O CEO que catava papelão

Laércio Albuquerque, presidente da empresa de tecnologia Cisco, pegava papelão, bola de tênis e foi office-boy

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Carine Wallauer/UOL e Arte/UOL
Carine Wallauer/UOL

Educação e tecnologia

De catador de papel pelas ruas de São Paulo até a presidência da maior empresa de plataforma de conectividade do mundo, a Cisco. Laércio Albuquerque diz, em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, que não esperava chegar onde chegou e defende a importância da educação na transformação de vidas como a dele.

Ele conta como a tecnologia traz qualidade de vida, mas também leva o ser humano à dependência. Revela que a segurança cibernética é a principal preocupação das empresas e governantes e que o conceito 'home office' é coisa do passado. Afirma que, nos próximos três ou quatro anos, 90% dos brasileiros terão acesso à internet.

De catador a presidente de empresa

UOL - O senhor foi catador de papelão para ajudar no sustento. Quais são as suas dicas para uma carreira de sucesso?

Laércio Albuquerque - Fomos eu e meu irmão mais novo, os mais velhos também ajudavam. Meu pai tinha um bar. Vendia pão e leite de manhã e pinga à noite. Consegui depois um emprego de pegador de bolinha de tênis. Não precisava mais pegar papelão. Esses trabalhos nunca foram para ajudar meus pais em si. Eles nunca deixaram faltar nada, nem roupa, nem comida. Queríamos ajudar uns aos outros.

Eu e meus irmãos, somos quatro irmãos, quantas vezes ajudamos nossos pais no balcão. Fiz curso de datilografia e consegui fazer o colégio técnico. Virei office-boy em um banco e conseguia pagar o meu colégio. Um dia arrumei um estágio, chamei meu pai e minha mãe para contar que tinha arrumado um estágio na Duratex, uma empresa conceituada, com carteira assinada, e iria trabalhar na minha área.

Ele olhou para mim e falou: "Filho, eu não estou entendendo nada do que está falando, mas seu olho está brilhando, então vai, faz, e eu te prometo que não vai te faltar nem comida nem roupa lavada, siga o seu coração". Ao longo da jornada eu nunca imaginei chegar onde estou.

Dica número um: faça sempre muito bem feito aquilo para o que foi contratado para fazer. Seja o melhor. Faça a mais, e eu tenho certeza de que alguém vai olhar em algum momento e vai te trazer para outra posição. Eu passava madrugadas numa fábrica e, quando acabava meu trabalho, desenvolvia um monte de programinhas para ajudar. Um dia alguém olhou e me chamou para outro lugar.

O ponto número dois é a escada do sucesso: não fique pensando só no último degrau. Se tiver o pé firme em cada degrau da sua vida, vai chegar muito mais sólido ao final dessa escada. E terceiro ponto: 'quem aconselha a si mesmo tem um idiota como conselheiro'. Você não é o dono da verdade, não é o cara que sabe tudo e que não precisa de ninguém. Busque conselhos, eu sempre busquei com os mais velhos e mais experientes. Para toda decisão que vou tomando na minha vida, busco conselhos com gente da área, gente de fora da área.

Como usar a tecnologia para produzir impactos sociais relevantes?

A tecnologia deveria ser utilizada para trazer qualidade de vida ao cidadão. A mesma tecnologia que é usada por uma loja para poder identificar os clientes que estão chegando, que vitrine estão olhando, para que ponto da loja estão se deslocando, é a mesma que pode ser utilizada em uma estação de trem, de metrô ou em uma base de saúde. A tecnologia é a mesma, o foco é o mais importante.

Sou apaixonado pela educação. Nasci em uma cidadezinha no Mato Grosso do Sul chamada Batayporã, 15 mil habitantes. Meus pais não estudaram, mas eu tive oportunidade. Hoje sou presidente da maior empresa de plataforma de conectividade do mundo, mas não porque eu sou bom, mas porque tive oportunidade. O Brasil todo está repleto de talentos espalhados em todos os cantos, mas eles precisam de oportunidade.

Não é fácil levar todo mundo até uma sala de aula, mas com a tecnologia eu consigo levar educação para todo mundo. É muito difícil deslocar todo mundo para uma primeira consulta em um hospital, mas com a tecnologia eu consigo levar a primeira consulta a todo mundo. Hoje o Brasil não tem hospitais ou centros de estudos espalhados em cada canto do país, mas tem 75% da população com celular na mão. A tecnologia consegue levar educação, conteúdo, ensino, saúde.

