A R$ 6,267, dólar tem novo recorde com temor por pacote fiscal; Bolsa cai
O dólar comercial terminou esta quarta-feira (18) vendido a R$ 6,267, atingindo novamente o maior nível nominal da história. O temor de que o pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal seja desfigurado no Congresso fez a moeda americana se valorizar desde o início do dia. Mas a alta se intensificou após o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reduzir sua taxa de juros principal em 0,25 ponto base e sinalizar só mais duas reduções adicionais em 2025.
Influenciada pelo câmbio e pelo anúncio do BC americano, a Bolsa de Valores terminou o dia em forte queda, com o Ibovespa a 120.969,78.
O que aconteceu
O dólar comercial teve alta de 2,82%, vendido a R$ 6,267. Essa alta é a maior desde 10 de novembro de 2022. O turismo subiu 2,30%, para R$ 6,477.
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em baixa de 3,15%. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, caiu para 120.769,78 pontos.
Dizer que, a R$ 6,267, o dólar comercial atingiu novo recorde histórico desconsidera a inflação. Até hoje, a maior cotação real, incluindo a inflação, foi em setembro de 2002, na primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corrigido pela inflação, o valor do dólar naquela ocasião seria hoje o correspondente a R$ 8,75.
A preocupação de que o pacote de corte de gastos — considerado fraco pelos investidores — possa ser ainda mais desidratado no Congresso é o que fez o real perder valor. Mas a decisão dos juros nos Estados Unidos agravou a elevação do dólar no final da tarde. A taxa americana agora está no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.
O Fed, que cortou os juros em 0,25 ponto, indicou que provavelmente reduzirá os juros apenas mais duas vezes em 2025. Isso causa uma piora na perspectiva de fluxo de investimentos para o Brasil. Com as taxas americanas menores, mas ainda em um patamar alto, os investidores continuam aplicando seu dinheiro nos EUA. Eles preferem a segurança do mercado americano a vir se arriscar aqui, mesmo com a Selic em alta. Sem dólares vindo para o Brasil, a cotação piora.
Além disso, na contramão do pacote de corte de gastos, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com previsão de mais despesas. Os deputados rejeitaram a possibilidade de corte em emendas parlamentares, aumentando o reajuste do fundo partidário, autorizando gastos de estatais fora do arcabouço fiscal e afrouxando o cumprimento da meta fiscal no ano que vem.
Para o mercado, o "timing" das intervenções do BC esta semana também piorou a crise cambial. "Foi o pior possível", disse André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
Até a semana passada, o banco só havia atuado uma vez na atual gestão Lula, enquanto, no governo anterior, foram 113 vezes. "Quando o BC fica 'quietinho' ano todo e entra vendendo dólares no momento mais agudo, isso passa para o mercado uma mensagem de que se o banco está entrando agora é porque vai ficar ainda pior", diz Galhardo. A corrida de investidores por dólares, segundo ele, piora a situação.
Votação
É a votação do pacote de corte de gastos que preocupa mais o mercado. "Uma contenção mais robusta da valorização do dólar depende de avanços concretos e de uma postura mais clara em relação às reformas estruturais", diz Bruno Nascimento, analista da B&T Câmbio.
Na noite desta terça (17), a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do primeiro projeto do pacote de cortes. O projeto de lei complementar relatado pelo deputado Átila Lira (PP-PI) cria "reforços" ao arcabouço fiscal, prevendo disparo de novos gatilhos para congelamento de gastos em caso de piora das contas públicas, além de permitir que o governo possa bloquear até 15% das emendas parlamentares.
Uma das medidas proposta pela equipe econômica, contudo, caiu: a que limitava a restituição de créditos tributários pelas empresas. A proposta enfrentava forte resistência entre vários setores da economia, além de ter integrado uma MP (Medida Provisória) editada pelo governo em junho e que foi devolvida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
A expectativa é de que o projeto seja votado no Senado até a próxima sexta-feira, 20, antes do recesso parlamentar. O Congresso ainda tentará aprovar outro projeto de lei encaminhado pela Fazenda, além de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição).
A Fazenda estima que os três projetos juntos vão gerar uma economia de R$ 71,9 bilhões em dois anos, mas especialistas em contas públicas contestam esse cálculo e preveem uma economia menor, entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões. As contas ainda terão de ser refeitas após as modificações feitas no Congresso.
* Com informações da Agência Estado
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