Marinha visa "atingir logística do crime organizado" durante GLO, diz porta-voz
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Marinha vai atuar com 1.900 militares e 120 equipamentos terrestres e marítimos para tentar quebrar as conexões logísticas do crime organizado, que tem usado portos do país para o embarque e desembarque de drogas e armas, afirmou nesta segunda-feira o porta-voz da Força, capitão de fragata Rodrigo Fernandes.
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Entrou em vigor nesta segunda a operação de Garanta da Lei da Ordem (GLO) determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que as Forças Armadas auxiliem as demais forças de segurança no combate ao crime organizado, em especial no Rio de Janeiro. A ação terá validade até o começo de maio de 2024.
“A Marinha vai estar focada em atingir a logística do crime organizado. Com planejamento, estratégia bem definida e inteligência coordenada esperamos atacar o fluxo logístico para de alguma forma enfraquecer o crime organizado“, afirmou o capitão à Reuters.
"Vamos intensificar nossas ações em áreas como a Baía de Guanabara, Sepetiba, acessos ao porto de Santos e lago de Itaipu. Vamos atuar nos portos de Santos, Rio de Janeiro e Itaguaí (RJ)“, acrescentou.
Sob o decreto da GLO, as Forças Armadas terão um poder de polícia nas localidades em que atuarão. De acordo com o porta-voz da Marinha, a intenção é "sempre que possível" atuar em conjunto com outras instituições de segurança para ampliar os esforços no combate ao crime organizado.
Enquanto a Marinha vai se concentrar nos portos e seus acessos, em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo, a Força Aérea terá uma atuação ampliada em aeroportos e o Exército vai se dedicar às regiões de fronteira, por onde também passam contrabandos de armas e drogas que alimentam o crime organizado.
A atuação da Marinha nos portos, onde organizações criminosas especializadas na condução do tráfico internacional de drogas e armamentos têm atuado, terá como objetivo "a quebra do fluxo logístico do tráfico", afirmou o capitão.
Desde as primeiras horas desta segunda-feira a Marinha reforçou a fiscalização nos acessos ao porto do Rio com cães farejadores e equipamentos para controle juntamente com a Autoridade Portuária, a Polícia Federal e a Receita Federal, que já atuam regularmente no local.
Os militares também irão passar a fiscalizar cargas que são movimentadas nos portos. “Em caso de localização de algum ilícito, por força do decreto, poderemos atuar com poder de polícia do começo ao fim“, disse o porta-voz, lembrando que, sem a GLO, quando uma irregularidade era detectada em uma operação de fiscalização no mar os militares não tinham permissão para efetuar uma eventual apreensão.
Segundo o capitão, a GLO deve proporcionar uma maior integração da inteligência das Forças Armadas com as forças regulares e permanentes, como PF e polícias estaduais. “Com dados de inteligência de todos os órgãos podemos fazer ajustes e correções eventuais de estratégias“, disse.
O decreto para implantação da GLO foi assinado na semana passada por Lula na tentativa de combater o crime organizado em meio a uma onda de violência, em especial no Rio de Janeiro, onde diferentes grupos rivais fortemente armados travam disputas territoriais pela venda de drogas e exploração de diversos serviços.
A decisão de ampliar a presença das Forças Armadas foi tomada apesar da resistência inicial de Lula, que chegou a dizer, em entrevista, que enquanto fosse presidente não haveria GLO no país e que não queria militar "nas favelas trocando tiro com bandidos".
A GLO é um tipo de operação militar determinada exclusivamente pelo chefe do Executivo e efetivada pelas Forças Armadas a fim de preservar a ordem pública. Ela só pode ser instaurada em caso de esgotamento de outros instrumentos previstos pela Constituição, como o uso das polícias na manutenção da segurança pública.