Usada para o bem, a tecnologia deve ser só o meio, o ponto focal sempre deveria ser o ser humano.

O que o motiva para seguir em frente?

Um legado que possa ser deixado. Acredito que, ao dar oportunidade aos talentos espalhados no mundo inteiro, como eu tive, eles abraçam essa oportunidade como se fosse a única coisa da vida. E foi o que eu fiz. Adoraria, e essa é uma bandeira que carrego dentro do meu coração, poder fazer algo pela sociedade brasileira, de poder fazer algo para levar a inclusão social e poder tocar o ser humano e o cidadão brasileiro para ser um cidadão com uma qualidade de vida e com uma esperança muito maior no nosso futuro. Esse é o meu próximo passo, o desejo do coração pensando no amanhã.

Muita gente saiu do país desacreditando em sua recuperação. O que o senhor pensa sobre isso?

Sinto muito, eu não sou um deles. Quero ajudar e fazer com que meus filhos cresçam aprendendo a ajudar a transformar o nosso país. Não vou dizer que nunca vou estar fora, as condições de trabalho podem te levar para isso, mas nunca fugir do meu país. Aqui a gente fica, aqui a gente nasceu, aqui é a minha raiz, a minha planta, eu sou apaixonado pelo Brasil, sou apaixonado pela minha cidadezinha de Batayporã, no sul do Mato Grosso do Sul, onde tenho o cheiro da terra, da grama, do pasto e consigo lembrar de onde eu vim, que eu posso lembrar de como a minha mão foi tocada. Prefiro buscar a minha felicidade aqui no meu país.

Como o setor público pode se beneficiar do avanço da tecnologia?

Há dois pontos: um de planejamento e o outro prático. O primeiro é a conscientização de que tecnologia é fator de melhoria de qualidade de vida. Isto deveria ser plano de Estado, não plano de governo. Não é possível transformar a saúde, a educação e o transporte de um país do dia para noite, tendo que fazer tudo em quatro anos. É preciso um plano de governo a longo prazo e evolutivo. Este deveria ser o nosso pensamento como cidadãos, governantes e políticos.

Outro ponto mais prático, e eu, particularmente, a Cisco e a maioria do mercado privado de fornecimento de tecnologia acreditamos, são as PPPs. As parcerias público-privadas são a saída para o desenvolvimento mais ágil. Nós temos casos, aqui no Brasil mesmo, de levar iluminação inteligente para uma cidade inteira, como em Belo Horizonte.

Se o aluno consegue estar em sala de aula conectado com o mundo e com tudo o que acontece, esse aluno vai estar preparado para os desafios deste século. Mas ter orçamento para isso, para sair gastando com tecnologia, é a parte mais difícil.

As PPPs acabam sendo a saída no mundo inteiro, onde se consegue unir a necessidade do cidadão, o governo, e uma possibilidade de negócio para as empresas que querem investir.

Quando juntamos essas duas coisas, é uma forma prática de evoluir com as famosas cidades inteligentes ou cidades conectadas, como um plano de governo.

Quando conectamos a cidade, podemos conectar a saúde, o transporte, o trânsito, a educação. Não é um aplicativo que faz a diferença na vida do cidadão, mas é um planejamento desde a base, construído e desenhado com foco no cidadão de hoje e do cidadão dos próximos 50 anos.

É muito difícil planejar a longo prazo no Brasil?

Difícil é, mas não só no Brasil. Acredito que é mais difícil planejar a longo prazo por conta da revolução tecnológica do que pelo próprio país. Planejar a longo prazo significa previsões em cima do que achamos ou acreditamos. Mas o que mais afeta hoje não é nem a questão do país, mas sim da revolução tecnológica. Será que o que estou planejando e criando hoje é o que o mercado vai precisar daqui a dois, três anos? Esse é um ponto mais importante do que a realidade do país, seja qualquer país. A revolução tecnológica tem que estar muito mais a altura do que planejamos para o futuro do que o próprio país.

Mesmo com os altos e baixos da economia e da política?

Estamos bons nisso. Aprendemos a lidar com o inesperado, o imprevisível.

