BC eleva Selic em 0,50 ponto, a 11,25%, e defende que governo adote medidas fiscais estruturais

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira acelerar o ritmo de aperto nos juros ao elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria que não indicou os próximos passos da política monetária, defendendo ainda que o governo adote medidas fiscais estruturais que gerem impactos para a política monetária.

Em meio à espera pelo anúncio do pacote de contenção de despesas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a autoridade monetária afirmou que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado "de forma relevante" os preços de ativos e as expectativas, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio.

"O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado.

Membros da diretoria do BC têm destacado o efeito negativo de incertezas fiscais no mercado, com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmando em mais de uma ocasião que o país precisa passar por um choque fiscal positivo se quiser conviver com juros mais baixos.

Em relação ao cenário global, apesar de não mencionar diretamente a eleição de Donald Trump para retornar à presidência dos Estados Unidos, o Copom apontou que o ambiente permanece desafiador em função "principalmente" da conjuntura econômica incerta no país norte-americano.

COMPROMISSO COM A META

No comunicado, o Copom não deixou claro o que fará na reunião de dezembro, a última antes de Campos Neto passar a presidência do BC para Gabriel Galípolo, voltando a afirmar que o ritmo de ajustes futuros nos juros básicos e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo "firme compromisso de convergência da inflação à meta".

De acordo com o comunicado, as decisões futuras sobre os juros dependerão da evolução da dinâmica da inflação, do nível de ociosidade da economia e das projeções, expectativas e balanço de riscos para os preços à frente.

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A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual 30 de 34 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 0,50 ponto.

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado enfaticamente com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passando de 3,95% para 4,03% entre setembro e esta semana.

O próprio BC piorou nesta quarta suas projeções de inflação em relação a setembro, com estimativas passando de 4,3% para 4,6% em 2024 e de 3,7% para 3,9% em 2025, considerando o cenário de referência, que segue as projeções de mercado para a trajetória dos juros. Para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante da política monetária, a projeção está em 3,6%.

Para as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de 5,75 reais, acima dos 5,60 reais usados na reunião de setembro.

O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Na avaliação da economista do C6 Bank Claudia Moreno, ao apresentar um cenário pior para a inflação, o BC sugere que precisará fazer um aperto nos juros mais forte do que o precificado pelo mercado, de 12,50% até meados de 2025.

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“O BC deixou o cenário em aberto à frente, tem essa questão que o cenário está pior, mas, por outro lado, ele espera que a divulgação do pacote fiscal traga um efeito positivo sobre as perspectivas de inflação”, disse.

Para o BC, a atividade econômica e o mercado de trabalho no país seguem apresentando dinamismo, com dados da inflação cheia e subjacente se situando acima da meta para a inflação.

Com o ajuste desta quarta, a Selic atingiu o maior nível desde março deste ano, quando também estava em 11,25% em meio a um ciclo de cortes nos juros. O Copom reiniciou o ciclo de alta nos juros básicos em setembro, quando elevou a Selic em 0,25 ponto percentual.

Em comunicado com poucas mudanças em relação a setembro, o BC reafirmou nesta quarta que o cenário atual, marcado por resiliência da atividade e do mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista.

Após apontar em setembro que o balanço de riscos para a inflação à frente havia se tornado assimétrico, com chance maior de alta nos preços, o BC manteve a avaliação nesta quarta, sem mudanças nos fatores mencionados.

Para a autoridade monetária, os riscos de alta para os preços estão relacionados a uma desancoragem das expectativas por período mais longo, uma resiliência da inflação de serviços e uma conjugação de políticas externa e interna com impacto inflacionário.

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Nos riscos de baixa, o BC vê uma desaceleração maior que a esperada da atividade global e um impacto mais forte que o previsto do aperto monetário sobre a desinflação global.

Em nota, o time de macroeconomia da XP avaliou que o comunicado desta quarta manteve o tom duro em relação à política monetária à frente, indicando que o "plano de voo não divulgado" do Copom provavelmente contempla uma taxa terminal da Selic acima dos 12,50% projetados pelo mercado.

"Diante desse cenário mais desafiador para a inflação e a nova previsão do Copom, revisamos nossa projeção de taxa Selic terminal de 12,00% (cenário base divulgado em agosto) para 13,25%", apontou a XP.

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