investimentos e financiamentos. "O ciclo de crédito segue benigno com expansão em volume e redução de taxas na maior parte das linhas", destaca a ata do Copom.

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Diretores avaliam que cenário pode afetar as concessões. A ata também afirma que parte dos integrantes do colegiado demonstra preocupação com o eventual impacto da recente elevação nas taxas de maior prazo no dinamismo no mercado de crédito brasileiro. "Taxas de juros altas aumentam os custos de empréstimos e financiamentos, reduzindo o poder de compra dos consumidores", explica Silva.

A elevação dos juros pode limitar o acesso ao crédito e reduzir o consumo, impactando negativamente a economia geral. Além disso, pode levar a um aumento das dívidas existentes e desacelerar o crescimento econômico.
Hayson Silva, analista da Nova Futura

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