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Mesmo com ganhos baixos, veja 4 utilidades da poupança

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

07/02/2013 06h00

Descomplicada, livre de impostos e com rendimento garantido pelo governo, a poupança historicamente tem sido a primeira e, em muitos casos, a única aplicação financeira de milhões de brasileiros.

Ainda hoje é o produto mais procurado por muitos: em janeiro, o dinheiro guardado nessa aplicação superou a marca histórica dos R$ 500 bilhões.

Mas novas regras para o cálculo dos ganhos devem forçar uma mudança dessa história. A norma antiga (0,5% ao mês mais a TR, a Taxa Referencial) foi abandonada por uma nova: depósitos feitos a partir de 3 de maio de 2012 devem render a TR (perto de zero, atualmente) mais o equivalente a 70% da taxa básica. Nos patamares atuais, esse rendimento é equivalente a 5,08% ao ano, abaixo da inflação prevista para 2013 (entre 5,5% e 5,8%).

 

“Com a inflação nesses níveis, a poupança deixou de ser um investimento e passou a ser apenas uma forma de guardar dinheiro”, diz o planejador financeiro Rogério Nakata.

Mas especialistas ainda apontam pelo menos quatro circunstâncias em que o depósito na poupança continua defensável. As alternativas têm potencial de melhores ganhos, mas esbarram em questões como altos impostos ou riscos maiores.

1) Projetos de curtíssimo prazo: um investidor aproveita uma oportunidade para vender o carro por um bom preço, pensando em dar entrada na casa própria. Ainda sem um imóvel à vista, a pesquisa deve levar alguns meses. Onde ele pode deixar o dinheiro?

“Para um objetivo de consumo abaixo de 12 meses, a poupança sem dúvida é a melhor alternativa. Acima desse prazo, eu concordo, existem alternativas melhores”, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos, da consultoria DSOP.

“A poupança não tem imposto, tem liquidez diária [o dinheiro pode ser sacado a qualquer momento] e é a alternativa mais simples. Se ele estiver poupando para comprar uma televisão em 12 meses e, no meio do caminho, acha uma boa promoção? O que ele deve fazer? Sacar o dinheiro na hora. E a poupança é a aplicação com menor custo para esse resgate”, diz.

Uma alternativa possível é o fundo de renda fixa, desde que a taxa de administração cobrada pelo banco seja (bem) inferior a 1%. O problema de aplicações de curto prazo é o Imposto de Renda. O impacto é de 22,5% para depósitos de prazo abaixo de seis meses.

O Tesouro Direto (que também sofre com um IR alto) pode ser a opção. Se no início do ano passado esse investidor tivesse aplicado R$ 10 mil em uma NTN-B (rende inflação mais juros fixados no momento da compra), poderia ter sacado o valor de R$ 10.391 no final de três meses, já descontado IR e  demais taxas (ganho mensal de 1,2%).

A simulação foi feita com um título a vencer em 2015 e taxa de 0,5% cobrada pelo banco. A planejadora financeira Rita Mundim defende o Tesouro Direto. Ela diz que a instabilidade de valores dos títulos está menor. E afirma que, com inflação mais alta, a poupança pode perder.

2) Reserva de emergência: dez entre dez especialistas aconselham que uma pessoa guarde um valor equivalente a seis meses de suas despesas mensais contra imprevistos.

Em tempos de juros mais baixos, a poupança ainda é a opção para essa reserva de emergência? Reinaldo Domingos, da consultoria DSOP, diz que sim.

“Eu defendo que nós temos que simplificar. Outras aplicações têm ressalvas, a pessoa precisa aprender as características do produto, mas a poupança é descomplicada e vai evitar que o dinheiro perca valor com a inflação”, afirma.

Alguns especialistas citam o título do Tesouro Direto denominado LFT como uma possível alternativa para reserva de emergência. O título rende a taxa básica de juros do país, a Selic.

A diferença da LFT em relação aos demais papéis do Tesouro é que a variação dos preços no dia a dia é mais suave, quase comparável à poupança. Considerando o mesmo exemplo do item anterior –os primeiros três meses de 2012, o vencimento do título em 2015-- um investidor poderia sacar pouco mais de R$ 10.122 nesse período (já descontado o IR e os encargos, com rendimento mensal de 0,4%).

3) Educação financeira: especialistas apontam a poupança como a porta de entrada para muitos investidores iniciantes. Ele somente deve ter o cuidado de não sacar o dinheiro antes do “aniversário” da aplicação, isto é, a data em que o rendimento do recurso é depositado na conta.

Fundos de investimentos e CDBs têm uma aplicação igualmente descomplicada e rendimento potencialmente melhor. O poupador precisa ficar atento, no entanto, às taxas de administração (no caso dos fundos) e ao rendimento combinado (no caso dos CDBs).

Fundos DI que cobram taxas acima de 1%, e CDBs que rendem menos de 95% do CDI (juro de mercado, que segue de perto a taxa básica de juros) não são vantajosos.

4) Iniciação das crianças em aplicações financeiras: “A caderneta pode ser uma forma de ensinar a criança a tomar algum cuidado com o dinheiro, uma forma de ela aprender que aquele recurso é finito. Muitas pessoas não tiveram nenhum tipo de educação financeira e depois cometem absurdos financeiros”, diz o planejador financeiro Rogério Nakata.