'Não sou bom, tive oportunidade'; país precisa de educação

Escravos da tecnologia por preguiça

UOL - O homem será escravo da tecnologia, como acontece em alguns filmes de ficção científica?

Laércio Albuquerque - Feliz ou infelizmente, a resposta é sim. Haverá um domínio muito grande [da tecnologia] porque o próprio ser humano, da forma como ele é, acaba se deixando levar pela inteligência artificial. Coisas simples que não percebemos. Quantas vezes você entra no carro e, para andar duas quadras da sua casa, aciona o Waze [guia digital de ruas]? As pessoas deixam para a inteligência artificial a decisão de 'como eu chego lá'. Não quero mais pensar, quero que alguém me diga.

O big data [cruzamento de todos os dados disponíveis] é uma realidade entre um benefício extremo e o temor extremo. Por exemplo: seu corpo poderá estar 100% conectado --seu sangue, o seu DNA, o seu batimento cardíaco, as suas células. Isso já acontece em níveis pequenos, mas vai acontecer em uma escala maior. É fantástico, mas, ao mesmo tempo, há a possibilidade de estar sempre doente porque vai descobrir coisas que não estava nem preparado para isso.

Mas ainda é preciso entender que o abraço do seu filho, da sua esposa, do seu familiar nunca será automatizado. Cada vez mais devemos ter consciência e não esquecer que somos humanos, e o calor humano é o mais importante na vida de qualquer um. Mas o domínio da máquina vai acontecer porque inconscientemente queremos que ele aconteça.

Como será a Internet das Coisas daqui a dez anos?

A Internet das Coisas é o novo ponto de mutação. A nova realidade do futuro que vai transformar tudo. Hoje 70% das empresas do Brasil já têm alguma coisa da internet das coisas implementada, mas muito voltado para a produtividade e eficiência operacional. Ainda não tanto no contato com o cliente final ou com o cidadão. Isso vai ampliar absurdamente.

Quando falamos em 50 bilhões de devices [aparelhos] conectados no mundo, haverá uma velocidade no processamento que nunca se viu antes. O Plano Nacional de IoT [internet das coisas, na sigla em inglês] do governo federal é extremamente positivo para o país, alavancando investimentos, desburocratizando, seja na saúde, na agricultura, na manufatura ou em cidades inteligentes.

Na indústria 4.0, a IoT trará a realidade do chão de fábrica para a mão do gestor. Haverá total controle do chão de fábrica, das máquinas, da prevenção. É uma revolução.

Quando eu vou para a indústria da saúde, já temos hospitais cujas macas estão conectadas com a porta, com todo o deslocamento de médicos. Isso já existe hoje.

Nos próximos três ou quatro anos, haverá uma revolução muito grande. Falamos atualmente em 73% de cidadãos que têm acesso à internet. Nos próximos quatro anos, passará dos 90%.

Em quanto tempo essa revolução chega ao Brasil?

Nos próximos quatro anos, teremos mais dados trafegados na internet do que os últimos 32 anos da história da internet. E o Brasil está totalmente inserido nessa realidade. O Brasil é um país 'early adopter', um país que adota rapidamente tecnologias que acontecem no mundo inteiro. Mais do que isso, o brasileiro é criativo, as empresas são criativas e desenvolvedoras, são geniais no desenvolvimento e exportação de tecnologia.

O que impede nossos governantes de pensarem e estruturarem a conectividade das cidades?

Não é muito diferente do que aconteceu no próprio mercado privado. Houve um tempo em que havia projetos de transformação digital. Isso foi subindo na escala de prioridade dentro das empresas. Atualmente não existe mais um projeto de transformação digital porque tudo é digital.

Acredito que no sistema público tem acontecido isso também. A transformação digital tem subido no ranking até chegar ao ponto em que tudo seja digital. É uma evolução natural. Não acredito que exista uma estagnação. Há poucas coisas feitas, mas haverá cada vez mais. É uma questão de prioridades, de acordo com os municípios, os estados e o próprio governo federal.

Ligamos Waze para ir à padaria

Home office já era; o negócio é any where office

UOL - Como vê o futuro?

Laércio Albuquerque - Estamos caminhando para 50 bilhões de devices [aparelhos] e precisamos de uma plataforma de conectividade completamente diferente, ágil, robusta, automática e segura. A inteligência artificial embutida na plataforma conectará tudo a todos e com nível de segurança muito maior do que já existiu em qualquer outra época da nossa vida.

