Quanto tempo o dólar vai ficar acima de R$ 6? Entenda o cenário econômico

Nos últimos dias de novembro, o dólar rompeu a barreira dos R$ 6 e acumula uma alta no ano de 23%. Conforme especialistas, nada indica que a moeda americana deve deixar esse novo patamar, pelo menos no curto prazo.

Uma série de fatores são responsáveis pela desvalorização do real. A situação fiscal do Brasil, a nova política econômica americana de aumentar taxas de importação e a redução da atividade econômica da China — devem continuar empurrando o real para baixo até o fim do ano e nos primeiros meses de 2025.

Embora seja possível que o dólar se mantenha nesse nível até o fim de 2024, para 2025 a variação vai depender de como será a aprovação e implementação das medidas fiscais pelo governo brasileiro, do novo presidente dos Estados Unidos e da efetivação -- ou não -- do Acordo União Europeia - Mercosul.
Sergio Brotto, diretor-executivo da Dascam Corretora de Câmbio

O C6 Bank, por exemplo, prevê que o dólar fique entre R$ 6 e R$ 6,10 até o fim do ano. Um dos maiores fatores que elevam o dólar no Brasil, segundo o time de economistas do banco, é a situação fiscal. "Pelas nossas contas, se aprovadas integralmente, as medidas de corte de gastos podem ser suficientes para manter de pé o arcabouço fiscal até 2026", publicaram Felipe Salles, Claudia Moreno, Claudia Rodrigues, Heliezer Jacob e Felipe Mecch, que forma a equipe econômica da instituição financeira.

Na semana passada, o governo brasileiro divulgou um pacote de medidas para diminuir seus gastos em R$ 70 bilhões em dois anos. O pacote desagradou os investidores, que acharam o montante insuficiente para reequilibrar as finanças públicas. O anúncio, ao mesmo tempo, da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil também não foi bem aceito pelo mercado.

Para 2025, a previsão inicial do banco era o dólar cortado a R$ 5,80. Mas essa expectativa foi feita antes da divulgação do pacote. "Devemos estimar um valor maior agora, porque o cenário fiscal está pior e os fatores externos também contam", diz Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

O problema, segundo o C6, é que o corte proposto está longe de ser capaz de estabilizar a dívida pública. "Calculamos que o esforço necessário seria de um superávit primário perto de 2% do PIB", afirma a equipe. Isso significaria algo em torno de R$ 220 bilhões.

Nem assim, o dólar baixaria. É o que diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online. Para ele, a moeda deve ficar na casa dos R$ 6 daqui para frente por pelo menos alguns meses. O problema, diz Galhardo, são os juros da taxa Selic. Como a perspectiva é de alta, o governo continua pagando muito juro sobre a dívida pública.

Em outubro, foram gastos R$ 111,6 bilhões com juros nominais da dívida do setor público. Esse total subiu 80,3% em comparação ao mesmo mês de 2023, segundo o Banco Central.

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As incertezas fiscais somadas às externas, com perspectiva de um dólar mais forte globalmente, levaram o Itaú a revisar a projeção de câmbio para R$ 5,70 por dólar em 2024, no final de novembro. No entanto, o banco deve soltar nova estimativa dentro de alguns dias.

Trump ameaça elevar taxas de importação. Internacionalmente, o presidente eleito dos Estados Unidos, ameaça vários países — inclusive o Brasil — com alta de tarifas, o que pode prejudicar exportações. Consequentemente, a entrada de dólares no Brasil, que ajudaria o real a se valorizar, pode sofrer baixas.

Além disso, várias das propostas de Trump - como expulsão de imigrantes - são inflacionárias. Se essa deportação em massa acontecer, faltará mão de obra, os salários vão subir e isso aumenta os preços. Com mais inflação, sobem os juros americanos e isso provoca um fluxo de dinheiro para os EUA, para aproveitar essa alta. Isso prejudica em muito mercados emergentes, como o Brasil, que perdem investidores.

Os investidores estrangeiros retiraram da Bolsa de Valores de São Paulo entre 26 de novembro e 2 de dezembro R$ 500 milhões. Em novembro, a saída mensal até a data é de R$ 2,6 bilhões. No ano até 28 de novembro, a retirada é de R$ 33,3 bilhões, conforme dados divulgados pelo Itaú.

Por isso, alguns analistas acham que o dólar deve se manter na casa dos R$ 6 até 2026. É o caso de Harrison Gonçalves, sócio da CMS Invest. "Conforme os fundamentos atuais, até pelo menos o início da corrida presidencial não deve acontecer uma recuperação", afirma.

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