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Japão aos poucos abre portas a empregadas das Filipinas

Isabel Reynolds e Norman P. Aquino

06/01/2017 13h48

(Bloomberg) -- Em um apartamento de estilo japonês, María Del Bago aprende a se curvar corretamente, a limpar pisos de tatame tradicionais e a decifrar as instruções de um vaso sanitário high-tech.

Mas ela não está em Tóquio. Ela está a 3.000 quilômetros de distância, em Manila.

Bago, 37 anos, que é formada em Ciência da Computação e trabalhou anteriormente como empregada doméstica para uma família árabe, é uma das 26 faxineiras experientes selecionadas pela Pasona Group para passar por mais de 400 horas de treinamento profissional e de idioma na capital das Filipinas. Elas devem começar a trabalhar no Japão no segundo trimestre.

"Gostaria de pensar que aprendo com mais rapidez", disse Bago. "Também confio em que o treinamento que estou recebendo possibilitará que eu me adeque mais facilmente e não sofra choques culturais."

O programa é o mais recente passo para abrir o Japão a mais estrangeiros, porque o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe busca formas de combater a redução da mão de obra que ameaça paralisar a terceira maior economia do planeta. No entanto, como a maioria dos japoneses se opõe a um influxo massivo em uma sociedade extremamente homogênea, o governo e as empresas envolvidas adotaram um processo de admissão exigente.

'Passo à frente'

"É inadequada", disse Robert Feldman, economista-chefe da Morgan Stanley MUFG Securities em Tóquio, sobre a política referente às empregadas domésticas. "No entanto, o fato de que estejam fazendo tudo isso representa um progresso. Considerando o que está acontecendo no restante do mercado de trabalho, é pelo menos um passo à frente."

A admissão de faxineiras estrangeiras - primeiro para Kanagawa e Osaka e mais tarde para Tóquio - visa a tornar os serviços de empregadas domésticas acessíveis para a classe média e a levar mais mulheres japonesas para a força de trabalho.

Essas mulheres são necessárias para lutar contra uma tendência atual que poderia levar a força de trabalho de cerca de 65 milhões a um declínio de mais de 40% por volta de 2060, de acordo com uma projeção do governo.

Heizo Takenaka, ex-ministro da Economia que hoje atua em um painel do governo sobre zonas econômicas especiais e como presidente do conselho/diretor da Pasona, considera que o programa de empregadas domésticas é a primeira tentativa séria do Japão de atrair os trabalhadores necessários para colocar a economia nos trilhos.

Embora as pessoas que se opõem à imigração temam o aumento da criminalidade caso as normas sejam relaxadas, ele citou Cingapura como um exemplo de país com muitos estrangeiros e baixa taxa de criminalidade.

"Isso não vai mudar as coisas drasticamente", disse Takenaka em relação ao programa de faxineiras. "Trata-se de uma forma muito japonesa de fazer as coisas. Não poderíamos permitir que entrem em ondas como se faz em Hong Kong."