Cinquenta bilhões de devices conectados são 50 bilhões de brechas de segurança. O interruptor de luz que está conectado é uma brecha de segurança. A grande inovação que a Cisco está desenvolvendo é trazer segurança para dentro de todas as suas soluções. Estar com um controle de segurança do gerenciamento do futuro é mudar completamente a maneira como os colaboradores interagem e se comunicam entre si.

A Cisco está evoluindo em soluções para que um funcionário aqui no Brasil possa conversar com o gerente na Ásia com o mesmo nível de agilidade que a era digital exige lá fora.

O termo home office é coisa do passado. O termo do futuro é o 'any where office', é o escritório em qualquer lugar onde a pessoa estiver. O estresse do ser humano ao chegar atrasado para uma reunião porque choveu a noite inteira precisa acabar. Ele fica nervoso desde o dia anterior. Precisamos estar com o escritório na palma da mão.

Eu saio de casa, deixo meus filhos na escola. Se há trânsito, tudo bem. Tiro o meu celular e me comunico como se eu estivesse em qualquer outro lugar. Essa plataforma de colaboração do futuro é um investimento enorme que a Cisco faz, colocando também inteligência artificial, reconhecimento de face, histórico da pessoa, trazendo tudo isso mais para o bem-estar do colaborador.

Os escritórios deixarão de existir?

Acho que existirá uma otimização de recursos para diminuir as despesas dos locais físicos. Mas, se olharmos o escritório da Cisco hoje, ele é cheio, muito mais do que sempre foi, porque as pessoas querem estar conectadas. Você cria no seu escritório a celebração, torna o ambiente gostoso de trabalhar. Quando faz isso, o escritório enche de gente, porque não há o estresse de estar presente todos os dias. O comportamento humano é um negócio incrível, gente precisa de gente. Se tiramos o estresse, as pessoas querem estar juntas.

O que é a "fog computing"?

A paciência do consumidor digital é de 1,8 segundo. Na era da internet das coisas, esse 1,8 segundo é muito longo. Isso precisa ser muito mais rápido. O processamento precisa acontecer onde o dado está sendo gerado. Se eu tenho uma plataforma de petróleo com milhões de dados sendo captados por milhares de sensores, esses dados são transferidos para a nuvem. Isso pode demorar horas para ter os resultados. O que está acontecendo naquela plataforma precisa ser processado, informado e dado o resultado no momento. Chamamos isso de "fog computing" ou "hedge computing", que é o processamento na borda.

Por exemplo, há câmeras de segurança verificando tudo o que está acontecendo dentro de um supermercado. As câmeras podem ser inteligentes o suficiente para fazer o processamento dos dados, identificar qualquer ato que seja fora do padrão normal e dar o resultado na palma da mão de um gestor.

O processamento precisa ser na hora. Não posso depender de uma conectividade. Se ela tiver um problema, complico todo o meu processamento. Imagina um hospital ou em lugares onde o processamento precisa ser infalível. Não podemos ter 99% de disponibilidade, é preciso 100% porque são decisões de alto risco.

Quais são as cidades mais conectadas do mundo?

Barcelona [Espanha] é uma cidade altamente conectada. O trem e os ônibus estão conectados. Toda a parte de resíduos também. Uma vez que a cidade é conectada, ela atrai investimento. Cria-se uma plataforma na qual os dados armazenados podem ser usados para as empresas desenvolverem aplicativos.

Por exemplo, em saúde, há um programa em que o idoso carrega um colarzinho de IoT. Se acontece alguma coisa, uma queda ou algo assim, há uma central que é informada automaticamente sobre isso. Os semáforos são conectados com os ônibus. Mas isso levou quase 15 anos.

Todo o porto de Roterdã [Holanda] é conectado. O gerenciamento todo está dentro de uma sala com ar-condicionado. Não existem mais pessoas correndo risco no meio dos contêineres.

A cidade conectada leva tempo. Devemos definir o que é mais importante conectar no momento. Posso fazer a conectividade só do transporte, depois do gerenciamento de lixo, dos semáforos. Precisa ser aos poucos, conforme a importância para a cidade.

Qual vai ser o emprego do futuro?

