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Comerciantes galeses se "rebelam" para pagar impostos em paraísos fiscais

28/11/2015 06h02

Guillermo Ximenis.

Londres, 28 nov (EFE).- Os comerciantes do pequeno povoado de Crickhowell, no País de Gales, tramaram uma rebelião para imitar controvertidas táticas contábeis de multinacionais e deixar de pagar impostos no Reino Unido para começar a fazê-lo em paraísos fiscais.

Eles pretendem explorar uma brecha legal semelhante à que permitiu à Amazon pagar no ano passado 11,9 milhões de libras (R$ 67,44 milhões) em impostos no Reino Unido, apesar de ter registrado vendas de compradores britânicos que somaram 5,3 bilhões de libras através de sua filial em Luxemburgo.

Cansados do que consideram uma ofensa a seus negócios, o grupo de comerciantes, incluindo os donos da cafeteria local, da livraria, da ótica e da padaria da cidade, advertiram a Receita britânica de que pensam em se aproveitar desses mesmos mecanismos de engenharia fiscal.

"Ficamos chocados quando descobrimos que o lucro gerado pelas pessoas que trabalham duro em muitas grandes redes do Reino Unido não são declarados aqui", disse a dona do defumadeiro de salmão local, Jo Carthew, à "BBC", que está rodando um documentário sobre a aventura empreendida pelos comerciantes deste povoado de apenas dois mil habitantes.

"Nós queremos pagar impostos, porque utilizamos as escolas e os hospitais, mas queremos que a lei mude, que todo mundo pague o que é justo", ressaltou Carthew.

Grande parte dos empresários da cidade se uniu para criar um plano contábil que tire partido de acordos extraterritoriais para declarar seus lucros em países com legislações tributárias mais suaves.

A irritação dos comerciantes galeses se tornou pública após meses de polêmica no Reino Unido pelas práticas financeiras de companhias como o Facebook, que deixou apenas 4.327 libras (cerca de R$ 25 mil) aos cofres britânicas em 2014 por impostos de sociedades - menos do que pagou um trabalhador médio no Reino Unido (5.393 libras) - embora tenha faturado cerca de 100 milhões de libras no ano.

As multinacionais exploram métodos contábeis perfeitamente legais, mas contra os quais o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, já anunciou medidas.

Segundo os números publicados em outubro pelo governo do Reino Unido, a brecha entre os impostos que o Estado arrecada e os que deveria arrecadar se se ativesse estritamente aos lucros das empresas passou no último ano fiscal de 34 bilhões de libras (R$ 193 bilhões).

Os comerciantes de Crickhowell discutem seu plano como uma medida para pressionar o Executivo a tomar medidas mais agressivas contra as grandes companhias, e ameaçam divulgar os detalhes de seu método financeiro para que outros grupos de empresários possam evitar também evitar pagar impostos no Reino Unido.

"Se não agirem, isto pode se estender a outras cidades. Tudo o que propusemos é legal", declarou Carthew.

"Até agora, estes truques complexos para utilizar paraísos fiscais só estavam ao alcance de multinacionais, que podem se permitir pagar as custas dos advogados. Mas nos unimos e encontramos um modo de imitar aqueles que burlam os impostos. É um plano muito inteligente", explicou a dona do defumadeiro de Crickhowell.

Os comerciantes já avisaram às autoridades fiscais britânicas sobre os seus planos, que emitiram um comunicado para lidar com a situação.

A Receita do Reino Unido "faz cumprir as leis tributários com justiça em todas partes, sem importar o tamanho ou a estrutura de cada empresa", afirmou o órgão.

"Sempre estamos dispostos a aconselhar e apoiar os contribuintes que querem cumprir as normas. O governo defende claramente que as multinacionais devem pagar sua parte equitativa em impostos, por isso aprovou novas leis para evitar que desviem seus lucros", ressaltaram as autoridades fiscais britânicas.