Após calamidade, agro e comércio apostam em crescimento do RS em 2025
Adriana Machado
Colaboração para o UOL, em Porto Alegre (RS)
19/12/2024 05h30
Em entrevistas coletivas para a imprensa no final do ano, uma para cada setor, realizadas na segunda e na terça (nos dias 16 e 17), economistas das duas principais entidades representativas da economia gaúcha, a Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) e a Fecomércio RS, apontaram quais são os desafios a serem enfrentados e perspectivas para 2025, após a calamidade climática mais grave dos últimos tempos que deixou parte do estado alagado e destruído após as chuvas. Abaixo, um balanço de 2024 e as perspectivas para a economia gaúcha para 2025.
Agricultura
O agronegócio sofreu perdas significativas após as chuvas. Os produtores tiveram lavouras destruídas, solos contaminados e pastagens degradadas. Interrupção no abastecimento de água, luz e a deterioração das vias de transporte, comprometendo o escoamento da produção e o acesso aos insumos essenciais. Em seis mil locais foram identificados graves dificuldades no solo, comprometendo o plantio.
Relacionadas
Praticamente todas as cidades foram afetadas. Dos 497 municípios gaúchos, 478 (96,1%) sofreram algum tipo de impacto, afetando diretamente cerca de 2,4 milhões de pessoas, de acordo com dados da Defesa Civil do Rio Grande do Sul.
Pequenos proprietários foram os mais atingidos pela calamidade climática. Conforme o levantamento apresentado pela Farsul, 32% dos produtores foram gravemente afetados. 39,31% das propriedades possuem até 10 hectares. Propriedades com tamanhos intermediários, como as que possuem entre 10,1 e 20 hectares e de 20,1 a 50 hectares, representam 27,05% e 21,18% do total. Além da agricultura, outra atividade afetada foi a bovinocultura de corte.
Recursos foram liberados para ajudar o setor. A demanda total que a Farsul precisa para o agro é de R$ 6 bilhões para equalizar o quadro e dar continuidade à produção. Será realizado um acréscimo, até o final do ano, de R$ 4,5 bilhões à linha do BNDES voltada a produtores do Rio Grande do Sul afetados pelo clima.
Acordo foram feitos, mas alguns com juros altos. Foram realizados 166.396 contratos com instituições financeiras, no valor de R$ 24,5 bilhões. O que mais preocupa a entidade são cerca de 38 mil agricultores que realizaram renegociações de dívidas a juros de mercado.
O quadro atual é preocupante. Isto porque o cenário financeiro é complexo, duvidoso e cheio de desafios para os produtores rurais do Rio Grande do Sul. Muitos foram castigados por dois anos de estiagem, seguido de muita chuva e enchentes de abril e maio deste ano. As perdas motivaram a entidade a não divulgar previsões para a colheita no ciclo 2024/2025. Outra preocupação é a contratação de seguro para suas lavouras, de inadimplência e pedidos de recuperação judicial.
Apesar da situação complexa, as perspectivas são boas. Em relação à irrigação, em 2024, o governo do Estado liberou a exigência de licenciamento para pivôs centrais. Também houve a liberação para prefeituras atuarem no licenciamento ambiental em obras de barragens de até 25 hectares.
Mesmo sem divulgar números, a expectativa é que a safra de grãos será maior em 2025. Um quarto de toda a arrecadação do ICMS vem do setor.
Produção deste ano, apesar do clima, foi positiva. Mesmo com uma queda de 2,7% na área colhida em 2024, redução causada diretamente pelas chuvas excessivas, a produção total teve um aumento de 30%, devido à recuperação sobre a forte quebra de safra gerada pela seca em 2022/23.
Comércio
Empresas gaúchas acumularam até R$ 10 bilhões em perdas de ativos em razão das enchentes. Os prejuízos patrimoniais calculados contemplam estoque, maquinário, mobiliário e instalações, entre outros. Os valores são apontados em estudo preliminar realizado pela Fecomércio-RS (Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado).
A perda de PIB do RS decorrente das enchentes chegou a cerca de R$ 40 bilhões ou, aproximadamente, 5% do PIB anual. Cerca de 33 mil estabelecimentos foram diretamente afetados pelos alagamentos nos setores de comércio, serviços e indústria.
Números foram piores nos municípios que decretaram estado de calamidade pública. Já em um segundo recorte do estudo, que considera o número de CNPJs, entre matrizes e filiais, concentrados nos 46 municípios em estado de calamidade pública, as perdas avaliadas foram maiores — 66 mil estabelecimentos empresariais foram impactados (54,5 mil do comércio de bens e serviços).
O percentual de prejuízo para quem teve o seu negócio invadido revelou que 8,3% perderam tudo. Para 41,7%, os prejuízos ficaram entre 50% e 75% da loja. Acima de 75% da loja atingida foi relatado por 19,4% dos respondentes. Apenas 5,6% dos lojistas relataram perda de até 10%.
Acordo para a manutenção de empregos. O Sindilojas-POA (Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre) e o Sindec-POA (Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre) realizaram no início de maio um acordo coletivo emergencial em prol da manutenção dos empregos no setor. Com isso, flexibilizações trabalhistas foram criadas na relação empregador e empregado.
Medidas econômicas foram tomadas para a recuperação do comércio. Além de recursos emergenciais do governo federal na ordem de R$ 6 bilhões, o FGI (Fundo Garantidor de Investimento), gerido pelo BNDES, liberou R$ 500 milhões para o setor.
Prorrogação de prazo para pagamento de impostos e facilidade para aquisição de crédito. O comércio também contou com a prorrogação por no mínimo três meses dos prazos de recolhimento de tributos federais e Simples Nacional e a dispensa da apresentação da Certidão Negativa de Débitos para facilitar o acesso ao crédito em instituições financeiras públicas. Medidas que ajudaram na retomada do comércio.
Perspectivas de retomada de crescimento no setor de serviços. Os serviços, fortemente impactados pelas enchentes em 2024, devem acelerar em 2025, pela retomada da atividade e pela base de comparação bastante deprimida.
Mesmo afetado pelas enchentes, o Rio Grande do Sul poderá crescer até 4% em 2024. Fatores como rápida recuperação, ajudas financeiras pública e privada, câmbio desvalorizado e estabilidade na alíquota do ICMS contribuíram para o resultado.