Autoridades do BCE mostram nervosismo com crescimento fraco e iminência de tarifas de Trump

LISBOA/HELSINQUE (Reuters) - A taxa de juros da zona do euro continuará caindo, uma vez que a inflação tem desacelerado, mas o crescimento econômico fraco, que será potencialmente exacerbado pelas tarifas comerciais dos Estados Unidos, pode ser o próximo grande problema no horizonte, disseram autoridades do Banco Central Europeu nesta terça-feira.

O BCE já cortou os juros três vezes este ano e os investidores esperam novos cortes em todas as reuniões de política monetária até junho do próximo ano, à medida que a zona do euro está mais uma vez rondando uma recessão.

O presidente do banco central português, Mário Centeno, disse que a economia está estagnada e que "os riscos estão se acumulando para baixo", sendo que as tarifas prometidas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, representam um risco adicional.

Centeno alertou o BCE para não adiar as reduções nos juros, pois o risco de a inflação ficar abaixo da meta está aumentando.

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, por sua vez, disse que o crescimento da zona do euro está se tornando a principal preocupação do banco e que as tarifas correm o risco de desencadear um ciclo vicioso de guerras comerciais.

"As preocupações com a inflação alta foram transferidas para o crescimento econômico", disse ele ao jornal finlandês Helsingin Sanomat.

"Quando você impõe tarifas, precisa estar preparado para que o outro lado retalie, o que pode dar início a um círculo vicioso", disse de Guindos. "Eventualmente, isso pode se transformar em uma guerra comercial, o que seria extremamente prejudicial para a economia mundial."

Isso poderia enfraquecer o crescimento, aumentar a inflação e afetar a estabilidade financeira em uma situação de "perda-perda" para todos, disse de Guindos.

Trump, que tem dito que a Europa pagará um preço alto por manter um superávit comercial com os EUA durante anos, prometeu na segunda-feira impor grandes tarifas aos três principais parceiros comerciais de seu país -- Canadá, México e China -- assim que assumir o cargo.

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Mesmo que o crescimento europeu sofra com o aumento das tarifas dos EUA, o impacto na inflação pode não ser tão grande, disse o presidente do banco central da França em uma conferência de investidores em Paris.

"O efeito da inflação pode ser relativamente limitado na Europa, no entanto, as taxas de juros de longo prazo definidas pelo mercado têm uma certa tendência a atravessar o Atlântico", disse Francois Villeroy de Galhau.

"Não acho que isso mude muito as taxas de curto prazo europeias, mas as taxas de longo prazo podem ter um efeito de transição."

O presidente do banco central finlandês, Olli Rehn, acrescentou seu próprio alerta sobre o crescimento, prevendo uma atividade moderada e uma recuperação morna, o que pode levar o BCE a reduzir a taxa para o chamado nível neutro - que não restringe o crescimento econômico - já no início do próximo ano.

Embora a taxa neutra não seja um número exato, a maioria dos economistas a vê em algum lugar entre 2,0% e 2,5%, bem abaixo do nível atual de 3,25% do BCE.

(Por Sergio Goncalves, Leigh Thomas, Essi Lehto e Balazs Koranyi)

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