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Dólar sobe para 2º maior valor da história com risco fiscal e medo de Trump

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

01/11/2024 10h20Atualizada em 01/11/2024 18h59

O dólar comercial subiu 1,53% nesta sexta-feira (1º), para R$ 5,8698 na venda — o maior nível de fechamento desde 13 de maio de 2020 e segundo mais alto da história, em termos nominais (sem correção da inflação), segundo o Valor Data. Em uma semana, a alta acumulada é de 2,9%. O dólar turismo avançou 1,37%, para R$ 6,088.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, caiu 1,22%, para 128.123 pontos.

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A recente valorização da moeda americana reflete a preocupação dos investidores internacionais com a possibilidade de vitória do candidato republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. No Brasil, a demora do governo federal em divulgar as esperadas medidas de corte de gastos do Orçamento tem pesado.

O que aconteceu

No mundo todo, o dólar subiu nesta sexta (1º), estendendo um movimento de alta que dura mais de uma semana. Hoje, a moeda americana teve valorização em relação a 31 das 33 moedas mais líquidas de uma cesta monitorada pelo Valor Data. Entre essas 33, o real foi o que teve o pior desempenho.

A expectativa de que Trump vença as eleições americanas faz o dólar subir porque o republicano deve implementar medidas econômicas inflacionárias, como restringir a importação de mercadorias. Com essa previsão de preços mais altos, os investidores internacionais aumentam suas apostas de que os juros americanos podem voltar a subir no ano que vem e correm para comprar ativos de renda fixa nos EUA. Para isso, vendem moeda nos seus países de origem e compram dólares. É o chamado "Trump Trade".

No Brasil, a preocupação com a situação fiscal também faz o real se desvalorizar. A notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará na Europa entre segunda-feira (4) e sábado (9) não caiu bem. O mercado esperava para logo depois das eleições municipais a divulgação de um pacote de corte de gastos, o que ainda não aconteceu. Com a ausência do ministro na próxima semana, decisões sobre o ajuste fiscal ainda devem demorar mais de dez dias para serem divulgadas.

A expectativa de um atraso na divulgação do pacote fiscal gera um clima de insegurança, especialmente com a viagem do ministro.
Christian Iarussi, especialista do escritório de agentes autônomos de investimentos The Hill Capital

Em valores reais, a cotação da moeda brasileira ante o dólar ainda está longe do recorde. As comparações históricas de valores de divisas precisam ser relativizadas devido à inflação. Corrigindo o valor do recorde anterior, de 13 de maio de 2020, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cotação de R$ 5,9007 neste momento corresponderia a R$ 7,74, de acordo com a Calculadora do Cidadão, do BC — que só tem dados até o final de setembro.

Juros nos EUA e emprego

O "Trump Trade" e a preocupação com a situação fiscal brasileira ofuscaram notícias positivas vindas do exterior nesta sexta (1º). Em outubro, foram criadas apenas 12.000 vagas de emprego nos EUA, quando a estimativa era de 110.000. Esse número aumentou as expectativas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) acelere o ritmo de corte de juros no país.

O dado de emprego dos EUA é um sinal positivo e favorável. Mas a preocupação interna com relação ao déficit fiscal e aos gastos públicos estão pesando mais que o clima externo, que vem se desenhando cada vez mais favorável para o fluxo de investimento mundial voltar para as economias emergentes.
Vito Agnelo, analista educacional da CM Capital

O Fed usa esse dado de emprego nos EUA, além de outros indicadores, para definir os juros americanos. O número de postos de trabalho criados em outubro surpreendeu o mercado. A expectativa, até agora, era de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros americana na reunião da semana que vem da autoridade monetária americana ou manutenção da taxa, que está atualmente no intervalo de 4,75% a 5% ao ano.

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