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Expointer: feira começa neste sábado com símbolo de reconstrução do RS

Vasco da Costa Gama, 90, um dos mais antigos expositores da Expointer Imagem: Fernanda Canofre

Fernanda Canofre

Colaboração para o UOL, de Esteio (RS)

24/08/2024 17h11

A Expointer abriu as portas da sua 47ª edição na manhã deste sábado (24), quase quatro meses após a catástrofe climática que atingiu grande parte do Rio Grande do Sul entre abril e maio. Para o criador de cavalos e gado, Vasco da Costa Gama, 90, porém, foi o início de sua 51ª participação na principal feira do agronegócio no Rio Grande do Sul.

Desde 1953, quando o evento era realizado no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, ele nunca deixou de levar seus animais para exposição. A transferência do evento para o município de Esteio, na região metropolitana, onde fica o parque Assis Brasil, só ocorreu nos anos 1970, quando veio também o nome atual e participação internacional.

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Este ano, Gama trouxe à feira dois cavalos quarto-de-milha e 11 pôneis, animais que cria há 80 anos, desde que um circo argentino deixou alguns em Porto Alegre. Uma fêmea da sua fazenda foi eleita a melhor na Expointer de 2023.

''É uma maneira de apresentar a evolução da criação e de vender bem. Se não vende aqui, as pessoas depois vão à fazenda. Tem que ter feira, é um estímulo para o pecuarista. Eu participo há 51 anos, sou o cara mais velho, estou sempre pronto'', diz ele, proprietário da Fazenda Bom Fim, em Guaíba, um dos municípios atingidos pelas enchentes.

Expointer segue como símbolo de reconstrução

Parque foi alagado. A decisão de manter o evento foi tomada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) na metade de junho, quando muitos municípios gaúchos ainda enfrentavam a catástrofe. O próprio parque de Exposições Assis Brasil foi alagado e teve estruturas danificadas, com a água chegando até a BR-116.

Feira tem como foco a reconstrução. ''A gente não está prevendo números, a gente está olhando para reconstrução. Superar os números do ano passado ou dos anteriores não é nossa grande missão, mas olhar como o Rio Grande não para'', afirmou a jornalistas Clair Kuhn, secretário estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação. ''Tudo que acontece aqui, por trás de uma indústria, tem um empregado recebendo seu salário.''

Apesar as dificuldades, expectativas são boas. Os organizadores estão esperançosos com esta edição, que registrou aumento de animais inscritos e de expositores do pavilhão da agricultura familiar, um dos favoritos do público.

Tomamos a decisão de realizar a feira porque entendemos que a não-realização traria um prejuízo muito maior para o setor. Ela é muito importante porque é um multiplicador dos negócios realizados.
Elizabeth Cirne-Lima, subsecretária do parque

Público pode chegar a 80 mil pessoas por dia. ''Tenho uma projeção entre 60 e 80 mil pessoas por dia. No ano passado, a gente teve entre 100 e 120 mil no primeiro final de semana. O público vem, mas talvez não com a mesma intensidade de anos anteriores por falta de aeroporto, dificuldade de acesso e de estrada'', avalia ela.

Setor de máquinas também não fala em números. Na parte de máquinas e implementos agrícolas, responsável por mais de 90% do faturamento da feira, também não se trabalha com metas ou números ainda. Na edição de 2023, o setor comercializou R$ 7,3 bilhões. O faturamento total, perto de R$ 8 bilhões, foi uma marca histórica do evento.

O momento não é bom, os agricultores, grande parte estão pensando em negociar suas dívidas, os juros estão altos, as safras vêm de dois anos de seca, por isso, não se fala em bater recorde, mas acho que tem a possibilidade de chegar aos valores do ano passado.
Claudio Bier, presidente do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS).

Necessidade de discutir dívidas. A Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), uma das promotoras da feira, também diz ainda estar trabalhando nos cálculos de perdas relacionadas à catástrofe. O cenário indica números crescentes, segundo o diretor vice-presidente Domingos Antônio Velho Lopes, com prejuízos se acumulando e necessidade de se discutir dívidas.

Por exemplo, na pecuária, tivemos em maio as chuvas e as pastagens não vieram, então, vamos ter reflexo no engorde, na recria da terneira, na prenhez'. E, sobre o endividamento, estamos pedindo por volta de R$ 5 bilhões em renegociações, e falando em mais de 150 mil produtores da agricultura familiar, mais de 60 mil médios e mais de 100 mil entre os demais. Toda a cadeia produtiva do Rio Grande do Sul.
Domingos Antônio Velho Lopes, diretor vice-presidente da Farsul

Impacto da tragédia no agro

Após a estiagem, a catástrofe. Um relatório da Emater/RS-Ascar (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural) apontou que mais de 206 mil propriedades rurais gaúchas foram afetadas pela catástrofe. Para elaborar o levantamento e chegar às localidades atingidas, extensionistas acessaram algumas a cavalo, em meio a estradas interrompidas, conta a presidente Mara Helena Saalfeld.

''Tivemos estiagem, depois tivemos, de 2023 até agora, 12 episódios de inundações e catástrofes, que não pegaram todo o estado, mas atingiram muitos. Esse de maio extrapolou tudo, a extensão foi muito grande. É muito pior do que a estiagem'', diz Mara Helena Saalfeld.

Atrações do primeiro dia

Hudson, o touro mais pesado da Expointer Imagem: Fernanda Canofre

O touro mais pesado da feira. Em uma das baias de bovinos, neste primeiro dia de feira, pessoas puxavam os telefones para fotos de Hudson da Boa Esperança, um touro vermelho, da raça Limousin, o mais pesado da feira passada, com 1.410 quilos.

Última feira de Edgar Lima, proprietário dos touros mais pesados da Expointer. O proprietário dele, Edgar Lima, 71, conta que não sabe se o touro conseguirá o feito outra vez, já que ele não entra na balança disponível na fazenda, em Cachoeira do Sul. Como essa será a última feira de Lima, ele espera que sim. Há sete anos, o touro mais pesado da Expointer está entre os animais dele.

Esse laurel não dá troféu, mas traz um retorno na mídia. Minha propriedade é conhecida nacionalmente como destaque da raça Limousin, por trazer o touro mais pesado por sete anos consecutivos. Quero ganhar o oitavo agora e vou parar.
Edgar Lima, criador.

Valores aumentam com o destaque na feira. Segundo o criador, os preços de seu gado, raça de origem francesa e usada como gado de corte, variam na média de R$ 7 mil para fêmeas, e R$ 15 mil para machos. Ele conta, porém, que no ano passado, chegou a receber uma oferta de R$ 100 mil por Hudson.

''Quando tu te sai bem ou mesmo se não consegue uma roseta ou algum título, ainda é importante porque tua propriedade fica em evidência, o nome passa a ser conhecido. A Expointer fomenta os negócios. Até agora, eu já vendi três animais e a feira mal começou'', contou ele à reportagem antes das 11h.

Apresentações musicais. O primeiro dia de Expointer terá ainda show da cantora Luísa Sonza, como parte do Festival Sou do Sul. Nos próximos dias, os shows serão das duplas Maiara e Maraisa e Fernando e Sorocaba.

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