Saiba quais os setores saem ganhando no Brasil com dólar a R$ 6
Juliana Moraes
Colaboração para o UOL, de São Paulo
04/12/2024 09h46
A valorização do dólar — que atingiu novos recordes na segunda-feira (2), cotado a R$ 6,0685 — afeta diretamente os preços de produtos e serviços no Brasil que tenham alguma fase da cadeia produtiva no exterior, seja nos insumos, contratação de serviços ou até mesmo no combustível. Neste sobe e desce da moeda americana, há quem possa se beneficiar com o real desvalorizado.
O que aconteceu
O real ainda tenta se recuperar após forte alta do dólar. Nesta terça (3), fechou cotado a R$ 6,056, uma queda de 0,21% em relação ao dia anterior. O valor reflete a insegurança e insatisfação do mercado ante o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo Lula.
Dólar alto impacta diretamente na cadeia industrial. Com o dólar mais alto, empresas que dependem de insumos ou serviços do exterior veem o custo de aquisição subir, o que reflete no preço final para os consumidores. O contrário — empresas que exportam podem ter margens de lucro maiores com a alta — também é verdadeiro. Porém, para sentirem os impactos, outros fatores devem ser levados em consideração.
Um deles é a estabilização da economia. "Uma desvalorização só é relevante quando é permanente, quando as empresas sabem que o câmbio vai ficar neste novo patamar a longo prazo. Assim, conseguem se programar e acertar os contratos", diz Renan Pieri, professor da FGV-EAESP.
Exportares se preocupam com a cotação da moeda americana no futuro. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, que destaca que, acima do patamar do dólar, o mais importante é a volatilidade dele, o setor de calçados chama a atenção para a falta de estabilidade, a falta de previsibilidade nos preços futuros e contratos firmados para compra de insumos ou exportação é um ponto que preocupa.
É uma via de duas mãos. O simples fato de ter um dólar bastante apreciado não é positivo. Pode ser um pouco melhor para a exportação, mas quem garante que esse dólar vai se manter nesse patamar? Qual vai ser a cotação quando a empresa vai receber?
Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados
Outro fator relevante é o tempo. "O contrato que se fecha hoje, é do produto que vai chegar daqui a dois, três meses. É um contrato que está lidando com as condições atuais e esperadas de hoje. A exportação ou importação que vai ser computada na balança comercial de fevereiro é derivada de contratos firmados antes", explica o professor da FGV Lívio Ribeiro.
Setores beneficiados
Setor agrícola que exporta para o exterior pode ver benefícios a longo prazo. É o que aponta Sérgio Vale, consultor econômico da Abrag (Associação Brasileira do Agronegócio). "Aparentemente, 2025 será um ano de câmbio mais favorável para produtores e exportadores de commodities agrícolas e isso deve contribuir para o incremento das receitas em reais", diz.
Setores como o complexo de soja, carnes, sucroenergético, produtos florestais, café e cereais devem ficar mais competitivos na safra do próximo ano.
Turismo receptivo ganha em médio a longo prazo. Não para os próximos meses, devido às viagens já estarem programadas, mas a médio prazo. "Quem recebe turistas, como o setor hoteleiro e de gastronomia, podem ver um benefício, mas deve demorar mais um pouco. Dificilmente as pessoas mudam de destino em cima da hora", diz Ana Carolina Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
Logística se beneficia com os veículos elétricos. Aproximadamente 30% dos custos de logística são de combustível, aponta Beto Zampini, CEO da operadora logística Imediato Nexway. Com o preço do diesel atrelado ao dólar, saem ganhando margem os transportes híbridos ou elétricos.
Insumos produzidos em território nacional também ganham competitividade. A gerente nacional de logística da RV Imola, Patricia Lazzarini, diz que veículos que não usam diesel garantem as margens da empresa durante ciclos de alta do dólar. "Estamos fazendo uma experiência com esses veículos para ver se vale a pena trocar os demais, mas o Brasil ainda não tem estrutura adequada para esse tipo de veículo", comenta.
O setor de serviços que atende o mercado externo recebe em dólar. Os principais impactados são as empresas que oferecem para o exterior serviços de arquitetura e engenharia; jurídicos, contabilidade e consultoria; armazenamento e serviços auxiliares aos transportes e de TI, segundo João Diniz, presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços).
Carro nacional mais competitivo. Setor de automóveis pode ser beneficiado à medida que se torna mais competitivo no mercado interno em relação aos importados aqui dentro e, também, lá fora, com o real mais barato. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), porém, disse que as comissões técnicas ainda avaliam os efeitos do dólar.
Exportadores que não possuem estrutura de insumos no exterior também devem se fortalecer com o dólar alto, aponta Ribeiro, da FGV. Aqui, entram as indústrias que exportam, como mineradoras e siderúrgicas e outros produtos em geral, como calçados, por exemplo.