Bolsa cai com baixa do petróleo e do ferro; dólar muda de sinal e tem queda

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta quarta-feira (23) em baixa de 0,55%, com o Ibovespa 129.236 pontos. O dólar vinha subindo desde a manhã, mas virou de sinal e fechou em queda de 0,08%, indo a R$ 5,692. O dólar turismo foi a R$ 5,93.

Sem grandes notícias positivas sobre a economia (brasileira ou chinesa) ou qualquer outra informação que possa impulsionar o índice, o Ibovespa ficou na dependência do valor de produtos básicos (commodities), como ferro e petróleo, que hoje caíram e puxaram para baixo ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3 e PETR4). Juntas elas correspondem a 23,18% do Ibovespa.

Já a moeda americana continuou pressionada pelas chances de o candidato Donald Trump vencer a eleição. Isso também arrastou o Ibovespa para o campo negativo.

O que aconteceu

Nesta quarta, o preço internacional do petróleo do tipo WTI fechou em queda 1,35% e do Brent, 1,42%. Estimativas de alta dos estoques nos Estados Unidos e os esforços do governo americano por um cessar-fogo no Oriente Médio ajudam a cotação a cair.

Na semana, porém, o óleo acumula alta de quase 3%. Mesmo assim, não vem conseguindo animar as ações da Petrobras. Na semana, PETR3 e PETR4 estão em baixa de 3,75% e 3,22% (com dados preliminares e da Economatica). A questão é que o mercado de petróleo está num sobe e desce muito grande. Nos últimos dois dias, por exemplo, teve alta. Mas hoje houve queda. Essas variações afastam os investidores.

Outro problema é a proximidade com a divulgação do balanço da companhia. Isso geralmente também faz com que as ações oscilem bastante. Os números do terceiro trimestre saem no dia 7 de novembro, após o fechamento do mercado. As ações ordinárias PETR3 caíram para R$ 38,87, em baixa de 1,45%, enquanto as preferenciais foram a R$ 35,65, com desvalorização de 1,27%, conforme dados preliminares.

Ferro

A Vale (VALE3) solta seu balanço do terceiro trimestre nesta quinta (24). As ações da companhia, assim como da Petrobras, geralmente acompanham os preços internacionais, do minério de ferro. Na China, o produto fechou hoje em baixa de 1,91%. Com isso, VALE3 foi a R$ 59,32, andando para trás 1,80%, conforme dados preliminares.

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Dólar e o "Trump Trade"

O dólar continuou em alta no mundo todo. O índice que compara a moeda ante seis outras divisas, o DXY, acumulava até ontem alta de 3% em outubro. Em relação ao real, o dólar já subiu 4,55% este mês. "Em outubro, por diversos motivos (resiliência da economia americana, juros, o chamado 'Trump trade', entre outros) o dólar está se valorizando no mundo", diz William Castro Alves estrategista chefe da Avenue.

Donald Trump prega um crescimento mais robusto da economia dos EUA, com mais tarifas de importação sobre os produtos estrangeiros — o que impulsionaria a inflação americana. Consequentemente, haveria taxas de juros mais elevadas no caso de ele ganhar a eleição. Isso afasta investidores de Bolsas emergentes, como o Brasil.

Além disso, dados mais fortes que mostram a economia americana resiliente, podem abrandar o corte de juros nos EUA. "Isso mexeu com o dólar nas últimas semanas de outubro", diz Alves.

E o mesmo motivo fez a Bolsa de Nova York ter seu pior dia no mês hoje. Tanto o Dow Jones quanto o S&P 500 tiveram perdas de quase 1% (S&P 500: -0,92% e Dow Jones: -0,96%). Com medo da situação que uma reeleição de Trump pode provocar, os investidores abandonam as Bolsas — inclusive a brasileira — e se refugiam no dólar e no Tesouro Americano, que na mesma hora tinha alta de 4,25%, atingindo seu nível mais alto desde 26 de julho.

E por que o dólar caiu no final?

Nos EUA, houve a divulgação do Livro Bege, semelhante ao Boletim Focus, aqui. O destaque foi o emprego, com aumento número de vagas. Subiram também os preços de insumos, gerando alta nos preços dos produtos. "Isso pode levar a um quadro inflacionário pior do que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vem acompanhando. Não houve grande impacto na nossa bolsa, mas o dólar, que vinha sendo negociando acima de R$ 5,70, sofreu um pequeno alívio por volta das 16h e caiu", explica Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital. Também houve forte demanda de venda.

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Embora tenham acontecido bem mais cedo, falas do diretor de assuntos internacionais e de gestão de riscos do Banco Central (BC), Paulo Picchetti, podem ter também ajudado o real. Para Picchetti, o mercado de trabalho aquecido não é um problema para o BC se não levar a um aumento dos preços. "As declarações de Picchetti renovam as expectativas de que o BC adotará uma postura mais agressiva em novembro, optando por um aumento de juros mais intenso, de 50 pontos base", diz o economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

Inflação

Uma notícia que também não ajudou foi a alta da inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) subiu 0,37% na terceira quadrissemana de outubro, após alta de 0,51% no segundo período. As informações foram divulgadas nesta quarta-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o resultado, o índice acumula alta de 4,47% em 12 meses.

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