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Real é moeda mais valorizada do mundo no mês; Bolsa fecha em baixa

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

19/09/2024 10h15Atualizada em 19/09/2024 17h21

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou esta quinta-feira (19) em queda, apesar do corte de 0,5 ponto percentual feito pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e a alta de 0,25 ponto realizada pelo Banco Central brasileiro. Na abertura, estava no positivo, mas durou pouco. Depois da primeira hora de negociações, o Ibovespa perdeu força e passou a oscilar bastante. Terminou o dia em queda de 0,47%, indo a 133.122 pontos.

O dólar comercial tinha baixa de 0,70%, indo a R$ 5,424. O dólar turismo ia a R$ 5,63. Com alta acumulada de 5,1% em setembro, o real se tornou a moeda que mais cresceu ante a divisa americana.

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O que aconteceu

A nova taxa de juros americana caiu de 5,25% a 5,5% ao ano para o intervalo de 4,75% a 5% anuais. A Selic passou de 10,50% para 10,75% ao ano, em decisão unânime. As duas decisões ajudam o câmbio e a Bolsa.

Mas os investidores ponderaram o que é melhor: Bolsa, exterior ou renda fixa? Assim, o Ibovespa perdeu impulso e caiu. "Com a alta de juros aqui, isso torna a renda fixa mais atrativa. Isso é um fato. Lá fora, as Bolsas subiram", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank.

As Bolsas de NY tiveram forte valorização. Índices Dow e S&P 500 renovaram recordes. Na Europa, as Bolsas fecharam com mais de 1% de ganhos embaladas pelo corte americano.

Por que aqui o Ibovespa não subiu?

O mercado prevê que o BC deve fazer mais altas nos juros até dezembro. Assim, os investidores passaram a fugir da Bolsa brasileira. "Esperamos que a Selic atinja 11,50% até dezembro e 11,75% até janeiro de 2025. Os cortes nas taxas devem começar só na reunião de junho do ano que vem, com a Selic terminando 2025 em 10,25%. Se o câmbio e as expectativas não melhorarem, não descartamos um ciclo de alta mais profundo", publicou o Goldman Sachs.

O Itaú também aposta em juros ainda maiores. "Em nossa visão, o comunicado indica que o próximo passo será uma alta de 50 p.b., a menos que o cenário apresente uma melhora substancial. No momento, esperamos que a taxa básica termine o ano em 11,75%", divulgou o banco.

Com isso, as taxas do Tesouro Direto, por exemplo, deram um salto. Os rendimentos dos títulos prefixados 2027 passaram de ontem para hoje de 11,72% para 11,91% ao ano. Os 2031, passaram de 11,99% para 12,10%. O Tesouro Direto com juros semestrais 2035 teve os rendimentos corrigidos de 11,93% para 12%.

O investidor — no fim das contas — preferiu investir em outras Bolsas. É que diz Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. "A Bolsa americana parece estar mais atrativa do que o Ibovespa tendo em vista que o Fed começa a baixar juros, o que pode favorecer as empresas por lá e melhorar ainda mais os seus resultados. E por aqui, é o contrário: com o aumento de juros novamente, isso pode afetar os resultados das empresas mais à frente", diz ele.

Juros altos desestimulam investidores a aplicarem em mercados voláteis, como a Bolsa brasileira. O custo do dinheiro fica menos atrativo para as empresas. "Muitas companhias listadas na Bolsa têm endividamentos atrelados à Selic. Com a alta dos juros, isso impacta diretamente o fluxo de caixa futuro dessas companhias, o que tende a baixar o preço das ações no curto prazo", diz Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital. "Mesmo com o BC aumentando juros, o mercado segue com o pensamento de que, para investir aqui, o Brasil precisa oferecer mais prêmio de risco, impulsionando os juros futuros para cima", acrescenta Silva.

Real segue se valorizando

O real vem ganhando valor sobre o dólar há sete pregões consecutivos. A moeda nacional tem perdas acumuladas no ano de 13,12% (de 31 de dezembro a 18 de setembro, conforme a Economatica). Mas em setembro, ela foi a que mais ganhou valor dentre um conjunto de 118 moedas, analisada pela Austin Rating, considerando a Ptax (taxa de câmbio de referência do real) desta quinta-feira (19). Confira:

  1. Brasil / real 4,4%
  2. Tailândia / bath 2,6%
  3. Malásia / ringgit 2,6%
  4. México / peso 2,2%
  5. Afeganistão / afegane 2,2%
  6. Japão / iene 2,1%
  7. Namíbia / dólar 2,0%
  8. África do Sul / rand 1,8%
  9. Suazilândia /lilangeni 1,8%
  10. Indonésia /rupa 1,4%

Fonte: Austin Rating

Esse fator pode dar uma alívio à inflação que o Banco Central brasileiro prevê que vai continuar crescendo. O BC tomou a decisão de alta ontem baseado em modelos com o câmbio a R$ 5,60. Mas com a diferença de juros entre EUA e Brasil, o fluxo de dólares aumenta a favor do real. Os investidores emprestam dinheiro a juros baixos no exterior e aplicam nas altas taxas brasileiras.

Preocupação com inflação

Apesar do dólar parecer agora estar jogando a favor de uma inflação menor, ainda há a pressão da energia. Hoje mais cedo, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou a 0,47% na segunda prévia de setembro, após registrar alta de 0,45% na mesma leitura de agosto, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).

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