Desconfiança dos brasileiros limita avanço das criptos no país; entenda
Leandro Carneiro
Colaboração para o UOL, em São Paulo
09/01/2025 15h16
O bitcoin passou do valor de R$ 500 mil no fim de 2024. Ele, assim como outros criptoativos como ethereum e solana, se tornaram, nos últimos anos, um dos principais ativos pelo mundo, com governos como EUA e China colocando parte de suas reservas nas criptomoedas.
Qual a situação do Brasil?
O Brasil faz parte do top 10 de ativos digitais do mundo. São 17,5% da população aportando valores em criptoativos, de acordo com levantamento da Triple-A, feito em 2024.
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O país está atrás de Emirados Árabes (25,3%), Singapura (24,4%), Turquia (19,3%), Argentina (18,9%) e Tailândia (17,6%).
Em uma pesquisa divulgada pela Bitso em 2022, 47% dos brasileiros consideravam investir em criptomoedas.
O que ainda impede os brasileiros de investirem?
Investe-se pouco no Brasil. "O mercado de investimentos no Brasil ainda é muito pequeno como um todo, e quando a gente olha para cripto, não temos tantos investidores qualificados quanto na Bolsa, por exemplo. O Brasil ainda vê o mercado cripto como aposta e precisa amadurecer para trazer grandes investidores", afirmou Mychel Mendes, CFO da Tokeniza.
Receio de ser enganado trava muitos brasileiros. "Existem muitos golpes no Brasil e o mercado cripto se tornou mais uma possibilidade para os golpistas, infelizmente. Nesse ponto, acredito que a regulamentação vai ajudar a trazer uma sensação de segurança maior para o investidor", completou.
Variação desses ativos afasta boa parte dos investidores. O desconforto com a segurança é um fator apontado também por Ahmed El Khatib, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), que ressalta a volatilidade dos ativos. "A insegurança persiste devido à volatilidade extrema desse mercado, em que criptomoedas como bitcoin e ethereum podem sofrer flutuações significativas em curtos períodos, exacerbadas por notícias do mercado e manipulação", falou.
A cultura financeira conservadora dos investidores tradicionais no Brasil, que preferem ativos mais seguros, como ações e imóveis, é alimentada pela educação financeira limitada e experiências passadas com fraudes no setor. Além disso, a percepção errônea de que as criptomoedas são uma moda passageira dificulta sua aceitação mais ampla.
Ahmed El Khatib, coordenador da Fecap
E em relação ao Governo?
O Brasil não possui uma reserva em criptoativos, ao contrário do que acontece com outros países.
Segundo dados da Binance, os EUA são a nação com mais reservas de bitcoin do mundo, com 213.246 moedas virtuais (cerca de R$ 1,22 trilhão). O mesmo vale para a China, que já adquiriu 190 mil bitcoins (aproximadamente R$ 109 bilhões).
Faltam regras mais claras. A criação de um marco regulatório sólido poderia aumentar a confiança dos investidores e incentivar a adoção institucional das criptos. "O país também possui um ecossistema tecnológico vibrante e um crescimento significativo das fintechs que podem facilitar o acesso a essas moedas. No entanto, desafios como preocupações com segurança cibernética e a volatilidade econômica precisam ser superados", diz El Khatib.
O ideal era o Brasil fazer isso o mais rápido possível, mas infelizmente não acredito que isso vá ocorrer antes de se tornar muito óbvio. O Brasil nunca teve uma visão política de longo prazo, então não vejo que o Governo brasileiro enxergue isso de maneira técnica, logo só deve acontecer quando for politicamente interessante para interesses de curto prazo
Mychel Mendes, CFO da Tokeniza.