Com real volátil, especulação explica alta recorde do dólar, diz economista
Do UOL, em São Paulo
19/12/2024 13h53
Com o real volátil, a especulação explica a alta histórica da moeda americana, analisou o economista Pedro Rossi, no UOL News, do Canal UOL, nesta quinta-feira (19).
A coisa que explica o dólar [ao pico histórico] se chama especulação. E o Brasil, ele tem a moeda volátil, a mais do sistema internacional, entre as moedas mais importantes já há muito tempo. Pedro Rossi, professor e economista
Na quarta (18), a moeda americana fechou em forte alta de 2,82%, cotado a R$ 6,26, novo recorde, sob temor de que o pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal seja desfigurado no Congresso. Apenas em 2024, a desvalorização do real frente ao dólar chega a 21%.
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O real flutua tanto no curto prazo em relação ao dólar, mais do que outras moedas. Isso não se vê no debate público. O que se vê no debate público? Naturalização da precificação do mercado na moeda brasileira, e se coloca a culpa desse movimento em outras coisas.
Eu não vou chatear vocês com questões mais teóricas, mas existe uma visão econômica que coloca no mercado e na sua suposta eficiência um poder disciplinador dos governos. E é isso que prevalece na mídia brasileira, no geral.
Ou seja, se diz que há um problema fiscal e que o mercado está apontando esse problema como se isso fosse natural. Isso não é natural. A questão fiscal é um processo democrático sendo discutido com todas as suas falhas no Congresso Nacional, mas não é o mercado que tem que dizer qual é a direção daquele processo.
Nenhum outro país tem esse tipo de volatilidade. Ou seja, há países com problema fiscal muito maior do que o brasileiro e não tem essa volatilidade cambial. O problema é o câmbio, o problema é o mercado de câmbio, extremamente volátil, suscetível à especulação financeira, e isso precisa ser corrigido. Pedro Rossi, professor e economista
Kupfer: Real é moeda que mais desvaloriza no mundo, e isso não é novidade
O real brasileiro é a moeda que mais se desvaloriza no mundo em relação ao dólar, neste momento, e isso não é novidade, avaliou o colunista José Paulo Kupfer.
Kupfer explicou que há três fatores que alavancam a alta do dólar. Um deles seria o peculiar mercado cambial brasileiro.
O nosso mercado de dólar à vista, de compra e venda, é um mercado pequeno, não está nem entre os 20 maiores do mundo em volume diário. Porém, o mercado de derivativos de dólar, de contratos de dólar na bolsa brasileira, na B3, é o segundo maior do mundo. Só perde para os Estados Unidos.
Então, o que acontece? Esse mercado de derivativos de dólar, onde se negocia contratos de dólar em reais, não entra dólar nesse mercado, ele por ser muito mais líquido, muito maior do que o mercado à vista, e isso é uma jabuticaba brasileira, ele é que forma o preço do mercado à vista.
Então, a moeda brasileira, o real, neste momento, é a que mais desvaloriza no mundo. Isso aí não é novidade. Toda vez que o dólar tem movimento de valorização no mundo inteiro a moeda brasileira é a que mais valoriza ou pelo menos uma das três que mais valoriza porque tem essa peculiaridade: mercado de derivativos de contratos de dólar em real na bolsa brasileira. José Paulo Kupfer, colunista do UOL
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Sakamoto: Mercado não é entidade divina e parte dele também faz terrorismo
O mercado não é uma entidade divina e intocável e parte dele também realiza terrorismo, opinou o colunista Leonardo Sakamoto.
Discordar do mercado não é pecado. Até porque o mercado não detém o monopólio da certeza e da razão.
Você tem gente no mercado que está preocupada com o futuro da economia, gente que está 'panicada', gente seguindo fake news e gente especulando loucamente para ganhar dinheiro em cima do sofrimento do país também. E gente que está usando a força de suas operações para fazer pressão contra a taxação de dividendos. Não dá para dizer que todos os operadores do mercado tenham a escala racional que o ex-ministro [Maílson da Nóbrega] colocou.
Quando aqueles 17 setores conseguiram a prorrogação dos subsídios, o mercado não jogou o dólar para R$ 6,30 pensando que o Brasil iria quebrar, apesar do tamanho da pancada para as contas públicas que aquilo significava. O Brasil estava com um problema naquele momento, o Congresso passou uma coisa que não faz sentido na atual conjuntura. Temos uma bolsa-empresário no Brasil que precisa ser cortada, mas o mercado não surta com isso.
A única solução aceita é só tascar na cabeça do trabalhador. Qualquer coisa fora disso, não agrada as elites, não agrada o poder econômico. O que acontece no final das contas? O mercado só surta quando o governo tentar algo além de cortar dos pobres. O mercado não é uma figura, não é uma pessoa, é uma confluência de interesses. Infelizmente, muitas vezes esses interesses não são os interesses do Brasil.
Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Josias: Liberado para ir a Brasília, Lula terá reunião breve com ministros
O presidente Lula foi liberado pelos médicos para voltar a Brasília após realizar novos exames, e agora terá uma reunião breve e apenas com os ministros mais próximos, declarou o colunista Josias de Souza.
O presidente, estava sendo organizado já, prevendo que o Lula retornaria, um encontro com os ministros. Inicialmente, dizia-se que esse encontro seria na Granja do Torto. Ontem se dizia que o mais provável é que o Lula preferisse fazer no Alvorada, e reduzindo muito. No final do ano passado ele fez uma reunião ministerial que durou nove horas, e o presidente, recém-operado, embora liberado pelos médicos, evidentemente não pode se submeter a uma reunião ministerial de nove horas.
Então, vai se fazer uma coisa menor, é mais confraternização do que reunião de ministros. O presidente, evidentemente, vai dar o seu recado. Prevê-se que ele fale aos ministros, que dê algumas sinalizações, até algumas broncas, mas não vai haver espaço para que muitos ministros se pronunciem durante a reunião. O que se prevê é que só os ministros palacianos ali, o Rui Costa, o Fernando Haddad, talvez. E nada mais.
Vai ser uma reunião breve e a conjuntura não é boa para o Lula. Ele está chegando num momento difícil, enfrenta desconfiança do mercado e chantagem do Congresso Nacional. De fato, vai precisar de muita energia.
Josias de Souza
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