Vencer a era digital é uma obrigação de sobrevivência. No futuro, muitos empregos serão gerados, milhões de empregos serão eliminados. Mas neste momento não se trata tanto se vamos ter emprego ou não, mas se vamos ser capazes de vencer e posicionar o país como vencedor na era digital, com a inclusão da sociedade.

Existem centenas de milhares de vagas abertas que não são preenchidas porque não há pessoas preparadas em educação digital. Estar conectado com o digital é, sem dúvida alguma, uma necessidade grande.

No Brasil, existe uma necessidade urgente de preparação da sociedade com algo conectado com o digital, seja desenvolvimento, aplicações, conectividade ou rede. O emprego do futuro é algo conectado com tecnologia. Tanto o governo quanto a iniciativa privada precisam se dedicar a preparar a nossa sociedade para esse futuro digital que já está batendo à nossa porta.

Fim do estresse no trânsito

A Cisco é assim:

  • Fundação

    1984 (mundo), 1994 (Brasil)

  • Funcionários

    74 mil (mundo), 600 (Brasil)

  • Clientes

    2.000 (Brasil)

  • Unidades

    3 (SP, RJ e DF) e 1 centro tecnológico (RJ)

  • Faturamento 2018

    US$ 50 bilhões (global)

  • Lucro 2018

    US$ 13,7 bilhões (global)

  • Concorrentes

    HPE, Dell e Huawei

Hackers tentam invadir o tempo todo

UOL - É confiável navegar pela internet no Brasil?

Laércio Albuquerque - Os hackers têm uma habilidade incrível de estar o tempo todo atacando e buscando brechas em todos os lugares. O mundo privado sofre ataques tanto quanto o mundo público. Se eu pego o exemplo das Olimpíadas, houve mais de 300 milhões de alertas de segurança e de tentativa de derrubada [da rede] em algum momento do evento. Isso não aconteceu.

Caldeiras já explodiram porque um hacker conseguiu entrar no sistema. Ou um carro parou ou travou as portas por causa de um ataque de hacker. Segurança cibernética é o ponto número um de preocupação ou de desespero de qualquer governante ou de qualquer gestor de qualquer companhia.

Mas não adianta fugir do futuro por conta do medo da segurança. Governo e empresas devem ser capazes de se abrir para o mundo digital de forma segura.

A segurança é onde a Cisco mais investe nesse momento, para fornecer as plataformas que sejam completamente seguras. Segurança não é só proteger para que nunca aconteça. É a capacidade de ser ágil o suficiente para ser alertado e reagir no momento em que tenha algum problema acontecendo.

Nossa empresa tem uma central mundial de controle de segurança cibernética, chamada de Talos, que virou um centro de informações para governos e empresas no mundo inteiro. Como ela, é possível ver o tráfego de dados em todo o mundo, com privacidade. Sem tocar em nenhum dado, ela consegue identificar, por inteligência artificial, padrões de desvios acontecendo em algum lugar do mundo.

Não há o que decidir sobre investir ou não em segurança.

Quando falamos de tecnologia, como funciona a questão ética?

Eu diria que é o grande tema do futuro. As grandes potências passam a ser os detentores dos dados em detrimento daqueles que não possuem dados. A distribuição de classes pode ficar ainda muito pior no amanhã por conta de quem são os donos desses dados.

Mas deveria ser uma grande preocupação de todos os governantes do mundo inteiro porque existem questões dentro do país e existem questões do mundo globalizado, onde o digital uniu os oceanos e destruiu todas as fronteiras entre países. Há decisões que são globais porque os dados enviados à nuvem estão em algum lugar do mundo. É uma preocupação que com certeza está na cabeça de todos, mas não sei se há uma resposta sobre como se resolver.

Como a Cisco lida com essa questão?

A Cisco preza demais por isso, tanto no Brasil com a Lei Geral de Proteção de Dados, aprovada no ano passado, ou o GPDR [Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados] na Europa.

A empresa foi uma das primeiras a apoiar as leis porque sempre trabalhou pautada na transparência e na privacidade dos dados. Imagine que 80% dos dados passam por alguma solução Cisco. Somos capazes de detectar se um código é malicioso ou não dentro da rede sem precisar abrir o dado. Fazemos por inteligência artificial.

Prezamos tanto a qualidade de segurança da informação como a governança, a transparência e o nível altíssimo de confiança. No mundo digital, isso é o mais importante porque as empresas colocam seus dados nas mãos de quem confiam.

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