A Talent, parte da rede Publicis Worldwide há cinco anos e uma das maiores agências de publicidade do país, anunciou neste mês um movimento de co-branding com a agência francesa Marcel. Não é uma fusão e, sim, uma associação das forças de cada uma das marcas. O objetivo é trazer para o Brasil um conceito de quebra de barreiras entre ações online e offline, batizado pela Talent Marcel de “noline”.
Para José Eustachio, ex-CEO e agora chairman da agência, “a soma das competências da Talent e da Marcel resulta em uma agência preparada para prover inteligência e criatividade para qualquer comunidade. Existe um processo de seleção natural em que as agências que irão prevalecer serão aquelas que não pensam em campanhas, mas em ideias, que podem ou não ser traduzidas em campanhas.”
E é nesta linha que vai João Livi. Ele deixou os cargos de CCO e COO para assumir o de CEO, e explica o foco do conceito “noline”, que é em ideias, em soluções, na conexão com as pessoas: “As mídias podem mudar hábitos e maneiras de existir socialmente, mas não criaram nenhuma das necessidades elementares do ser humano. Ajude as pessoas a viver e resolver conflitos e você será sempre contemporâneo”.
Os dados divulgados pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), em maio deste ano mostraram que 43% da população mundial já tem acesso à internet e que é o acesso móvel o grande responsável por acelerar o crescimento do número de pessoas conectadas.
Na edição de 2015 da CES, maior feira de tecnologia do mundo, uma fala do economista-chefe e diretor de pesquisa da Associação de Consumidores de Eletrônicos dos Estados Unidos, Shawn DuBravac, chamou a atenção. Ele falava sobre estarmos entrando numa espécie de terceira fase da internet: “Nós estamos levando a internet a novos lugares, ao seu punho. Não é mais só a distribuição e disseminação de informação. O modo como usamos a internet vai mudar. Estamos levando a internet de dois bilhões de smartphones para 50 bilhões de objetos”, disse.
A fala de DuBravac e os números da UIT mostram que já não é apenas uma sensação, mas uma tendência consolidada: o aumento da conexão e da mobilidade são fenômenos que caminham juntos, dissolvendo cada vez mais rapidamente as barreiras entre vida online e offline.
Alguns trechos do manifesto da Talent Marcel exemplificam justamente este novo momento: “Estamos lidando com uma nova espécie. [...] O que mexe com essa nova pessoa, então? Ideias. [...] No mais, é preciso esquecer a divisão. O novo ser humano não é online ou offline. Ele é ‘noline’”.
Em meio a um “moto-contínuo” de avanços tecnológicos, pode soar quase paradoxal dizer que o foco agora retorna às pessoas. Mas talvez seja este o grande benefício de viver esta era na qual os números e os analistas apontam que estamos entrando, a era “noline”, da “internet das coisas”: entender que tudo o que a humanidade criou até hoje só faz sentido se puder servir àquilo que está no cerne da condição humana, nossas reais necessidades.