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Depois da Lava Jato, construção civil perde 250 mil empregos em cinco meses

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

26/03/2015 06h00

Depois da operação Lava Jato, que investiga escândalo de corrupção envolvendo Petrobras, políticos e empreiteiras, o setor da construção civil registrou um saldo negativo de 250 mil empregos formais nos últimos cinco meses (de outubro a fevereiro). Os dados são do Caged (cadastro de empregados com carteira assinada, do Ministério do Trabalho)

Para as federações de trabalhadores, a redução é um reflexo direto da crise na Petrobras -a mesma opinião do ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias. Já para os empresários, a queda se deve à falta de investimentos e atraso de pagamentos do governo.

De acordo com o Caged, o estoque de empregos com carteira assinada na construção foi reduzido em 10% nos últimos meses, o maior índice entre todos os setores destacados.

A primeira fase da Lava Jato ocorreu em março de 2014, mas as delações premiadas começaram a vazar durante setembro/outubro.

Segundo federação, Petrobras tem contrato com 70% do setor

Para o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada, Vilmar Santos, "a Lava Jato é disparado o maior problema" das demissões. "[Porque] 70% do setor tem contrato com a Petrobras. Na prática, estamos vivendo uma crise institucional e da engenharia nacional, sem perspectiva a médio prazo”, diz.

Santos afirma que, para o trabalhador, a mudança pode ser sentida na falta de recolocação no mercado após a finalização de uma obra.

“Há quatro anos, o trabalhador saia da obra de Santo Antônio e ia para Girau, depois ia para São Domingo, depois Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro]. Ou seja, a rotatividade era alta, mas havia onde se recolocar. Hoje não tem. E o que é pior: em muitos casos, as obras da Petrobras param e sequer as empresas estão pagando as rescisões contratuais”, disse.

Opinião parecida tem o presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira, Cláudio Gomes. “Praticamente todos os grandes contratantes eram das obras da refinaria, e essas obras pararam ou entraram num ritmo de desaceleração”, disse.

Na prática, Gomes afirma que o maior prejuízo ocorreu porque a Petrobras suspendeu o pagamento de aditivos (acréscimos aos contratos). Segundo ele, a obra era licitada e, à medida em que recebiam esses acréscimos, as empresas usavam o dinheiro. Como houve suspensão de todos os acréscimos, as empresas deixaram de pagar os trabalhadores.

O sindicalista acredita que o único setor não afetado foi o imobiliário. “O que ameniza são obras habitacionais. O governo não fez contingenciamento [cortes] nesses recursos."