Suzano tem recebido demanda muito forte da China, diz presidente
SÃO PAULO (Reuters) - A Suzano tem recebido uma demanda muito forte de produtores de celulose na China, que reduziram a produção para comprar de terceiros diante dos preços baixos da commodity no mercado global, afirmou nesta quarta-feira o presidente da companhia, Walter Schalka.
"O ajuste do mercado de celulose agora está se dando pela oferta, com empresas na China reduzindo produção e comprando celulose", disse o executivo a jornalistas durante Conferência Anual do Santander Brasil.
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"Temos recebido muita demanda. Os estoques nos portos e nos clientes estão se ajustando", acrescentou, ressaltando que chegará em breve o momento de reestocagem que deve ajudar a acelerar a recuperação dos preços.
A companhia anunciou na sexta-feira um aumento de 20 dólares no preço da tonelada de celulose vendida à China a partir de setembro, o que levou valor do produto para cerca de 550 dólares, afirmou o executivo.
"Vamos voltar para um patamar adequado", acrescentou o executivo se referindo aos preços da indústria global de celulose, mas sem fazer previsão sobre o momento.
A Suzano está se preparando para a entrada em operação de sua nova fábrica de celulose, instalada no Mato Grosso do Sul, no próximo ano. Schalka afirmou que a empresa vai operar a unidade com "capacidade total", o que deve pressionar os preços da celulose "no curto prazo" por causa das novas capacidades chegando ao mercado, que incluem instalações no Uruguai e no Chile, além da própria fábrica nova da Suzano.
"Estamos tentando reduzir a diferença de preços da China com a Europa e achamos que temos condições de implementar", disse Schalka sobre o reajuste anunciado na semana passada, que incluiu aumento de 50 dólares na Europa e Estados Unidos.
Segundo ele, a média histórica de preços da celulose nos últimos 10 anos é de cerca de 625 dólares a tonelada. A expectativa do executivo é que o mercado passe por uma "fase mais benigna" para os produtores da commodity após o período de fechamentos de capacidade produtiva, das empresas que não conseguiram fazer seus custos acompanharem a queda nos preços do insumo, mas ele não precisou a partir de quando isso se dará.
A indústria, por ora, não tem projetos de novas capacidades entrando no mercado para além de 2025, disse Schalka, lembrando que uma linha de produção costuma levar 30 meses para ser construída.
PAPEL E M&A
Schalka fez os comentários ao lado do presidente-executivo da Klabin, maior fabricante de papel para embalagens no Brasil, Cristiano Teixeira. Segundo Teixeira, a demanda no Brasil tem crescido nos últimos meses, mas ele avalia que o movimento decorre por fatores mais sazonais.
"O teste de ferro é agora com a queda dos juros e a inflação recuando e como o mercado (de papel no Brasil) vai se recuperar", disse Teixeira. "O ano de 2024 me preocupa bastante pela política fiscal e possibilidade de volta da inflação", disse o presidente da Klabin.
"Agora a demanda está boa por questão sazonal", disse ele sobre o terceiro trimestre, período de preparação do varejo para as vendas de fim de ano.
Questionado sobre possibilidades de movimentos de fusão e aquisição na indústria de papel e celulose, Teixeira afirmou que as empresas do setor no mundo "estão baratas", em parte devido ao que considera como uma subavaliação do mercado em relação aos ativos das empresas, notamente as terras e o ativo florestal que possuem.
"O setor é grande e de baixo valor e acho que você tem que concentrar para construir valor", afirmou o executivo.
Por sua vez, Schalka citou que o potencial de valor dos bancos de terrenos das empresas "não estão" refletidos nos balanços do setor e considerou como um erro o mercado precificar a indústria de papel e celulose a múltiplos próximos de 7 vezes o Ebitda, enquanto o setor de consumo chega a 12 vezes.
"É inconcebível termos múltiplos muito diferentes de outros setores", disse o presidente da Suzano, citando ainda o potencial de valorização gerado pelo mercado de carbono, em que a empresa enxerga possibilidade de certificar 22 milhões de toneladas de créditos de carbono ante total atual de 1,7 milhão.
(Por Alberto Alerigi Jr.)