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Mercado aprova sabatina, mas China faz Bolsa cair e dólar subir

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL

08/10/2024 10h12Atualizada em 08/10/2024 17h38

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou esta terça-feira (08) em queda de 0,38%, com o Ibovespa indo a 131.514 pontos. A decepção com as novas — e acanhadas — medidas de estímulo econômico na China desanimaram os investidores.

Embora a sabatina de Gabriel Galípolo no Senado tenha agradado ao mercado — e até provocado uma diminuição no ritmo de perdas do índice — ela não foi suficiente para conter o resultado negativo.

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O dólar fechou em alta de 0,86%, indo a R$ 5,532. O dólar turismo ficou em R$ 5,73.

O que aconteceu

O mercado esperava que mais medidas de estímulo à economia chinesa fossem anunciadas ontem à noite (horário daqui). Altos funcionários da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma falaram com repórteres, mas apenas comentaram detalhes do plano que já havia sido anunciado antes do feriado de uma semana que terminou nesta terça.

A única novidade decepcionou. O governo chinês adiantará 100 bilhões de yuans (cerca de US$ 14,1 bilhões) do orçamento de investimento de 2025. Outros 100 bilhões de yuans serão destinados a projetos de construção. Especialistas esperavam um anúncio na casa dos trilhões no curto prazo.

A China é a maior compradora dos produtos de exportação brasileiros. "O país oriental é o principal consumidor global de produtos básicos, e quando ele enfrenta dificuldades, o impacto é sentido em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos. Se a China vai mal, isso afeta todos os mercados. Por aqui, não poderia ser diferente", diz Ítalo Neiva, sócio da Choice Investimentos.

Ontem, na espera pelo pacote que não veio, muitos investidores se anteciparam e compraram ações da Vale (VALE3). A expectativa era ganhar com a alta do minério, que seria provocada pelo esperado pacote de medidas mais robusto.

Mas em vez da alta, houve uma queda expressiva no preço de produtos básicos metálicos. "O minério de ferro caiu mais de 5%, e todas as 'commodities' metálicas acompanharam a queda. Até mesmo o petróleo, mesmo com as tensões no Oriente Médio, acabou baixando 5% também", diz Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital.

Assim, VALE3 finalizou o dia encolhendo 3,40%, chegando a R$ 60,89, conforme dados preliminares.

Além disso, outros fatores internacionais causam pessimismo. Mesmo com a baixa de hoje, o valor do petróleo ainda pode jogar um balde de água fria nos cortes de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos). A aproximação do furacão Milton da costa da Flórida, nos EUA, pode provocar ainda mais valorização na cotação do óleo nos próximos dias.

O grande problema é que, quanto mais além vai o preço do petróleo, mais a inflação cresce, no Brasil e também em outros países, como os EUA. Por isso, quase ninguém mais aposta em um corte de meio ponto percentual em dezembro na taxa de juro americana. Pior: já começam a pipocar chances de que o corte não seja feito — o que é ruim para o Brasil e outros mercados emergentes.

Enquanto os juros dos EUA continuam altos, os investidores mundiais não saem do Tesouro Americano para se arriscar em Bolsas como a brasileira. Por isso, o volume do Ibovespa tem se mantido baixo. Ontem foi de R$ 17,9 bilhões. Hoje, a menos de meia hora do final do pregão, estava em apenas R$ 11,8 bilhões. A média anual diária é de R$ 23,3 bilhões.

Tudo isso fez o dólar subir. Com a crise no Oriente Médio e as apostas bem mais conservadoras para o Fed, intensifica-se a fuga de investidores para ativos mais defensivos, como a moeda americana.

Petróleo

Hoje, entretanto, o combustível teve queda depois de declarações do vice-líder do Hezbollah. Naim Qassem disse que o movimento apoia um possível cessar-fogo no Líbano. Consequentemente, o barril do tipo Brent teve desvalorização de 4,63%, indo a US$ 77,18. O WTI andou para trás 4,6%, chegando a US$ 73,57 por barril.

"Essas declarações chamaram bastante a atenção porque podem contribuir para diminuir as tensões que foram acumuladas nas últimas semanas", diz Isabela Garcia. A analista de inteligência de mercado da StoneX, entretanto, reforça que a situação por lá continua bastante delicada. "O mercado segue, e acho que hoje é um ótimo exemplo disso, muito sensível ao que está acontecendo", completou ela.

O reflexo negativo da baixa foi a perda de valor nas ações da Petrobras (PETR3 e PETR4). PETR3 foi a R$ 41,18, caindo 2,09%, enquanto PETR4 desvalorizou 2,24%, para R$ 37,51, conforme dados preliminares.

Em Brasília

A sabatina de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência do BC, agradou ao mercado. "Foi mais tranquila do que se podia esperar. Ele renovou o compromisso com a ação técnica e foi bem protocolar, sem nenhuma polêmica", diz Rodrigo Marcatti economista e presidente da Veedha Investimentos. "Mas o mercado seguirá atento ao laço que Galípolo tem com o governo federal", diz Sidney Lima, Analista da Ouro Preto Investimentos.

Ao Senado, o indicado disse que o presidente garantiu que ele terá liberdade para tomar decisões à frente do cargo, privilegiando o interesse do povo brasileiro. O nome do economista foi aprovado por unanimidade, com 26 votos favoráveis na comissão. A votação no plenário para aprovar ou não o diretor como presidente do BC deve começar ainda hoje.

Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões, e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro

Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central do Brasil

Acordo da Azul

Contrastando com o Ibovespa, as ações da área Azul (AZUL4) tiveram alta acelerada. Chegaram, durante o dia, a subir 20% depois de a companhia ter anunciado na noite de segunda-feira (7) que fez um acordo com arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos.

A empresa vai trocar cerca de R$ 3 bilhões em dívidas por emissão de até 100 milhões de novas ações preferenciais da companhia. Com isso, os ativos da Azul fecharam em alta de 9,74%, cotadas a R$ 6,31, conforme dados preliminares. Na véspera, o papel da companhia fechou o dia cotado a R$ 5,75.

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